Artigo - O tarifaço de Trump e a soberania nacional

No início de julho, Donald Trump anunciou a aplicação de tarifas de 50% sobre todos os produtos brasileiros, justificando a medida com a suposta perseguição ao ex-presidente Jair Bolsonaro e com um alegado desequilíbrio comercial entre os dois países. A contradição salta aos olhos: em 2024, os Estados Unidos registraram superávit de mais de US$ 7,4 bilhões na balança comercial com o Brasil – um dos poucos países com os quais mantêm saldo positivo há mais de 15 anos.

Fica evidente que as tarifas não visam corrigir um desequilíbrio econômico real, mas sim intensificar uma estratégia de protecionismo agressivo – já aplicada contra outros parceiros – agora combinada a chantagens políticas inaceitáveis, como a tentativa de condicionar as relações comerciais a decisões que cabem exclusivamente ao Judiciário brasileiro. Trata-se de uma violação da soberania nacional e de um precedente perigoso para o sistema multilateral de comércio.

Sem aceitar a barganha e com firmeza diplomática, o governo brasileiro conseguiu abrir uma negociação difícil. O resultado foi uma primeira vitória: 694 produtos foram retirados da lista da sobretaxa, entre eles aeronaves, petróleo, minério de ferro e suco de laranja. Destacou-se, nesse processo, a atuação do Vice-Presidente e Ministro da Indústria e Comércio, Geraldo Alckmin, cuja capacidade de articulação com diferentes setores produtivos – inclusive interlocutores do setor privado nos Estados Unidos – foi decisiva para conter os danos da medida e manter pontes abertas para o diálogo. Ainda assim, o “tarifaço” permanece para dezenas de bens industriais, incluindo setores relevantes como os de pescados, carnes, frutas, alimentos processados, têxtil e calçadista. A medida passa a valer a partir de 7 de agosto, e seus efeitos ainda são incertos.

A indústria química brasileira, por exemplo, já opera com um déficit estrutural de quase US$ 50 bilhões. Embora exporte relativamente pouco (US$ 15,9 bilhões em 2024), tem nos Estados Unidos seu principal destino, com 15,5% desse volume. Produtos como plásticos, óleos essenciais, compostos químicos orgânicos e inorgânicos, perfumaria e cosméticos seguem sujeitos à elevação tarifária – atingindo segmentos industriais com forte presença em estados como São Paulo. O risco de retração nas exportações é real, principalmente diante da dificuldade de redirecionar rapidamente a produção para novos mercados, dada a complexidade tecnológica e regulatória envolvida.

Mais grave ainda é o modelo de negociação imposto. Ao adotar medidas unilaterais, desrespeitando instâncias multilaterais como a OMC, os EUA impõem sua lógica de poder. Não é a primeira vez, a mesma abordagem foi aplicada contra China, Canadá, México e União Europeia. A diferença agora está na dimensão política, explicitada pela pressão sobre o Brasil. A extrema direita brasileira, representada por figuras como Eduardo Bolsonaro, não apenas comemorou o ataque norte-americano, como também reivindicou abertamente ter influenciado a medida por meio de sua atuação junto à Casa Branca – um gesto, ao mesmo tempo, submisso e antipatriótico.

Diante disso, a posição do Movimento Sindical é clara: a soberania nacional é inegociável. Defender a soberania é defender o direito do povo brasileiro de decidir seu destino, com instituições livres de pressões externas e com um projeto de desenvolvimento que valorize o trabalho e a produção. Por isso, as Centrais Sindicais participaram das discussões com o Governo Federal, apresentando propostas para enfrentar os efeitos do tarifaço. Enquanto setores empresariais se ausentaram das reuniões, o Movimento Sindical cobrou medidas concretas: proteção aos empregos nos setores afetados, defesa comercial ativa, criação de um comitê permanente de monitoramento e resposta, além do reforço à diversificação de mercados – já em curso com a abertura de mais de 200 destinos desde 2023.

O governo Lula venceu o primeiro round. Reagiu com altivez, manteve o respeito às instituições e evitou cair na armadilha de uma crise institucional fabricada. Mas o jogo está longe de terminar. Trump já sinalizou novas ofensivas – como as sanções contra o ministro Alexandre de Moraes, via Lei Magnitsky – e há riscos de escalada do conflito. Eduardo Bolsonaro trabalha contra o Brasil e os brasileiros! Conspirou com aliados estrangeiros para enfraquecer a posição comercial do Brasil, articulando ataques econômicos ao nosso país. O Brasil precisa manter vigilância ativa, unidade política e defesa firme de sua soberania. Os próximos capítulos mostrarão quem está ao lado do país – e para quem o nacionalismo não passa de vestir a camisa da seleção em manifestação golpista e se calar quando os ataques vêm de fora.


Sergio Luiz Leite
Presidente da FEQUIMFAR e
Vice-presidente da Força Sindical


 

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