Artigo - Quem cala, consente

Quando em uma dada situação somos levados a elogiar um procedimento que deve ser normal, isto é uma crítica aos que lhe deviam assemelhar.

É o que faço ao comparar as edições do dia 24 de janeiro dos quatros grandes jornalões impressos: O Globo, FSP, OESP e Valor em que apenas o primeiro (e que merece, portanto, o elogio) noticiou que a “maioria dos reajustes salariais ficou acima da inflação”, repercutindo os números divulgados pelo Dieese, em matéria de Carolina Nalin.

E foram números convincentes: durante todo o ano de 2024, 85% dos acordos e convenções coletivos negociados pelos sindicatos superaram a inflação do período, o melhor dos resultados desde 2018, quando começou a série histórica das avaliações do Dieese.

Para a correta compreensão da conjuntura e valorização do papel dos sindicatos, o registro feito pelo O Globo merece o elogio, enquanto que o silêncio dos outros veículos atesta seu descaso.

Mas o que ainda preciso destacar é o próprio silêncio irresponsável do movimento sindical sobre o feito. Elogio a Rádio Peão Brasil e a Agência Sindical que noticiaram o balanço do Dieese, mas constato que nenhum dirigente, nenhuma entidade, nenhuma rede de comunicação sindical valorizou a vitória como deveria ter sido feito (detalhando a série histórica e seus resultados), nem mesmo a colocando como informação significativa para os trabalhadores e trabalhadoras e para sociedade. (Pode haver uma ou outra rara exceção, de cujo desconhecimento me penitencio.)

É urgente constatar esta alienação e remediar ainda esta falta de atenção que peca contra a relevância desejada para o movimento sindical, porque quem cala consente que não está nem aí para o que é importante.


João Guilherme Vargas Netto
É membro do corpo técnico do Diap e consultor sindical de diversas entidades de trabalhadores em São Paulo

 

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