A economia colonial do Brasil adotou um sistema de produção agrícola conhecido como “plantation”, baseado no tripé monopólio da terra, monocultura para exportação e trabalho escravo.
Esse modelo de colonização de exploração, adotado no Brasil e em outros países da chamada América Espanhola, se diferencia das colônias de povoamento, típicas da colonização inglesa na América do Norte.
Eis os números: o tráfico de africanos escravizados somou 12,5 milhões, conforme estatística divulgada no livro “Escravidão”, de Laurentino Gomes. Para se avaliar a dimensão dessa tragédia humanitária, durante a viagem 1,8 milhão morreram.
O Brasil foi o país que mais recebeu essa mão-de-obra escravizada. Dos 10,7 milhões que conseguiram chegar vivos às Américas, 4,9 milhões vieram para cá, dez vezes mais, para comparar, do que os enviados aos Estados Unidos.
Até 1850, apenas 750 mil portugueses vieram ao Brasil. Com isso, o país tinha, sem contar a população indígena, 86 africanos para 14 portugueses. Esses números explicam por que o Brasil tem a segunda maior população negra do mundo.
Segundo o IBGE, 57% da população brasileira se declara negra, montante só inferior à população da Nigéria. A escravidão, portanto, moldou a sociedade e o Estado brasileiro e deixou uma pesada herança que persiste até os dias atuais.
A abolição da escravatura em 1888 não veio acompanhada de uma reforma agrária ampla que viabilizasse o acesso dos ex-escravos à terra. Com o início da industrialização, boa parte da força de trabalho foi constituída de imigrantes europeus.
Do fim do século 19 até meados do século 20, 4,7 milhões de europeus emigraram para o Brasil. Com isso, retardou-se ainda mais a inserção do negro no mercado de trabalho.
Dessa maneira, mesmo com os períodos de maior desenvolvimento do país, os trabalhadores negros, em sua maioria, ficaram relegados ao trabalho precário, com menos qualificação e menor nível educacional.
Neste mês, o Dieese publicou estudo que reafirma a desigualdade racial no mercado de trabalho.
“O mercado de trabalho talvez seja um dos meios onde a discriminação e a desigualdade sejam mais evidentes”, afirma o documento.
Os negros e as negras têm mais dificuldades de conseguir emprego, ocupam os piores postos de trabalho e quase a metade está na informalidade. Das dez ocupações com os maiores rendimentos, só 27% são de trabalhadores negros.
Na outra ponta, as dez ocupações com os piores rendimentos são constituídas de 70% de negros. Pior ainda a situação da mulher negra. Quase uma em cada seis trabalha como empregada doméstica, uma das ocupações mais precarizadas.
Para enfrentar esses problemas, é preciso colocar no topo da agenda a luta pelo desenvolvimento com valorização do trabalho e a adoção de políticas que combatam a discriminação e facilitem o acesso da população negra à educação e ao trabalho.
Neste particular, como bem lembra o estudo do Dieese, é fundamental o papel dos sindicatos nas negociações coletivas, com “a aplicação de cláusulas que garantam iguais condições de salário e de progressão na carreira para todos os trabalhadores”.
Neste mês em que se celebra a Consciência Negra, é essencial destacar que, para além de outras pautas importantes, a inserção do negro no mercado de trabalho, com empregos de qualidade e valorizados, é a melhor arma para combater a desigualdade.