Artigo - A formação das relações assimétricas: hegemonia e subordinação

A gênese da relação entre o Brasil e os EUA remete à Doutrina Monroe (1823) e, mais tarde, ao Corolário Roosevelt (1904), que estabeleceram a América Latina como área de influência exclusiva dos Estados Unidos. Esse pano de fundo histórico moldou uma relação assimétrica, em que o Brasil, como nação periférica, foi frequentemente visto como um ator subalterno, cujas ações deveriam estar alinhadas aos interesses hegemônicos norte-americanos. A taxação arbitrária de importações e a interferência em deliberações soberanas, recentemente impostas pelos EUA, podem ser interpretadas como manifestações contemporâneas dessa lógica.

O imperialismo é a fase mais avançada do capitalismo, em que as potências centrais expandem seu controle sobre as nações periféricas para garantir acesso a matérias-primas e mercados consumidores, muitas vezes recorrendo à coerção econômica e política.

O Fim de um Ciclo e o Novo Paradigma

O cenário geopolítico atual sugere uma transição significativa. O declínio da hegemonia unipolar dos EUA, acelerado por crises econômicas internas e pela ascensão de novas potências, como a China e a Índia, cria um ambiente em que a dominação tradicional se torna mais difícil de ser sustentada. A iniciativa brasileira de coordenar respostas com os países do BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) é um exemplo prático dessa mudança de paradigma.

Essa abordagem multilateral, em oposição a uma resposta isolada, rompe com a lógica da “presa fácil”. Em vez de se render às pressões unilaterais, o Brasil busca fortalecer sua posição por meio de alianças estratégicas com nações que compartilham desafios semelhantes em relação ao Ocidente. As relações internacionais não são mais lineares; constituem um sistema complexo em que a interdependência e a cooperação emergem como mecanismos de defesa e de construção de uma nova ordem mundial.

A ação coordenada do Brasil com o BRICS demonstra uma rejeição à subordinação e uma busca por maior soberania e autonomia — elementos essenciais para a própria identidade de uma nação. Essa colaboração fortalece a posição negociadora do Brasil e oferece um contrapeso ao poder tradicional dos EUA. A reflexão filosófica da política social aqui se manifesta na busca por uma ordem mundial mais equitativa, em que a dignidade e a autonomia das nações periféricas sejam respeitadas.

Considerações Finais

As relações entre o Brasil e os EUA, marcadas por tensões recentes, podem ser vistas como um estudo de caso do declínio da dominação imperialista tradicional. A resposta coordenada do Brasil, por meio de sua diplomacia no BRICS, sinaliza uma mudança profunda na dinâmica geopolítica global. A era da subordinação automática parece estar dando lugar a uma nova ordem multipolar, em que a cooperação entre nações emergentes oferece um caminho para superar a hegemonia e construir relações mais justas e equitativas.


Diógenes Sandim Martins
é médico, diretor do Sindnapi e secretário-geral do CMI/SP

 

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