Artigo - Morrer pobre não é opção: é uma imposição!

Nas últimas décadas, ao mesmo tempo em que as pessoas são premeditadamente incentivadas a se tornarem mais individualistas, a tratar seu semelhante como concorrente (principalmente no mundo do trabalho e dos negócios), surgem incontáveis livros de autoajuda que prometem mudar a vida de cada leitor, manuais de prosperidade e receitas para o sucesso. Tudo com um bem planejado marketing, que leva milhões de pessoas a se distanciarem de valores essenciais à vida em sociedade – tais como solidariedade, respeito à diversidade, justiça social e justiça econômica.

A quem interessa que vivamos em uma sociedade (?) que não valoriza e não cuida das pessoas? A quem interessa que vivamos em uma sociedade (?) onde as pessoas valem pela quantidade de bens materiais que têm, e não pelo que são? A quem interessa que vivamos em uma sociedade (?) que aliena as pessoas e determina o que pensar, o que falar, o que comprar? A quem interessa que vivamos em uma sociedade (?) onde não existam regras e leis que protejam as relações sociais dignas e construtivas? A resposta a essas perguntas é uma só: a uma elite econômica que usa as frustrações dos indivíduos, para continuar a enriquecer com a exploração do seu semelhante e com a ausência de leis.

É interessante pararmos e pensarmos como, em momentos de falta de esperança, necessidades não atendidas, acúmulo de frustrações ao longo da vida, acúmulo de dívidas, doenças e ansiedade materialista, surgem um sem número de mercadores da fé, prometendo milagres diretamente proporcionais ao tamanho da contribuição dos fiéis.

Outro ponto que merece uma análise mais detalhada é o surgimento de coachs, influenciadores digitais que se enriquecem com cursos, palestras, vídeos e mensagens motivacionais, que usam os momentos difíceis das pessoas para convencê-las que uma vida melhor só depende delas. Mentira. Falta trabalho digno para milhões de brasileiros, falta salário digno para a maioria dos trabalhadores, falta infraestrutura nas áreas de saúde, educação, moradia, transporte etc. Esta realidade não muda enquanto não nos dermos conta que dependemos uns dos outros, para que a justiça social e a justiça econômica se tornem objetivos prioritários da sociedade e de seus governantes.

A questão central é a de que, até quando as pessoas continuarão a acreditar e votar em candidatos que não se importam com a vida daqueles menos favorecidos, apesar de fazerem discursos que prometem um futuro melhor? Não merece o voto nenhum

candidato que não conheça a realidade dos pobres, as suas necessidades, as suas expectativas e seus potenciais.

Aliás, é impensável que o eleitor da cidade de São Paulo não reflita sobre a importância de votar em quem tem compromisso com o povo; vejam os vereadores aprovando a privatização da Sabesp, atacando o Padre Júlio Lancelotti, fechando os olhos para a violência policial na periferia… Vejam o povo elegendo um governador e vários deputados que, nem sequer, moravam em nosso Estado. Chega de aventureiros de extrema-direita e de políticos fisiológicos, movidos a emendas parlamentares polpudas, que se escondem atrás de uma pauta dita conservadora.

É estarrecedor que, com todos os crimes cometidos pelos bolsonaristas, ainda haja espaço em partido político e nos meios de comunicação para um pré-candidato que afirma que morrer pobre é opção de cada um.

Morrer pobre não é uma opção, é uma imposição de um sistema capitalista, que se baseia na acumulação de renda a partir da exploração da mão de obra e da captura do Estado, onde somente se votam leis e projetos que interessam à elite econômica do país, que, via de regra, deixa os interesses coletivos e as prioridades sociais em segundo plano.


Eduardo Annunciato - Chicão
Presidente da Federação Nacional dos Trabalhadores em Energia, Água e Meio Ambiente – FENATEMA e do Sindicato dos Eletricitários de São Paulo – STIEESP

 

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