Artigo - É urgente reduzir a desigualdade no Brasil e no mundo

Relatório da Oxfam aponta elevação desmedida da fortuna dos super-ricos enquanto a maioria da população empobrece. Estado deve ser revitalizado para prover serviços essenciais e promover medidas que assegurem equidade.

 

“A riqueza dos cinco homens mais ricos do mundo aumentou 114% desde 2020, enquanto a de 5 bilhões de pessoas diminuiu no mesmo período.” A constatação chocante, embora não surpreendente, está no relatório “Desigualdade S.A.”, produzido pela organização independente Oxfam. Conforme o estudo, caso não haja mudanças que promovam a distribuição, já nos próximos dez anos poderá surgir o primeiro trilionário global, mas a pobreza não será vencida antes de 229 anos.

O trabalho, publicado nesta segunda-feira (15/1), também aponta as gritantes disparidades nacionais. “Quatro dos cinco bilionários brasileiros mais ricos aumentaram em 51% sua riqueza desde 2020; ao mesmo tempo, 129 milhões ficaram mais pobres”, destaca. O documento chama a atenção para a tragédia da injustiça racial: o rendimento das pessoas brancas é mais de 70% superior ao de pessoas negras no País.

Tais dados assustadores e vergonhosos devem entrar na pauta dos debates em Davos, na Suíça, onde acontece até dia 19 o Fórum Econômico Mundial, reunindo lideranças políticas e a elite empresarial, estrato que também figura no relatório. Segundo este, sete das dez maiores corporações do mundo têm um bilionário como CEO ou principal acionista. Tais companhias valem US$ 10,2 trilhões, superando o Produto Interno Bruto (PIB) de todos os países da África e da América Latina.

Ou seja, o já grave e histórico abismo social só cresce, com bilhões de pessoas vivendo em estado de penúria e outros tantos sem perspectiva de construir um futuro melhor para si e seus filhos. Pelo resultado produzido, é como se a economia e as estruturas institucionais existissem com a única finalidade de tornar ainda mais abastados os super-ricos, enquanto a imensa maioria e o meio ambiente padecem numa trajetória rumo a uma catástrofe socioambiental irreversível.

É inadmissível que a humanidade siga nesse rumo cruel e sem sentido. Entre as propostas para alterá-lo, a Oxfam elenca ideias bastante pertinentes, como a revitalização do Estado para que este seja capaz de prover serviços essenciais e exercer controle do poder corporativo, legislando inclusive sobre salários dignos e taxando a extrema riqueza e lucros excessivos. Segundo cálculos da organização, um imposto dessa natureza no mundo poderia gerar receita de US$ 1,8 trilhão por ano.

Como meta geral, a organização defende a proposta do economista Joseph Stiglitz, ganhador do Prêmio Nobel, de que cada país reduza sua desigualdade de forma que os 40% mais pobres da população tenham aproximadamente a mesma renda dos 10% mais ricos, buscando o conhecido índice de Palma 1. Para se ter uma ideia da distância a percorrer, no Brasil, esse indicador é estimado em 6,5, conforme cálculos do pesquisador Paulo Gala.

Quanto maior o desafio a vencer, ainda mais urgente é que se tomem as medidas para transformar a realidade. Nosso país, que pode ser exemplo em questões cruciais para o mundo, como a demanda por transição energética, deve também avançar na busca de justiça social. É imperativo implantar um projeto de desenvolvimento com distribuição de renda e valorização do trabalho, que vise uma vida melhor para a maioria.

Atuemos todos por isso e cobremos que as medidas nessa direção sejam tomadas por aqueles que exercem o poder em nosso nome.


Murilo Pinheiro
Presidente da Federação Nacional dos Engenheiros (FNE)  

 

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