Notícia - Latam quer reduzir salários e sinaliza demissão em massa se houver resistência

Nos bastidores de uma das maiores companhias aéreas da América Latina, a Latam Airlines, há rumores sobre a possibilidade de demissão em massa caso os trabalhadores não aceitem reduzir os salários de forma permanente, situação que deve seguir vigente mesmo após o fim da pandemia do novo coronavírus.  

A reportagem da CUT São Paulo conversou com tripulantes da companhia aérea, que relataram, em condição de anonimato, que a empresa chega a falar em 2,7 mil dispensas caso a proposta não seja aceita imediatamente.

Tripulantes da companhia afirmam se sentir injustiçados com a proposta e a forma como a empresa tem tratado a negociação, uma vez que aceitaram sair de licença não remunerada no início da pandemia como forma de ajudar no enfrentamento à crise.

Uma nova assembleia da categoria, organizada pelo Sindicato Nacional dos Aeronautas, está prevista para ocorrer na próxima sexta-feira, 31, quando os trabalhadores decidirão se aceitam ou não negociar um acordo coletivo com mudanças permanentes no modelo de remuneração, que terá a mediação do Tribunal Superior do Trabalho (TST).

As concorrentes Gol e Azul conseguiram aprovar junto aos trabalhadores a redução na folha de pagamento, mas as mudanças são válidas somente para o período que compreende os impactos da crise sanitária e com garantias de estabilidade.

Já na Latam, a empresa quer fechar duas propostas de uma única vez: uma que está alinhada ao que foi aprovado pelas concorrentes, com salários e benefícios temporários que valeriam até dezembro de 2021, e outro acordo, com início em 2022, que instituiu os novos valores salariais, que podem ser até 60% a menos do que é hoje.

Os tripulantes da companhia aérea, que preferiram não ser identificados nesta reportagem, comentam sobre a insegurança na empresa. “Estamos psicologicamente exaustos porque as manobras e ameaças estão constantes. A empresa quer a todo custo suprimir benefícios e reduzir nosso salário de forma permanente para um problema (coronavírus) que é temporário”, diz o comissário Paulo*.

“O clima é tenso e a apreensão é grande entre a tripulação. Nos vemos numa encruzilhada. Se aceitamos a proposta oportunista e ultrajante da empresa, mantemos nossos empregos, mas degradamos a categoria para sempre. Se seguimos negando qualquer alteração permanente, corremos o risco de ser demitidos. É uma escolha difícil de ser tomada principalmente quando se tem um sindicato que diz que greve dos trabalhadores é muito radical”, completa um dos entrevistados.

Os trabalhadores contam que nesse período de operações reduzidas, a escala entre eles já provocou uma redução nos custos da empresa, pois muitos estão trabalhando somente 10 dias no mês. Uma parte segue em licença voluntária e outros sequer conseguem retornar, pois perderam o certificado de habilitação técnica, documento que é cancelado quando o tripulante fica 120 dias sem voar.

Em nota divulgada à imprensa, a Latam tem afirmado que a proposta busca minimizar os impactos econômicos causados pela pandemia, além de garantir a sustentabilidade da empresa no longo prazo. Sobre a diferença nos acordos apresentados pela Gol e Azul, a Latam diz que suas operações são majoritariamente internacional, o que faz com que as negociações sejam diferentes.

Para outro entrevistado que atua dentro da Latam, a expectativa é que a proposta de redução salarial seja recusada na assembleia desta semana. “Acredito e espero que todos votem “não”. Esse não é o momento de ser negociado uma proposta permanente que entrará em vigor só daqui a 17 meses, e uma proposta onde claramente a empresa quer usar a crise como justificativa para diminuir nosso salário e tirar direitos conquistados pela categoria”, conclui.

*Como os trabalhadores aceitaram conversar com a reportagem em condição de anonimato, seus nomes foram ocultados na reportagem.


Fonte:  Rafael Silva - CUT São Paulo - 30/07/2020


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