Notícia - Jornal Valor Econômico lança série sobre o futuro do trabalho

O jornal Valor Econômico lança uma série de matérias sobre o futuro do trabalho. Hoje foi publicado o primeiro texto como título “Quem terá emprego na era das máquinas?”. Nas edições de 22 e 25 de julho sairão as outras matérias. Confira o primeiro texto abaixo.

Quem terá emprego na era das máquinas?

Na era das máquinas, o emprego é de quem? pergunta um trabalho recente da Universidade de Brasília (UnB) sobre oavanço da tecnologia no mercado de trabalho brasileiro. Inúmeras pesquisas no mundo tentam responder a essa questão, que na verdade está aí pelo menos desde a primeira revolução industrial, 200 anos atrás. A diferença agora é que aInteligência Artificial (IA) pode criar máquinas com capacidades cognitivas até então exclusivas dos humanos.

Assim, a resposta é complexa, mas um resumo possível é que boa parte das ocupações conhecidas serão radicalmentetransformadas, ou mesmo extintas, para dar lugar a dispositivos dotados de IA. Outras, contudo, serão criadas. E acapacidade de ocupá-las é o que fará a diferença entre emprego e desemprego no futuro.

O estudo que faz a pergunta acima, do Laboratório de Aprendizado deMáquina em Finanças e Organizações (Lamfo), da UnB, avaliou 2.062ocupações e concluiu que 25 milhões de empregos (ou 54% do total) estãoalocados em funções com probabilidade alta (de 60% a 80%) ou muito alta(80%) de automação. A base é a Relação Anual de Informações Sociais (Rais) de 2017, do Ministério da Economia, analisada por 69 acadêmicos eespecialistas em aprendizado de máquina. Estariam a perigo trabalhorepetitivo, como cobradores de ônibus e operadores de telemarketing, mas também especializados como fonoaudiólogos eadvogados.

Sobreviverá por mais tempo o que depender de empatia, cuidado, interpretação subjetiva, como assistentes sociais, babás epsicanalistas. E há ainda ocupações em que apenas uma parte é "robotizável": 40% do trabalho de um contador, porexemplo. O trabalho replica uma conhecida metodologia que os cientistas Carl Frey e Michael Osborne, da Universidade deOxford, usaram para estimar o potencial de automatização das ocupações nos EUA: 47%. As estimativas do Lamfo/UnBsão preliminares, mas dão uma dimensão do que vem por aí.

Não significa que no Brasil 54% do mercado de trabalho vai desaparecer. Sob o aspecto econômico, em alguns segmentospode não ser viável substituir gente por máquina. Mas, lenta ou rapidamente, o avanço da máquina continuará sua marcha,afirmam especialistas. Caixas de lojas resistem, mas terminais de atendimento são cada vez mais comuns no comércio."Até há pouco tempo, a automação eliminava atividades de baixa qualificação. O que há de novo é que robôs dotados deinteligência podem substituir ao menos parte das funções exercidas por advogados, engenheiros, médicos", afirma Paulo Feldmann, professor da Faculdade de Economia e Administração (FEA) da USP, que há 30 anos escreveu o livro "Robôs: Ruim Com Eles, Pior Sem Eles". Naquele momento, montadoras de automóveis começavam a instalar robôs em suas linhasde produção.

Um exemplo do que diz Feldmann: em Cingapura, o hospital Mount Elizabeth Novena adotou "enfermeiras-robôs" paramonitorar os sistemas vitais dos pacientes em sua unidade de terapia intensiva. Outro: 13 tribunais de Justiça no Brasil,entre eles o Supremo Tribunal Federal (STF), instalaram IA para reduzir o volume de trabalho. No TJ do Rio Grande doNorte, o robô "Clara" lê documentos, sugere tarefas e até recomenda decisões.

A robotização ameaça eliminar empregos aqui e no mundo. Relatório da Organização para Cooperação e DesenvolvimentoEconômico (OCDE) chamado "O Futuro do Trabalho" estima que 14% dos empregos do bloco têm alta probabilidade (70%)de automação. Outros 32% serão "radicalmente transformados", têm de 50% a 70% de chances de serem robotizados."A evolução de hardware e software é muito rápida. Não importa o grau de evolução de um mercado ou de um país, muitosempregos tradicionais desaparecerão. Governos, empresas e indivíduos devem se preparar para isso", afirma HerbertKimura, pesquisador sênior do Lamfo/UnB.

No Brasil, o cenário é particularmente desafiador para o trabalhador, que além de enfrentar um economia estagnadadepois da pior recessão da história do país ainda corre o risco de se ver obsoleto daqui a não muito tempo.

Irving Wladawsky-Berger, pesquisador associado do Massachusetts Institute of Technology (MIT) e especialista na IBMpor 37 anos, comenta no blog MIT Digital que o saldo do emprego tem sido positivo ao longo das décadas, a despeito doavanço da tecnologia. Mas a revolução da IA está só começando. "É claro que ela terá grande impacto no emprego e naprópria natureza do trabalho. Mas é muito menos claro qual será esse impacto. Haverá mais empregos? Ou desta vez serádiferente? Opiniões são abundantes, mas, no final, nós realmente não sabemos".


Fonte:  Valor Econômico - Por Ana Conceição - 18/07/2019


Comentários

 

O Mundo Sindical e os cookies: nós usamos os cookies para guardar estatísticas de visitas, melhorando sua experiência de navegação.
Ao continuar navegando, você concorda com a nossa Política de Privacidade.