A Avibras cumpre um papel estratégico para o país, como principal fabricante de material bélico pesado. De sua fábrica em Jacareí, saíam armamentos considerados essenciais para a Defesa da nação. Um de seus produtos, o Astros 2020, lançador de foguetes e de mísseis, é considerado um dos sistemas mais avançados do mundo.
Sua capacidade tecnológica fez da Avibras, junto com Embraer e Imbel, parte do Complexo Industrial de Defesa brasileiro. Antes da crise na fábrica, a partir de 2022, a empresa possuía cerca de 1.400 trabalhadores, muitos deles de alta qualificação e com participação em programas das três Forças Armadas.
Hoje, a fábrica que nasceu em 1961 pelas mãos de engenheiros do ITA está parada. Há 20 meses, não paga salários, está em recuperação judicial, perdeu 31% do seus funcionários e tem uma dívida estimada em R$ 1 bilhão. Profissionais que antes montavam foguetes agora trabalham na informalidade.
Mas nada disso fez com que o governo federal tomasse medidas para reverter essa drástica situação. Não foi por falta de aviso. Há mais de dois anos, o Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos e Região alerta os governantes sobre o caos que se abateu sobre a Avibras e seus trabalhadores. Nem Bolsonaro nem Lula deram a atenção devida ao assunto.
Aqui merece destaque o apoio financeiro e político dado à Embraer pelo governo federal. Este ano, o BNDES liberou um empréstimo de R$ 700 milhões para financiar as exportações da empresa.
Além disso, o presidente Lula e o presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, posaram como “garotos-propaganda” da Embraer. A propósito, Lula cogitou a compra de um avião presidencial, com orçamentos que chegavam a R$ 2 bilhões.
Em um evento com participação de Lula na Embraer, em 26 de abril, participei como presidente do Sindicato. Entreguei a Lula uma carta relatando o drama dos trabalhadores da Avibras e conversei com ele por um minuto. Na ocasião, Lula afirmou que resolveria a situação. Passaram-se sete meses, e o presidente continua inerte.
Para retomar a produção e sobreviver, a Avibras precisa de investimento do Estado, como acontece em qualquer país. A soberania nacional depende disso.
Esta semana, novamente o Sindicato enviou carta a Lula, pedindo reunião para que o governo apresente um plano de emergência para antecipação dos contratos vigentes com o Exército, a fim de garantir o pagamento dos salários. Mas a defesa dos trabalhadores fica para as eleições ou dias de festa.
Essa crise também é consequência da má-gestão conduzida pelo sócio majoritário da empresa, João Brasil, e esse não é o único problema. Em 63 anos, foram abertos três pedidos de recuperação judicial e grupos de diferentes países já se interessaram em comprar a Avibras.
Existe uma negociação em curso com um investidor que se recusa a revelar sua identidade. Sabe-se apenas que é brasileiro. O Sindicato já se reuniu com o representante desse possível comprador, mas não há como avançar nas discussões sem que ele se identifique e ofereça garantias de que pagará a dívida trabalhista.
Olhando para o passado, é impossível não comparar a situação da Avibras a da Engesa, que encerrou suas atividades em 1993, por culpa do governo, que pouco investia na empresa. Agora a história se repete.
Por isso, o Sindicato defende a estatização das empresas estratégicas e que sejam colocadas sob controle dos trabalhadores.
A indústria bélica não pode ficar à mercê dos ânimos do mercado. O que está em jogo é a soberania do país. Se a Avibras seguir o mesmo caminho da Engesa, Lula terá de responder por essa grave perda.