Em entrevista à TV CNN, um dia depois de ter sido eleito para a presidência da Comissão da Educação da Câmara, o deputado Nikolas Ferreira (PL-MG) elencou, entre suas prioridades, o combate ao uso da “linguagem neutra” e à “doutrinação” existente nas escolas e o homescholing (ensino domiciliar). A fala do deputado é um indício dos ataques que a ultradireita tentará impor em uma das principais comissões do Congresso.
A eleição do bolsonarista, na quarta-feira (6), causou indignação nos setores da Educação. Nikolas foi eleito com um placar de 22 votos a favor e 15 em branco.
Mas, apesar das críticas, a eleição foi fruto de um acordo do PL com o governo PT, que optou por ficar com a presidência da Comissão da Saúde e deixar a Educação para o PL. Os partidos têm as maiores bancadas parlamentares na Casa, o que define as escolhas das comissões.
Inimigo da educação
Bolsonarista dos mais reacionários, Nikolas é conhecido por vários ataques transfóbicos, aos quais, inclusive, responde na Justiça; ofensas e bate-bocas no plenário e em comissões do Congresso; postura reacionária e contrária à Educação pública, laica e democrática.
Na entrevista à CNN, a jornalista questionou Nikolas se diante de um país com problemas tão graves na Educação, as prioridades (ideológicas) citadas por ele seriam de fato importantes e necessárias. Não são. Mas, inimigo da Educação pública, o bolsonarismo elegeu as fake news e pautas reacionárias para impor a ideologia de ultradireita e avançar com a privatização do ensino público.
A integrante da Secretaria Executiva Nacional da CSP-Conlutas, a professora e dirigente do SEPE-RJ Bárbara Sinedino afirmou que é “inadmissível” que Nikolas seja o presidente da comissão de Educação da Câmara Federal.
“Não aceitamos esse modo de governar da Frente Ampla, que concilia com os patrões e faz acordo com a extrema direita”, denunciou.
Barbara destacou ainda a posição da CNTE (Confederação Nacional dos Trabalhadores da Educação), pois a entidade, filiada à CUT, disse apenas estar “preocupada”, mas espera que o deputado “possa fazer as escutas necessárias e respeitar as diversidades”.
“Essa posição é inaceitável”, disse. “Exigimos mobilização já da CNTE e todos os seus sindicatos. Fora Nikolas Ferreira!”, defendeu.
Greve nacional da Educação
A professora aposentada e também integrante da SEN da CSP-Conlutas Joaninha Oliveira destaca que professores, alunos e pais enfrentam uma Educação pública cada vez mais sucateada por descaso dos governos.
“O governo Lula também tem feito cortes de verbas, não revogou o Novo Ensino Médio e as políticas do MEC [Ministério da Educação] estão sendo ditadas conforme interesses de fundações e setores privados. A categoria segue também vendo desrespeitado o piso salarial do magistério, entre vários outros problemas. Este ano entrará em debate o Plano Nacional da Educação (PNE) que deverá traçar as metas para os próximos dez anos”, disse.
“Cada vez mais se faz necessário a construção de uma greve nacional da Educação. É preciso que as entidades do setor organizem a mobilização”, defendeu.