Um: O rechaço à tal dosimetria foi suficientemente expressivo. Mesmo que não tenha alcançado o grau de mobilização da PEC da Bandidagem, é inegável que provocou reação generalizada em todo o país e coloca algumas questões a serem consideradas, a começar por uma tênue e relativa majoritariedade da esquerda e das forças progressistas nas ruas, abrindo perspectivas para jornadas políticas de massa mais estruturantes e estruturadas.
?Dois: A medida da mentira está no comportamento geral do conservadorismo reacionário brazuca. Enquanto ações policiais escorrem sangue quando acontecem em periferias-favelas, nos altos círculos, seja na Faria Lima, seja na Barra da Tijuca, operações idênticas não têm uma gota de sangue derramada. O mesmo vale para as prioridades e votações realizadas no Congresso Nacional: segue a sangria nos direitos do povo, a inviabilização do governo Lula, a pornográfica concessão de privilégios aos que desde sempre tudo possuem por essas terras.
?Três: No dia marcado para o encontro da democracia com a soberania e a cidadania, a estratégia golpista e midiática foi pra lá de espertalhona: Carla Zambelli renunciou ao mandato e a cobertura da imprensa tratou só de falar disso, desconversando sobre as milhares de pessoas que se reuniram em mais de 20 capitais para protestar e exigir que as sentenças e as penas dos envolvidos com a tentativa de Golpe de Estado fossem cumpridas com o devido rigor justamente para que ninguém esqueça e nunca mais aconteça.
?Quatro: Ainda que a gestão econômica nacional venha sendo — grosso modo — bem-sucedida e que no âmbito internacional Lula acumule cacife e prestígio, a correlação nas Américas é desdosada, não só por conta das sucessivas vitórias do polo neoliberal-fascista nas eleições nacionais, seja pela nova Estratégia de Segurança Nacional decretada por Trump.
?Enfim, dosar as questões que estão em disputa e assegurar fundamentalmente que a punição não seja descaracterizada, premiando o malfeitor, exige perseverança política na ideia-motriz de Frente Ampla, sócia insuperável da resistência democrática.
A batalha institucional travada tem como centro nosso governo e a sua governabilidade, aponta para o pleito que se realizará em dez meses, e o ponto-chave está em transformar a cidadania em movimento de massas permanente e vigilante, sob pena de novas investidas golpistas, venham elas do Congresso, de Trump ou do Bolsonarismo. A luta é a nossa maior medida.