Os funcionários da Petrobras decidiram nesta quinta-feira (29) rejeitar a proposta de Acordo Coletivo oferecida pela cúpula da empresa, e declararam Estado de Greve em todo o Brasil. Diante da intransigência do presidente da estatal, Pedro Parente, a categoria aprovou a medida com 95% de todos os votos da assembleia.
A decisão vem em resposta ao que o coordenador da Federação Única dos Petroleiros (FUP), José Maria Rangel, definiu como “uma afronta aos trabalhadores”. A Federação Nacional dos Petroleiros se manifestou no mesmo sentido. A proposta da Petrobras, além de desrespeitar os termos do acordo coletivo firmado em novembro de 2015, oferece um reajuste de 4,97% (frente aos 10,67% de inflação de 2015), autoriza cortes de pagamento a horas extras e nos turnos de trabalho, e limita severamente as correções salariais para funcionários mais bem pagos. Como não houve avanço na proposta, a ameaça de greve se concretizou.
É bom lembrar que o “Estado de Greve” não consiste em uma paralisação imediata, mas na articulação das medidas para realizá-la. A qualquer momento, e por qualquer motivo, os trabalhadores podem cruzar os braços. Enquanto isso não acontece, a categoria segue em uma outra estratégia: a chamada “Operação Para Pedro” [em referência a Pedro Parente]. Ela consiste no cumprimento rigoroso de todos os procedimentos e itens de segurança previstos pelas Normas Regulamentadoras e pela ANP - um análogo das “operações padrão” a que normalmente recorre a Polícia Federal, e que provoca atrasos em toda a empresa.
Já nesta quinta, os petroleiros organizaram um trancaço no heliporto do Farol, no norte fluminense, com o objetivo de impedir vôos para as plataformas. Dali saem os helicópteros para toda a bacia de Campos, que produz 60% do petróleo brasileiro.
A coordenação da greve se reúne ainda nesta quinta com a cúpula da Petrobras para uma nova rodada de negociação.
Luta contra a privatização
Para além da pauta salarial, a FUP explicou que decidiu pela paralisação por conta do programa de desinvestimento da Petrobras, que tem por meta vender US$ 34,6 bilhões em ativos da empresa até 2018. Isso vem acompanhado por uma redução na meta de produção de petróleo de longo prazo, favorecendo a venda de pedaços da companhia, tanto no Brasil quanto no exterior, para facilitar a entrada de concorrentes.
"Eles estão usando os problemas financeiros como uma desculpa, e nós não vamos tolerar isso", disse à Reuters o líder petroleiro Deyvid Bacelar, fazendo referência ao discurso da nova cúpula. A Associação dos Engenheiros da Petrobras (AEPET) corrobora essa posição: em carta aberta, critica os novos caminhos da empresa desde o golpe de Estado.
“Através de carta, a AEPET reitera que existem alternativas ao plano de privatização já em curso e que pode alienar cerca de um terço do patrimônio da estatal. A venda de ativos rentáveis compromete o fluxo de caixa futuro, entrega o mercado nacional aos competidores privados ou intermediários, fragiliza o desenvolvimento tecnológico soberano, transfere a propriedade de riquezas naturais finitas e estratégicas”, escreve a AEPET.
A última greve levada adiante pela categoria, em novembro de 2015, atingiu proporções dramáticas, e foi disparada por outra tentativa de desmonte da empresa. Quase uma centena de plataformas de extração de petróleo foram paralisadas em toda a costa brasileira, especialmente no Rio de Janeiro.