Notícia - Conjuntura nacional: é preciso independência para enfrentar ataques do governo Lula e a extrema direita

A situação no Brasil foi o tema do debate realizado na tarde do sábado (16), segundo dia de reunião da Coordenação Nacional da CSP-Conlutas. Além de analisar os vários aspectos da conjuntura, as discussões apontaram quais devem ser as tarefas da Central no próximo período para defender os interesses da classe trabalhadora.

Na mesa, os expositores apresentaram as análises das chapas eleitas para a SEN da Central. Falaram pelo Bloco Majoritário, a professora e atual vereadora em Belém-PA, Silvia Letícia (Revolução Socialista/PSOL) e Joaninha Oliveira, professora aposentada e militante do PSTU; Matheus Crespo, diretor do Sindicato dos Bancários do RN e militante do MRS; Diego Vitelo, diretor do Sindicato dos Metroviários de SP e militante do Combate/CST; Fabiano dos Santos, diretor da Fenajufe; Maíra Machado, coordenadora da subsede Santo André da Apeoesp e militante do Nossa Classe/MRT, e José Dalmo, servidor do Judiciário e integrante do Movimento Frente Revolucionária Socialista.

Um ano e três meses de governo Lula

A professora e vereadora Silvia Letícia iniciou destacando que no Brasil, passado um ano e três meses do terceiro mandato de Lula, o governo mantém relativa estabilidade, mas com pequena queda de popularidade e contradições.

“Houve um crescimento do PIB, ainda existe um sentimento de alívio e vitória com a derrota de Bolsonaro, e expectativas em relação ao governo, mas já começa a haver certo grau de desgaste em alguns setores, e lutas importantes, ainda que isoladas, tem acontecido”, resumiu.

A dirigente citou várias medidas contrárias aos interesses e direitos dos trabalhadores, como o Arcabouço Fiscal, as alianças com o Centrão, o uso da GLO nas favelas, a lei orgânica das polícias, que dá aval do governo ao banho de sangue nas periferias, como em SP, Bahia e outros estados; o veto parcial ao Marco Temporal, a política de privatização via PPPs, a proposta de reeditar a Reforma Administrativa e o cancelamento de eventos oficiais sobre os 60 anos do golpe. “Medidas que deixam visível a submissão do governo à banca internacional e sua opção de governar para os interesses dos ricos”, afirmou.

Silvia ressaltou ainda que diante dessa situação, o governo novamente conta com a total capitulação das direções das Centrais Sindicais e direções dos movimentos.

“Nossas tarefas fundamentais são fortalecer e unificar as lutas, impulsionar um campo de independência de classe e oposição de esquerda ao governo Lula e seus ataques. A principal polarização que temos hoje é contra o ajuste fiscal do governo. A CSP-Conlutas deve se jogar nos processos de luta direta, junto à classe, e fazer também a disputa ideológica, de enfrentamento ao Capital e seus agentes de plantão, com a perspectiva de superação desse sistema capitalista”, defendeu.

Apresentando também a análise da conjuntura do Bloco Majoritário, Joaninha Oliveira salientou que apesar do crescimento do PIB maior do que se estimava, o Brasil segue decaindo na divisão mundial do trabalho.  “Isso ocorre em razão da submissão do governo aos imperialismos, de rapinagem, que se reflete nas condições de vida da população, como a precarização, a violência, o encarceramento, entre outros problemas”, disse.

“O governo de conciliação de classes de Lula tenta repetir a política de mandatos anteriores, mas tem um problema. Ao mesmo tempo em que ele tenta reeditar medidas compensatórias, programas de renda mínima, há uma submissão à rapina imperialista e ele acaba aplicando no país a política defendida pelo Banco Mundial, o que alguns setores chamam de neoliberalismo inclusivo”, disse.

Joaninha destacou também que o governo Lula tem uma política de concessões ao Centrão, à direita, que não enfrenta o golpismo desses setores, uma postura de conciliação e anistia à cúpula das FFAA, mesmo depois dos atentados do 8 de janeiro.

Em sua fala, Matheus Crespo avaliou que passado um ano e três meses do novo mandato de Lula, os ataques hoje à classe trabalhadora vêm do governo. “Independente do desastre que foi o governo de Bolsonaro, hoje quem tem o poder da caneta e do orçamento é o PT, que tem como prioridade a política do arcabouço fiscal. “Por isso, nem mesmo nos aspectos democráticos tivemos resultados significativos. Ao contrário, aumentam os feminicídios, a morte de yanomamis, indígenas e lideranças sociais. Estamos diante de um processo enorme de luta do funcionalismo federal porque o governo quer impor reajuste zero, sem falar que estrategicamente o objetivo é fazer uma reforma administrativa”, exemplificou.

“A CSP-Conlutas precisa ter uma campanha para enfrentar esses ataques, o desemprego, a precarização, como o PL dos aplicativos apresentado pelo governo, que exija também a prisão imediata de Bolsonaro, entre outras lutas. Apesar deste ser um ano de eleição, quando muitos só pensam nisso, devemos apostar no caminho da ação direta”, disse.

