Sinalização de piora do quadro externo e intervenções no câmbio no radar
O dólar beirou os R$ 3,70 nesta terça-feira, no maior nível em mais de dois anos, e o mercado vê dois recursos a curto prazo para o Banco Central evitar uma escalada descontrolada do câmbio: a sinalização da piora do quadro externo e as intervenções no câmbio.
O primeiro poderia vir no comunicado do Copom desta quarta-feira, que seria alterado para reconhecer a piora do quadro externo e deixar claro que o ciclo de corte de juros chegou ao fim. O segundo recurso seria aumentar as intervenções no câmbio, caso a alta do dólar persista com volatilidade intensa.
Mesmo com o dólar pressionado, não faria diferença o Copom deixar de cortar a Selic em 0,25 ponto percentual nesta semana, diz Silvio Campos Neto, economista da Tendências Consultoria. Para ele, se sentir um mercado muito desequilibrado e com demanda por hedge (proteção), o BC deve ampliar a oferta de swaps (swaps cambiais, operação que equivale à venda de moeda no mercado futuro). São atuações que não mudariam a tendência, mas poderiam amenizar a volatilidade.
Para Rishi Mishra, analista da Futures First, há dois cenários possíveis. No primeiro, estaríamos vivendo o início de um “mundo novo”, com petróleo acima de US$ 80 o barril e juro do título americano de dez anos a 3,5%. Neste cenário, independentemente do que o BC fizesse, o dólar voltaria a R$ 4, pois não faria sentido carregar ativos em reais, e os juros teriam de subir antes do previsto.
Num segundo cenário, essa piora externa seria temporária e o mundo voltaria ao normal. Considerando o segundo caso, a postura atual do BC se provaria correta, diz Mishra. Para ele, a autoridade monetária poderia usar o próprio comunicado do Copom para sinalizar mais intervenções com swap, além de apontar o fim do ciclo de cortes da Selic.
Argentina, Brasil e México entre mais afetados por piora do mercado externo
A piora do quadro externo afeta mais países que enfrentam problemas internos, como Argentina e seus déficits gêmeos, e Brasil e México, com suas eleições. No Brasil, a incerteza eleitoral deixa o mercado em dúvida sobre se o próximo governo encaminhará as reformas necessárias para conter o déficit fiscal , diz Patrícia Pereira, gerente de renda fixa da Mongeral Aegon investimentos:
— Não sabemos qual vai ser a política econômica em 2019 e nem nos anos seguintes.