A história da Embraer traz elementos que em nada orgulham o país. São fatos trazidos a público pela pesquisa “Responsabilidade de empresas por violações de direitos durante a Ditadura”, realizada pelo Centro de Antropologia e Arqueologia Forense (Caaf) da Unifesp. Parte dessa pesquisa será apresentada, no dia 2 de agosto, às 18h, na sede do Sindicato. O evento também marcará os 40 anos da greve de 1984 dos trabalhadores da Embraer.
A pesquisa, acompanhada pelo Ministério Público Federal (MPF), confirma estudos feitos pela Comissão Municipal da Verdade e Comissão da Verdade dos Metalúrgicos, de São José dos Campos. O resultado será apresentado, em suas linhas centrais, pela pesquisadora Elaine de Almeida Bortone.
Monitoramento
Na pesquisa consta que, durante o governo militar, o Centro Comunitário de Segurança do Vale do Paraíba (Cecose-VP) monitorava sindicatos e trabalhadores. Documentos indicam que as reuniões aconteciam mensalmente com os chefes de segurança das empresas.
Frequentemente, eram convidados integrantes de órgãos de informações do Exército, Marinha, Aeronáutica e polícias Federal, Estadual e Municipal. Era, portanto, uma atividade de colaboração entre empresários e a ditadura na perseguição aos trabalhadores e ao movimento operário.
A greve de 1984
Agosto de 1984. Os metalúrgicos da Embraer permaneceram três dias em greve, com a fábrica ocupada, exigindo equiparação salarial. A mobilização levou a empresa a chamar a Polícia Aeronáutica para forçar a saída dos trabalhadores.
Ao fim da ocupação, 126 operários foram demitidos por justa causa. Mas o terror não parou aí. Trabalhadores demitidos foram submetidos a horas de interrogatório por militares, que tentavam arrancar confissões sobre participações na greve.
A repressão continua
Passados quase 40 anos desde o fim da Ditadura Militar, a perseguição e repressão ao movimento operário continua. Recentemente, dirigentes do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos passaram por momentos que retomavam ações típicas do governo militar.
Na Campanha Salarial de 2023, o diretor do Sindicato José Dantas Sobrinho e o ativista Ederlando Carlos dos Santos foram detidos quando organizavam uma assembleia na Embraer. Um vídeo comprova a agressão física e o abuso de autoridade por parte da Polícia Militar.
Outro caso aconteceu na sexta-feira (19), em uma manifestação organizada pelo Sindicato, durante visita do presidente Lula à Embraer. A Polícia Aeronáutica tentou conter a manifestação pacífica que estava acontecendo na Avenida Faria Lima.
“A história tem de ser lembrada para que não se repita. A classe trabalhadora foi extremamente penalizada pelo governo militar, que criminalizava qualquer movimento em defesa dos direitos e das liberdades democráticas. As empresas que colaboraram e se beneficiaram com a ditadura têm de ser responsabilizadas e punidas. Ditadura, nunca mais!”, afirma o presidente em exercício do Sindicato, Valmir Mariano.
A sede do Sindicato fica na Rua Maurício Diamante, 65, Centro, São José dos Campos.