Em uma entrevista de pouco mais de 14 minutos ao jornal Folha de S.Paulo, Paulo Roberto da Silva Lima, o Galo, um dos líderes do Movimento dos Entregadores Antifascistas, desmonta a tese do empreendedorismo, decantada em prosa e verso pela burguesia.
Galo conta que sofreu represálias da iFood e da Rappi ao defender suas ideias em uma entrevista à revista Exame. Simplesmente por afirmar que “nóis não é empreendedor porra nenhuma. Nóis é força de trabalho nessa porra”.
Para Vânia Marques Pinto, secretária de Políticas Sociais da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil, “faz tempo que os patrões difundem a ideia de empreendedorismo para disfarçar a precarização do trabalho e a retirada de direitos”.
Assista o importante depoimento de Galo à Folha.
Tanto que “as empresas atualmente tratam seus funcionários como ‘colaboradores’, ou seja, procuram de todas as maneiras cortar os vínculos trabalhistas e ainda tentam dizer que cada trabalhador é seu próprio patrão e diminuem os salários, tiram as férias, os domingos, obrigando cada trabalhadora e trabalhador a trabalhar sem descansar para ganhar o mínimo para a família sobreviver”, assegura.
A sindicalista afirma que a reforma trabalhista, aprovada em 2017, no governo de Michel Temer e a reforma da previdência, aprovada já no governo de Jair Bolsonaro fazem parte “da ideologia neoliberal de desmonte do Estado e retirada de todos os direitos trabalhistas”.
Para o líder dos entregadores, “a uberização é um processo que tem que avançar” para os capitalistas “ganharem dinheiro”. E toma dinheiro nisso. Segundo a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes, antes da pandemia, o mercado de delivery movimentava R$ 11 bilhões por ano. No mundo, esse mercado movimentou US$ 182 bilhões, somente em 2018.
Já a Mobills revela que no primeiro semestre de 2020, o mercado de entrega de comida cresceu 103%. Galo destaca que as empresas de aplicativo agem para sugar todas as forças dos entregadores. “É você conseguir extrair a última gota do suco de laranja e quando o bagaço tiver que ser jogado fora não precisa nem se preocupar”, assinala. O bagaço no caso é a trabalhadora, o trabalhador.
Mas o representante das trabalhadoras e trabalhadores de aplicativos acentua que “a cura da coisa está nos trabalhadores” ao realçar que “a tecnologia tem que estar nas mãos dos trabalhadores” para realmente mudar a situação.
Assistir e divulgar esse vídeo, neste momento, antes que a uberização atinja a todos, “faz parte da luta da classe trabalhadora por melhores dias e para a construção de um novo normal, que garanta dignidade à vida de todas as pessoas”, reforça Vânia.