Vivemos um momento histórico marcado por grandes transições: tecnológica e digital, climática e ambiental, demográfica e também produtiva e geopolítica. Não são mudanças pontuais, mas transformações profundas que alteram a forma como o mundo produz energia, organiza o trabalho e estrutura suas cadeias produtivas.
Para nós, Eletricitários, a questão central é: quem vai se beneficiar dessas transições? Serão oportunidades para empregos de qualidade, melhores salários e inclusão social? Ou veremos, mais uma vez, concentração de riqueza, precarização e exclusão?
O setor elétrico ocupa um papel estratégico em todas essas transições. A eletricidade é a base da digitalização, da automação, da mobilidade elétrica e da indústria verde. Sem energia confiável, acessível e sustentável, não há revolução tecnológica ou ambiental possível.
No Brasil, temos uma matriz majoritariamente limpa, com grande potencial em energia solar, eólica, biomassa e, mais recentemente, hidrogênio verde. Essa é uma vantagem que pode colocar o país na liderança global da transição energética. Mas há riscos: se não houver planejamento público e políticas industriais, corremos o perigo de entregar esse futuro às grandes corporações privadas, sem garantir empregos de qualidade, tarifas justas e soberania energética.
Tecnologia, produtividade e trabalhadores
Muito se fala em produtividade e modernização, mas a história mostra que crescimento econômico e inovação tecnológica não se traduzem automaticamente em melhores salários. No setor elétrico, vemos isso todos os dias: empresas que aumentam lucros, mas não repartem os ganhos com os trabalhadores, que enfrentam sobrecarga, terceirização e insegurança no emprego.
A digitalização e a automação na rede elétrica já estão em curso, e a inteligência artificial promete mudar ainda mais a forma de operar o sistema. Isso pode aumentar a eficiência, mas também pode ser usado como desculpa para reduzir postos de trabalho ou criar funções precárias. A pergunta que precisamos fazer é: quem se apropria dos ganhos da produtividade – o capital ou os trabalhadores?
Transição energética e justiça social
O mundo vive uma corrida para reduzir emissões e evitar o colapso climático. A transição energética pode gerar milhões de empregos no mundo, mas também destruir milhares em setores fósseis. No Brasil, esse desafio é ainda maior, porque convivemos com desigualdade social e fragilidade de políticas públicas.
Por isso, defendemos o conceito de transição justa: cada mudança na matriz energética precisa vir acompanhada de diálogo social, proteção ao emprego e investimento em capacitação profissional. Não aceitaremos que eletricitários sejam descartados em nome da modernização. Não pode haver futuro sustentável sem justiça social.
Demografia, cuidado e qualidade do trabalho
O Brasil envelhece rapidamente. Isso traz impacto para a previdência, para a seguridade social e também para o setor elétrico, que precisará de renovação profissional e formação continuada. É urgente discutir jornada de trabalho, condições dignas e políticas que assegurem estabilidade ao longo da vida laboral.
Política industrial e soberania energética
As disputas globais mostram que cada país busca proteger sua indústria e seus empregos. O Brasil precisa de uma política industrial que una inovação tecnológica, sustentabilidade ambiental e inclusão social – e o setor elétrico deve estar no centro dessa estratégia.
Isso significa fortalecer a Eletrobras pública e eficiente, investir em ciência, tecnologia e inovação, e garantir que a energia cumpra seu papel de indutora do desenvolvimento. Energia não é mercadoria qualquer: é um direito social e um bem público estratégico.
As transições em curso não são neutras. Elas podem gerar prosperidade compartilhada ou aprofundar desigualdades. A diferença estará em como a sociedade organiza suas instituições e como os trabalhadores participam das decisões.
Como presidente do Sindicato dos Eletricitários de São Paulo, reafirmo: o futuro do setor elétrico só será justo se colocar o trabalho no centro da equação. Produtividade só faz sentido se gerar empregos dignos, salários justos e qualidade de vida.
Cabe a nós, trabalhadores organizados, garantir que a transição energética e tecnológica seja também uma transição social, que fortaleça a democracia e assegure que ninguém fique para trás.