Manutenção preventiva não é gasto, é investimento!
É poda de árvores no período correto, substituição de cabos e equipamentos envelhecidos, reforço estrutural da rede, equipes suficientes e qualificadas para agir antes da emergência.
Nada disso é novidade para quem trabalha no setor elétrico. Ao contrário: é o básico.
Privatização reduziu trabalhadores
O problema é que esse básico deixou de ser prioridade. Após a privatização, o número de trabalhadores foi drasticamente reduzido. A antiga Eletropaulo tinha mais de 10 mil funcionários. Hoje, a Enel opera com menos da metade disso.
Parte expressiva do serviço foi terceirizada, inclusive áreas estratégicas e de emergência, comprometendo a memória técnica, a integração das equipes e a rapidez na resposta.
Os dados falam por si. Os investimentos em manutenção caíram:
- de R$ 419 milhões no primeiro semestre de 2023
- para R$ 315 milhões no mesmo período de 2024.
Nos bastidores, o cenário é ainda mais preocupante:
- falta de equipamentos básicos,
- almoxarifados vazios,
- demora na entrega de EPIs e
- técnicos impedidos de atuar por ausência de material.
Esse sucateamento cobra seu preço quando o tempo fecha!
A conta não fecha
Na capital paulista, estima-se que a rede elétrica precise de cerca de 18 mil intervenções urgentes para corrigir problemas graves acumulados ao longo dos anos. Some-se a isso uma fila recorrente de milhares de árvores sem poda adequada — justamente um dos principais fatores de queda de energia em dias de vento forte.
Outro ponto crítico é o modelo regulatório. A Enel se ampara em indicadores de qualidade ultrapassados, definidos há mais de duas décadas, e em mecanismos como os religadores automáticos, que “maquiam” interrupções e adiam manutenções estruturais. A fiscalização, por sua vez, baseia-se majoritariamente em dados fornecidos pela própria empresa. Assim, o risco é empurrado para a população, enquanto o sistema segue operando no limite do aceitável.
Não se trata apenas de discutir a cassação ou não da concessão. Mudar o nome da empresa, sem mudar o modelo de gestão, pouco resolve. É preciso exigir manutenção preventiva contínua, recomposição real do quadro de trabalhadores, revisão dos indicadores de qualidade, fiscalização rigorosa e transparente e contratos que priorizem a segurança da rede e da população.
Os eletricitários são parte da solução
Os Eletricitários que sobem em postes, entram em túneis superaquecidos e trabalham sob chuva e vento não podem ser transformados em alvo da revolta popular. Eles são parte da solução, não do problema. O verdadeiro apagão está na falta de planejamento, de investimento e de compromisso com um serviço essencial.
Enquanto a lógica for “pagar para ver se dá problema”, São Paulo continuará vivendo apagões anunciados. A natureza avisa. A manutenção preventiva evita. Ignorá-la é escolher o risco como política.