Observem que a capacidade de eleger Lula, mesmo estando na oposição, foi também fruto de graves e estruturais erros do ex-presidente. O êxito eleitoral foi porque, o ex-chefe do Executivo errou mais que acertou. Problema dele. Isto é, a vitória de Lula não foi por exclusivo mérito próprio. Não fosse Bolsonaro ser quem é, talvez, tivesse renovado (pasmem!) o mandato.
Agora estamos sob governo — cuja característica fundamental é sua amplitude —, que vai da esquerda à chamada direita liberal e neoliberal, inclusive fazendo parte do governo, com ministérios e tudo. Só ficou de fora, por óbvio, o extremismo bolsonarista.
Vai ser a ampla unidade — com muita concentração de forças e recursos para evitar dispersão de inteligência e energia, a fim de maximizar projeto eleitoral consistente e vitorioso —, que poderá permitir derrotar, novamente, a extrema-direita. E com atenção às eleições legislativas — Câmara e Senado.
Ali está, hoje, o nó górdio da República, nesses tempos pós-Eduardo Cunha (RJ) e Arthur Lira (PP-AL), que imprimiram novo ritmo e rumo ao Poder Legislativo.
Correlação de forças
Mesmo tendo saído vitoriosos das eleições presidenciais, a esquerda e centro-esquerda não elegeram mais que 140 deputados, num colégio de 513, e menos de 20 senadores, num colégio de 81.
Não fosse a amplíssima aliança para governar e fazer maiorias no Congresso, ainda que eventuais, para aprovar a agenda do governo, Lula estaria em maus lençóis.
Não fosse ainda a imensa capacidade de diálogo de Lula1, a situação do campo progressista, democrático e popular estaríamos no gueto, ainda que no governo.
Sobre as eleições de 2026
Vamos direto ao ponto. Se este campo político-eleitoral originário do chamado lulismo — em particular a esquerda e a centro-esquerda — não se preparar para disputar as eleições de 2026 estará fadado a enfrentar imensas dificuldades, maiores que as atuais. Inclusive de existência irrelevante. Veja a configuração do Congresso — Câmara e Senado — e os enormes contorcionismos que Lula precisa fazer para governar.
Com Congresso empoderado, com orçamento e agenda próprios, extrema-direita com pauta permanentemente disruptiva e completamente fora da órbita do bem-comum, será preciso eleger numerosa bancada de deputados e senadores para dar sustentação a Lula, em caso de reeleição, ou com capacidade de fazer efetiva e relevante oposição, em caso de derrota, a governo de direita ou extrema-direita.
Resumo da ópera: é preciso eleger numerosa bancada de esquerda e centro-esquerda para não sucumbir à irrelevância. Aí inclui-se o movimento sindical.
Para isso é necessário começar, agora, as articulações de candidaturas, alianças e o trabalho estrutural para colocar de pé esse projeto. Antes, atenção para o detalhe que deverá vertebrar essa caminhada: a reeleição de Lula, com no mínimo, a mesma composição — arco e forças — de 2022, pois não há nada relevante à esquerda de Lula e do PT.
Projeto progressista, democrático e popular
Mesmo com Bolsonaro inelegível, ele não está fora do jogo, pois se trata de relevante cabo eleitoral. Portanto, vai ter muito peso para alçar e eleger aliados ao Congresso — deputados e senadores —, governadores e até mesmo ao Planalto.
Fato: o bolsonarismo tem mais nomes competitivos ao Planalto que o campo democrático. Portanto, 2026 não será tubo de ensaio. É preciso entrar para disputar e vencer. Olha o que ocorreu nos EEUU… Não é preciso fazer grandes elocubrações para entender o que se quer dizer.
Quem estiver pensando em candidatura é preciso se colocar de forma profissional. Candidaturas de véspera, sem bases eleitoral e social, sem recursos financeiros, sem relevância nas redes digitais; esqueçam, pois não terão chance alguma. O modelo de disputa atual não permite e não se viabiliza sob o amadorismo.
O jogo é para quem se preparou para jogar. Porque o bolsonarismo virá disputar com muita força e com objetivos muito determinados e perigosos. Por exemplo, estão se preparando para eleger grande bancada ao Senado, cujo objetivo é emparedar o Supremo, com impedimento de magistrados.
Mesmo com a condução do governo por Lula, com equilíbrio e imensa capacidade de diálogo e agenda social, o chamado mercado impôs agenda de cortes sociais, que não foi possível conter. Essa agenda de ajustes, de caráter neoliberal, passou no Congresso, cujo perfil econômico é majoritariamente neoliberal.
E, em se mantendo esse perfil no Legislativo, nenhum projeto desenvolvimentista parará em pé. Ou muda-se esse quadro ou o País não conseguirá destravar ou desenvolver algum projeto de desenvolvimento. E assim estaremos fadados a ser uma grande fazenda.]