Após a realização do 1º de maio das centrais sindicais em São Paulo, a grande discussão abordado em jornais e por influenciadores nas redes sociais foi a pequena participação no dia do evento, mas outro assunto deveria ser tratado com seriedade e foi levantado pelo professor de Economia da Unifesp André Roncaglia em artigo no jornal Folha de São Paulo.
Em seu artigo intitulado “No Dia Internacional do Trabalhador, o rentismo mostra suas garras”, Roncaglia sobre a tecnologia aumentar a produtividade, mas trazer outras questões sociais e éticas relativas ao desemprego estrutural, à neutralidade racial e de gênero dos algoritmos e à desigualdade de renda.
“Com efeito, a queda da participação dos salários na renda da economia é um fenômeno global e de longo prazo, como mostram estudos da OIT e do FMI. Nos países desenvolvidos, a OCDE registrou recente supressão de salários em várias indústrias, ocupações e níveis de qualificação. No Brasil, os salários somam menos de 40% da renda total, refletindo a desindustrialização precoce, a baixa sindicalização, a desregulamentação e a alta taxa de informalidade no mercado de trabalho: 39% da nossa força de trabalho se encontra em empregos precários e de baixa qualificação”, escreveu o professor.
A burguesia então começa a mostrar as suas garras e dizer que a diminuição do desemprego é um problema para o país.
Quem mostrou essa “preocupação” foi o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, que em entrevista para a CNN justamente no dia do trabalhador, disse que “a economia vive um surpreendente pleno emprego, mesmo com 7,9% da força de trabalho desempregada e com a taxa de subutilização da mão de obra em 18%”.
Roncaglia escreveu: “Traduzindo: para ele, uma renda média mensal de R$ 3.100 é uma exuberância incompatível com a estabilidade macroeconômica. Se a renda do trabalho continuar subindo, o Banco Central (BC) será forçado a elevar a Selic para moderar as demandas salariais —por meio de maior desemprego— e, claro, defender o retorno do capital financeiro improdutivo, com a desculpa do controle da inflação, a qual está caindo sistematicamente.”
No mesmo dia, que trabalhadores estavam comemorando e também cobrando melhores condições, alguns porta-vozes das pessoas que vivem de renda e não produzem nada, defenderam a desvinculação irrestrita dos benefícios sociais com relação ao salário mínimo (SM), alegando, pasmem, que cada R$ 1 a mais aumenta o gasto público em R$ 388 milhões.
André explica:
“Em números: a elevação nominal de 6,4% do salário mínimo entre 2024 e 2025 implica elevação do gasto primário em R$ 35 bilhões. O BC pode compensar esse aumento reduzindo em mero 1 ponto percentual a Selic, poupando R$ 44 bilhões em serviços de juros da dívida pública; mas este é um debate interditado.”
Ele continua:
“A desvinculação focalizada de privilégios com relação ao SM é uma discussão bem-vinda; porém, o silêncio sobre os juros da dívida e a obscena injustiça tributária contrastam com a estridência das críticas aos direitos sociais e ao esforço de reindustrialização.”
Isso mostra o quanto uma parte da sociedade não quer o trabalhador tendo uma melhora em sua vida e garantir continuarão acumulando riqueza em cima do trabalhador. Essa é a burguesia brasileira.
Confira o artigo do André Roncaglia na íntegra