José Reginaldo Inácio, presidente da NCST, é cientista social e eletricitário. Ele iniciou no movimento sindical em Minas Gerais no Sindicato dos Eletricitários do Sul de Minas e na Federação das Indústrias Urbanas de Minas Gerais.
Ele assumiu este ano a presidência da central em um momento difícil para a entidade e movimento sindical com a morte do José Calixto devido às complicações da covid-19 e como José Reginaldo que o Calixto é um dos maiores sindicalistas da história.
Nesta entrevista ele fala sobre o sindicalismo, sua importância para a defesa dos trabalhadores e a atual conjuntura da economia que na mão do Bolsonaro só tem piorado cada dia mais.
Mundo Sindical: Como foi assumir a central após o falecimento do Calixto, que é um grande sindicalista e líder?
José Reginaldo Inácio: Não tem sido fácil. Afinal não se trata apenas de questões internas da central como, políticas, administrativas e econômicas, de uma sucessão normal de uma entidade sindical.
Ao assumir a presidência de uma central, por si só, já é um enorme desafio, isso numa situação de normalidade política, social e econômica.
Diante da realidade vivida no país e no mundo, sobretudo às classes trabalhadoras: desemprego, inflação, ruptura de direitos, inflação, fome, violência, adoecimento, mortes..., se torna maior as dificuldades.
Agora, quando se soma às situações postas, suceder Calixto, uma das maiores lideranças sindicais de nossa história, amplia nossa responsabilidade, principalmente nas circunstâncias em que ocorreu. Além da sua trágica morte, temos de lembrar que ele lutou até seu derradeiro suspiro e foi uma das vítimas do genocídio que assola o país. Apesar desse momento de tamanha dificuldade, a presença de Calixto em nossa história e os motivos que o mantinham em ação têm sido nossa grande inspiração e especial estímulo para acreditar na superação da dura realidade em que vivemos, pois tenho certeza é isso que ele consideraria para essa difícil travessia.
Mundo Sindical: Desde a reforma trabalhista que o movimento sindical e os trabalhadores vêm passando por dificuldades. O que o sindicalismo precisa fazer nesse momento para melhorar as coisas?
José Reginaldo Inácio: Primeiro, como dizia Calixto, é acreditar que “o sindicalismo é uma chama que não se apaga”. Essa convicção, ainda que despercebida entre nós, desde a Revolução Industrial, sempre foi determinante em todos os momentos críticos pelos quais passou a humanidade, sobretudo a classe trabalhadora.
Segundo, reconhecer sua identidade classista. O pertencimento ao mundo do trabalho. O que quero dizer com isso: a necessidade urgente de o sindicalismo romper com a ação sindical formal. Subverter a formalidade imposta se torna estruturante ao ato sindical. Representa a totalidade da classe trabalhadora, seja ela formal ou informal, empregada ou desempregada. O sentido fragmentário, desagregador, separatista, precarizado, que desestruturou as classes que vivem do trabalho não pode ter espaço na ação sindical. Romper com essa lógica impulsionada, desde a terceirização irrestrita se tornou regra, e conseguiu piorar as condições de trabalho ao se mover na lógica de degradação contínua com a intermitência contratual decorrente da Lei 13.467/17. Enfim, o sindicalismo não deve acompanhar a precarização, fragmentar-se como que obedecendo a lógica que corrói não só direitos, mas as condições e ambientes de trabalho. A pulverização da ação sindical, o divisionismo da representação classista é a síntese do que o capital espera para impor suas políticas de exploração e aviltamento de direitos, portanto conter esse processo entre nós é determinante para enfrentar as dificuldades atuais que, inclusive, podem se ampliar caso a nossa unidade não se consolide como um dos objetivos prioritários do sindicalismo.
Mundo Sindical: O fim do imposto sindical foi o grande prejuízo para o sindicalismo e trabalhadores?
José Reginaldo Inácio: Foi um dos prejuízos. Acredito que a quebra da autonomia das assembleias seja mais prejudicial, porque para além da estrutura econômica e administrativa sindical, também compromete a dimensão e o sentido político originário da organização trabalhadora e a base que sustenta a luta de classe, sua resistência e conquistas históricas.
Mundo Sindical: Como o senhor enxerga a atual conjuntura econômica do país?
José Reginaldo Inácio: Quando a conjuntura econômica escancara que o Estado se limita a proteger e alimentar o mercado, a população tem que buscar no lixo seu alimento. Fazer fila até para catar osso, espinha de peixe ou até ter que pagar por eles para alimentar os seus. A miséria, a fome, o desemprego, a inflação são os sinais de uma economia carcomida. Uma economia cujo nível de desigualdade expõe as vísceras de uma sociedade com intensa desigualdade e injustiça social, na qual as decisões e ações do governo e da maioria daqueles que fazem e fiscalizam as leis, não estão preocupados em reverter essa ordem. Quando medidas como a PEC 32 ou a derrotada MP 1045 são fluxos ativos para sustentar a economia, então a visão que se tem da conjuntura é a pior miragem que se pode enxergar.
A pandemia do covid-19 potencializou as desigualdades sociais, temos que reconhecer, e lançou uma nuvem pestilenta sobre os grupos considerados vulneráveis, como jovens, negros, mulheres, indígenas e a população LGBTQIA+, por exemplo. A violência, letalidade da população negra e em situação de rua, a falta ou a interrupção de políticas públicas, como a dificuldade de acesso à renda, conduziram o país ao pior cenário de pobreza das últimas décadas.
Mundo Sindical: A união das centrais sindicais é o caminho para a melhora da economia e defesa do trabalhador?
José Reginaldo Inácio: Sim. Desde 2019, mas ainda com o enfrentamento da pandemia do covid-19, a unidade das centrais ganhou expressão e tem sido determinante à derrota de medidas e ações governamentais e do Congresso Nacional contra as classes trabalhadoras. A derrota das MPs 905, 927, 1045, por exemplo, além de alterações importantes em diversas outras, somadas às mudanças e aos impedimentos de projetos de lei e de emendas constitucionais.