Políticas de conciliação com a burguesia alimentam a extrema direita

O dirigente metroviário e da CST Diego Vitelo observou que situações como a redução da inflação e do desemprego e crescimento do PIB, tão comemorados pelo governo, não se revertem no nível de vida da população que em seu cotidiano enfrenta empregos cada vez mais precários, terceirização, uberização. “70% dos aposentados vivem do salário mínimo de R$ 1.412”, disse.

“Além disso, o plano do governo, que tem todo apoio da burguesia, tem a ver com o arcabouço fiscal, os marcos regulatórios, a reforma administrativa... São contradições que estão se agudizando, não podem ser resolvidas por esse governo e podem evoluir para um processo de lutas”, avaliou.

 “Os técnicos-administrativos das instituições de ensino federal estão realizando assembleias massivas. Protagonizam a primeira greve nacional que enfrenta a política do arcabouço fiscal”, disse. Diego destacou que estão se abrindo processos de lutas e a CSP-Conlutas tem de intervir nas mobilizações.

Em relação à extrema direita, Diego disse que ela está “bastante viva, apesar de não estar na ofensiva” e que demonstrou que ainda tem poder de mobilização e que seu projeto ainda é de fechamento de regime, perigoso para nossa classe. “A política de conciliação do governo de Frente Ampla retroalimenta a extrema direita. Nossa tarefa é construir uma alternativa da esquerda”.

Para Diego, os trabalhadores precisam também fazer o debate para ter uma Frente de Esquerda nas eleições.

O servidor do Judiciário e dirigente da Fenajufe Fabiano dos Santos também ressaltou a gravidade do novo arcabouço fiscal do governo Lula. “Uma política que mantém o teto de gastos, esvaziou o orçamento público federal e fortalece o rentismo”, disse. “Isso explica porque o crescimento do PIB não se traduz em melhoria das condições de vida dos trabalhadores”, completou.

Segundo Fabiano, setores governistas, do ativismo e na classe - após a experiência aterradora do governo de Bolsonaro, de mortes na pandemia, devastação ambiental, etc - dizem que denunciar e enfrentar os erros do governo Lula significaria jogar água no moinho da extrema direita, fortalecendo-a. O dirigente discordou. “A partir do que ocorre no cenário mundial, podemos ver que diante das falhas do governo de Biden, Trump volta fortalecido após tudo o que aconteceu”, exemplificou. “É preciso entender que a luta contra a extrema direita e em defesa da classe trabalhadoras se faz nas lutas concretas”, afirmou.

“Processos de luta já começam a existir como no funcionalismo, onde tenta se construir uma greve nacional unificada, apesar da postura de conciliação das direções governistas. O papel da CSP-Conlutas é buscar fortalecer as pautas da classe, impulsionar e estar junto em suas lutas”, defendeu.

Fortalecer a CSP-Conlutas como alternativa classista

A professora Maíra Machado, do MRT, e o servidor do judiciário José Dalmo, da Frente Revolucionária Socialista encerram as exposições.

Maíra iniciou com uma saudação à greve dos professores e servidores municipais de São Paulo e as mobilizações dos professores estaduais, e afirmou que a vitória dessas e outras lutas podem ser importantes pontos de apoio para toda a classe trabalhadora e que a CSP-Conlutas deve cobrir de solidariedade e apoio os trabalhadores.

Citando os ataques à Educação que seguem ocorrendo no governo de Lula, como a não revogação do Novo Ensino Medio, a manutenção de bolsonaristas e grupos privados no MEC, o acordo do PT com o PL que resultou na escolha do deputado Nikolas Ferreira para a Comissão de Educação da Câmara, Maíra enfatizou que a política de conciliação do governo é que abre espaço para a extrema direita.

A dirigente denunciou também medidas como a lei das polícias do governo Lula, que potencializa a violência policial que assola as favelas e periferias no país, como a chacina que vem sendo feita pela PM do governo de Tarcísio de Freitas.

Para Maíra, o papel da CSP-Conlutas é apontar uma alternativa classista, independente, atuar pela unificação das lutas e exigir das Centrais Sindicais que rompam com o governo, para enfrentar a extrema direita e defender as reivindicações dos trabalhadores.

Dalmo afirmou que o atual momento no mundo é complexo e que a esquerda “não pode atuar com simplificações”. “A luta ideológica está colocada com muita força. A extrema direita está fazendo isso e as organizações dos trabalhadores precisam fazer o mesmo. “É preciso fazer uma luta antissistema que é uma bandeira nossa, os sindicatos precisam fazer isso, uma luta pelo desenvolvimento da consciência da classe e pelo socialismo”, disse.

Na sequência das apresentações, foi aberto às intervenções do plenário e diversas falas trouxeram mais informações e análises que aprofundaram o debate. No domingo, a Coordenação Nacional da Central aprovará uma resolução política.


Fonte:  CSP-Conlutas - 18/03/2024


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