Os professores das redes estadual e municipal do Rio de Janeiro decretaram greve sanitária em assembleias realizadas no último final de semana. Em meio ao agravamento da pandemia, professoras e professores votaram contra a volta às aulas presenciais determinadas pelos governos, reivindicando a manutenção do trabalho remoto e a inclusão da categoria no grupo prioritário para vacinação contra a Covid-19 (após profissionais da saúde e idosos).
As assembleias online foram convocadas pelo Sepe-Rj (Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação do Rio de Janeiro). Na sexta (29), ocorreu a consulta junto aos professores da rede estadual, e no sábado (30), a assembleia com os trabalhadores municipais.
Entre os professores da rede estadual, a paralisação foi aprovada por 89% e entre os da rede municipal, a aprovação foi de 84,5% dos 707 participantes da assembleia.
Na assembleia da rede municipal de ensino carioca, por unanimidade, foi aprovada ainda que a Prefeitura forneça cartões-alimentação para os alunos matriculados e equipamentos tipo “tablets” ou assemelhados; uma plataforma virtual pública; bem como pacotes gratuitos de dados, para que os profissionais e alunos possam desenvolver, emergencialmente, as atividades virtuais nesta pandemia.
Em defesa da vida
O calendário da rede municipal do RJ prevê a volta às aulas no dia 8 de fevereiro no formato virtual e, no dia 24 de forma presencial, como opcional a todos os alunos da pré-escola até o 2° ano. Na rede estadual, o retorno está programado para o dia 8 de fevereiro de forma virtual e aulas presenciais a partir de 1° de março.
Segundo o Sepe, a participação na greve vai se dar na medida em que os diversos setores da escola forem convocados pelo governo a retornar às atividades presenciais.
Segundo o professor da base do Sepe e integrante da Secretaria Executiva Nacional da CSP-Conlutas Danilo Serafim, com a segunda onda de contaminação da Covid-19 e o surgimento de novas cepas do vírus, ainda mais contagiosas, a circulação de milhares de pessoas com a volta às aulas presenciais é um grave risco aos profissionais da Educação, estudantes e seus familiares.
“Só na rede estadual são mais de 90 mil profissionais e uma rede de 700 mil alunos”, informou Danilo. “Toda essa população que vai usar o transporte público, pode se contaminar e fazer circular o vírus nas comunidades e bairros populares. Pessoas que poderão transmitir para seus familiares em casa. Por isso, nas assembleias, o entendimento foi de que o retorno presencial só pode ocorrer depois da imunização da população com a vacinação”, disse.
Danilo questiona ainda o discurso oficial de que as escolas estariam preparadas para atua com protocolos de segurança contra a Covid.-19.
“Na prática sabemos que não é assim. Somente na rede municipal do RJ são cerca de 1.500 escolas. Outras cerca de 1.300 escolas na rede estadual. E sabemos das condições, com escolas sem ventilação, banheiros precários. Desconhecemos, por exemplo, que haja fornecimento de máscaras para todos os profissionais da educação. Como vão garantir a higienização várias vezes durante o dia das salas e espaço da escola? Isso não está garantido”, afirmou.
“Portanto, nossa greve é em defesa da vida. Volta às aulas presenciais só deve ocorrer com segurança, portanto, após a imunização contra a Covid-19 e o controle da pandemia”, concluiu o dirigente.
Em São Paulo, professores farão assembleia no próximo dia 5
As professoras e professores da rede estadual de São Paulo realizam assembleia online na próxima sexta-feira (5) para decidir os rumos da categoria diante da volta às aulas presenciais determinadas pelo governo Joao Doria. Os trabalhadores também decidirão sobre a decretação de greve sanitária.
Na última sexta-feira, o presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo Geraldo Francisco Pinheiro Franco derrubou a liminar concedida pela juíza Simone Gomes à Apeoesp (Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo), que suspendia a volta às aulas presenciais em escolas públicas e privadas do estado.Com isso, está em vigor o decreto do governo que determinou a volta às aulas no próximo dia 8 de fevereiro.
Atualmente, o estado de SP tem sete regiões na fase vermelha e dez na laranja – incluindo a capital e a Grande São Paulo.
“O desembargador não levou em consideração a real situação das escolas em meio ao agravamento da pandemia que estamos vivendo e simplesmente atendeu o Executivo, deixando a responsabilidade às famílias. Este presidente do TJ também cassou recentemente a liminar que reestabelecia a gratuidade no transporte público aos idosos, extinta pelo governo Doria. Mais uma vez fica comprovado que não podemos contar com essa Justiça”, criticou a professora da rede pública estadual e integrante da Secretaria Executiva Nacional da CSP-Conlutas Flávia Bischain.
“Ao invés de recorrer na Justiça, Doria deveria se preocupar em garantir o mais rápido possível a vacinação para todos para que as aulas possam retornar com segurança. Aula presencial só com vacina e controle da pandemia. Seguiremos em luta pela vida”, afirmou.
Assim como em São Paulo, nos demais estados professores e trabalhadores da Educação também se mobilizam contra a volta às aulas presenciais em meio ao agravamento da pandemia em todo o país.
Levantamento do instituto Paraná Pesquisas mostra que, para 61,9% dos brasileiros, o retorno das aulas presenciais no atual estágio da pandemia não oferece condições adequadas de segurança para os estudantes. Foram feitas 2.105 entrevistas com moradores de 238 municípios brasileiros, nos 26 Estados e no Distrito Federal, de 15 a 18 de janeiro, por meio de ligações para celulares e telefones fixos. .