Artigo - Se liga, não é só política e economia. É também comunicação

Voltamos ao debate sobre a centralidade da comunicação em tempos de plataformas digitais, em que milhões estão permanentemente on-line. E o fato de que a tríade: política, economia e comunicação, sempre estiveram presentes no debate público. Só que agora, a comunicação tem peso semelhante às outras 2 variáveis.

 

 

A Coca-Cola ou a Nike precisa de propaganda?! Em tese não, já que são marcas, dentre as mais conhecidas, mundialmente conhecidas e consumidas no mundo, independentemente de propaganda. Mas precisa sim, porque a “propaganda é a alma do negócio”.

Em tempos “internéticos”, em que todos se comunicam sem mediações, a comunicação e a propaganda assumiram papéis relevantíssimos. Ignorar esse fato é incorrer em erro crasso. Há muitos e variados exemplos disso.

Velhas teorias sobre comunicação de massas, como as citadas na epígrafe deste texto foram reavivadas e turbinadas, com os meios digitais.

Comunicação e propaganda na política

A política, a gestão e o debate públicos necessitam da comunicação e da propaganda para expressarem ideias, rumos, objetivos e o que está em curso. No debate público, estes elementos — política e gestão — estão num contexto de convencimento para conquista. Daí deriva a necessidade, permanente, de essas ferramentas serem utilizadas sem moderação.

É isso que a extrema-direita tem feito e, diga-se de passagem, com muita competência. Aqui, a referência não é sobre o conteúdo, mas a capacidade de “informar” ou “desinformar” o grande público. E influenciar nas chamadas “guerra de narrativas” e “guerra cultural”. Sobre essas 2 “guerras” há este artigo específico.

Vamos aos exemplos fáticos e as evidências.

Como um presidente de governo tão ineficaz e incompetente, em todos os sentidos, quase foi reconduzido? E segue, em diferentes níveis, resistindo ao tempo e às evidências de que foi trágico no exercício da Presidência da República e na gestão pública.

Como um governo que é infinitamente melhor que o anterior, em todos os sentidos, segue sendo rejeitado pela metade dos eleitores?

— Em razão de a comunicação e a propaganda, que a extrema-direita faz com mais competência que o governo e a esquerda.

Lembrem-se o que fez o jovem deputado Nikolas Ferreira (PL-MG) em relação às medidas anunciadas pelo governo sobre o PIX. É claro, teve bela ajuda do algoritmo, que foi manipulado para ter o resultado desejado. Entretanto, devemos admitir que o governo foi negligente quanto à comunicação e à propaganda sobre a iniciativa. O resultado todos conhecem.

“Guerra de narrativas”

O debate público está submetido à chamada “guerra de narrativas” — que é conflito entre diferentes versões da mesma história —, que em grande medida o desqualifica. E, assim prevalece quem tem mais capacidade de fazer o ponto de vista prevalecer, nas redes, que ganha as ruas.

Para mudar esse quadro é preciso politizar a gestão e o debate públicos. Por exemplo, o governo anterior passou 4 anos sem dar aumento real ao salário mínimo. O atual já proporcionou 2 aumentos reais ao mínimo. Todavia, o governo atual não explora esses 2 fatos antagônicos a seu favor.

Velhas teorias e a contemporaneidade

Nesses tempos pós-modernos, 2 teorias sobre comunicação de massas foram reavivadas, com força: a de que “O meio é a mensagem” e a da “teoria da pedra no lago”. Esta é sobre os chamados “influenciadores”.

A expressão “O meio é a mensagem” é do teórico da comunicação canadense Marshall McLuhan. A frase sugere que o meio de comunicação é tão importante quanto o conteúdo transmitido.

McLuhan acreditava que os meios de comunicação são extensão do corpo humano e que a evolução das culturas é ditada pelas novas tecnologias. Para ele, as pessoas e as sociedades são mais modificadas pela forma e estrutura da tecnologia do que pelo conteúdo.

A expressão “O meio é a mensagem” aparece no título do primeiro capítulo do livro “Understanding Media: The Extensions of Man” — Os Meios de Comunicação Como Extensões do Homem —, publicado em 1964.

O conceito de McLuhan foi aplicado em discussões sobre tecnologias como a televisão e a internet.

Tempos de “influenciadores”

Quando se joga uma pedra na água, forma-se, no ponto em que essa cai, perturbação em forma de círculo que se alarga com o passar do tempo: sobre a superfície da água é criada onda que se propaga rumo ao exterior.

Os que influenciam hoje — os chamados formadores de opinião em tempos pós-modernos — não são, necessariamente, os que têm mais conteúdo ou capacidade intelectual. São os com mais capacidade de se comunicar, nessa selva das redes digitais, sem mediações.

O influenciador Renato Amoedo, mais conhecido nas redes como Renato Trezoitão, gerou polêmica ao defender que o fim da escravidão no Brasil foi erro cometido pela monarquia contra os “empresários” da época. Durante a participação dele no Podcast Três Irmãos, em 27 de novembro, o influenciador afirmou que “um dos grandes motivos do império ter acabado foi a revogação de propriedade”, se referindo aos negros como bens.

A transmissão gerou grande repercussão e foi amplamente criticada pelas declarações sobre a escravidão e a abolição.

Trezoitão, que se apresenta como anarcocapitalista e redpill — ideologias que defendem a extinção do Estado e a regulamentação exclusiva do mercado, além de pregar o masculinismo em oposição ao feminismo —, tem sido figura controversa nas redes. Autor do livro “Bitcoin Red Pill”, ele também associa o uso de criptomoedas à ideia de libertação dos homens.


Marcos Verlaine
É jornalista, analista político e assessor parlamentar do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap)

 

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