Notícia - Seminário da CUT sobre Política Industrial defende contrapartidas sociais para investimentos públicos

O Seminário da CUT sobre Política Industrial realizado nesta terça-feira em Brasília debateu a necessidade de contrapartidas sociais para os investimentos com recursos públicos e defendeu que o Plano “Brasil Maior”, anunciado pelo governo, enfrente os juros altos e o câmbio sobrevalorizado, que inviabilizam a produção nacional.


Após o debate inicial da parte da manhã com representantes dos Ministérios e de distintas esferas governamentais, a mesa da tarde foi composta por representantes dos Ramos Químico, Metalúrgico, Alimentação, Vestuário, Construção e da Madeira, que expuseram uma mesma compreensão: não pode haver liberação de recursos públicos sem a garantia expressa de contrapartidas.


A bandeira dialoga com a posição já manifestada pela Central ao governo de que esta deve ser uma prerrogativa básica de qualquer investimento, sem o que os trabalhadores ficariam inteiramente à mercê dos interesses do capital.


Conforme o presidente da Confederação Nacional dos Metalúrgicos (CNM-CUT), Paulo Cayres, faltou ao Plano Brasil Maior um estudo aprofundado sobre as metas de geração de emprego, sendo garantida a desoneração sobre a folha de pagamento sem garantias efetivas nem prazos de que isso vai redundar em benefícios concretos aos trabalhadores O líder metalúrgico disse que o governo também não esclareceu de que forma vai ampliar o índice de nacionalização da produção e nem como vai fomentar a transferência de tecnologia por parte das transnacionais instaladas no país.


Na avaliação do presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores nas Indústrias da Alimentação (Contac-CUT), Siderlei de Oliveira, o debate sobre contrapartidas adquire um caráter estratégico no momento em que grandes empresas multinacionais brasileiras têm se formado com forte injeção de recursos do BNDES. “Infelizmente são empresas como a JBS-Friboi, campeã no desrespeito aos trabalhadores e nos abusos. O ritmo intenso de trabalho tem multiplicado as lesões e mutilações na indústria frigorífica. Muitos trabalhadores entram com saúde e acabam inutilizados pela sede de lucro fácil de empresas que não tem a menor responsabilidade social. Garantir contrapartidas é uma questão de justiça’, frisou.


Representando a Confederação Nacional dos Químicos (CNQ), Marilane Teixeira alertou sobre a enorme vulnerabilidade do Ramo, extremamente dependente da oferta de matérias-primas adquiridas no exterior. “Precisamos de uma política de Estado de médio e longo prazo, efetiva, de investimento público para reverter a atual situação onde importamos 85% dos insumos para a indústria de fertilizantes e 80% para a de fármacos. Sem isso não conseguiremos reduzir os preços para a população”, alertou.


A presidenta da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Indústria do Vestuário (CNTV), Cida Trajano, sublinhou a necessidade das contrapartidas para fortalecer o mercado interno e garantir mais e melhores empregos com o combate à precarização e à terceirização. “Sem isso empresas como a Azaléia continuarão sendo beneficiadas com dinheiro do trabalhador para desempregar, arrochar e até mesmo fechar unidades inteiras, como fizeram recentemente, deslocando toda uma fábrica para a Índia”, lembrou.


O presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção e da Madeira (Conticom-CUT), Cláudio Silva Gomes, alertou que “foram as isenções fiscais e os bilhões de investimentos aplicados na infraestrutura os motores do processo de crescimento do Ramo e do Brasil”. “Foram recursos do BNDES, do FGTS, do FAT, dinheiro do trabalhador que foi mobilizado para construir as grandes hidrelétricas, para o programa Minha Casa, Minha Vida, para tocar as obras da Copa. Agora vem esta desoneração sem contrapartida social e isso é inadmissível. Queremos que sejam exigidas dos empresários responsabilidades com a geração de emprego formal, com o combate à precarização, aos acidentes de trabalho, às mortes, mutilações e lesões que continuam vitimando a nossa categoria”, sublinhou. Na mesma terça-feira, lembrou Claudinho, nove operários morreram após despencarem de um elevador numa obra em Salvador.


O secretário geral da CUT, Quintino Severo, e o presidente nacional da CUT, Artur Henrique, destacaram a relevância das contribuições para o debate e enfatizaram que os pontos elencados servirão para que a Central faça o enfrentamento com o capital num patamar superior, a partir de um raio x pormenorizado das diferentes realidades.


Fonte:  Leonardo Severo, de Brasília - 10/08/2011


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