Próximo ao final do ano de 2024, o Sintracon-SP realizou uma confraternização entre seus colaboradores onde enalteceu o trabalho desenvolvido por todos em prol da categoria dos trabalhadores da Construção Civil de São Paulo.
“Em todas as frentes de atuação do nosso Sindicato logramos êxito. Os índices de anos passados foram ultrapassados para melhor. E devemos isso aos funcionários da entidade, que empenharam esforços desmedidos nas visitas de fiscalização e conscientização da base, no avanço do número de associados, em atendimento personalizado, realização de cursos e campanhas elucidativas quanto à saúde nos canteiros. Também obtivemos mais uma Convenção Coletiva com aumento real (acima da inflação) para a categoria”, elencou o presidente da entidade, Ramalho da Construção.
Renovação com experiência é a filosofia de ação do Sintracon-SP. Prova disso é que, durante a confraternização, foram homenageadas cinco figuras indispensáveis ao crescimento histórico sustentado daquele que é um dos maiores Sindicatos da América latina.
Sim. Na ocasião, cinco grandes integrantes do corpo de recursos humanos da Casa do Trabalhador foram homenageados: Lourdes Cristino, Doutor Sumio Egawa, Wanderley Milton Alexandrino, Doutor Eber Vitor Duarte e o Doutor José Carlos Arouca, que não pode comparecer por estar enfermo.
Eles receberam placas em homenagem às suas passagens marcantes pelo Sintracon-SP. Leia um pouco das histórias, edificantes, dos cinco colaboradores especiais:
Dona Lourdes Cristino
Nasceu em São Pedro, município paulista a 190 quilômetros da Capital bandeirante. Mais precisamente numa fazenda, a Serreta, que abrigava seu pai, português, e a mãe, brasileira.
Entretanto, Lourdes Cristino, ainda bem criança, já tinha algumas convicções de vida: não gostava nada de carpir, trabalhar na roça. Só ia obrigada.
Aos 9 anos de idade, surgiu a oportunidade de mudar de ares. Parte da Família Amalfi, dona da Fazenda, sentiu a necessidade de se mudar para a cidade de São Paulo. Precisariam de ajuda com todo tipo de afazeres.
Lourdes, hoje, tem 89 anos. Portanto, tudo ocorreu no início da década de 1940, no auge da Terra da Garoa, que marcou época na história paulistana, sendo cantada em prosa e verso.
No estrear dos anos 1980, Lourdes Cristino entrou para as fileiras do Sintracon-SP, o Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil de São Paulo, como telefonista.
“Ramalho injetou sangue novo nos destinos da entidade representativa dos trabalhadores. Lembro que ele tomou posse altamente preocupado com a segurança de uma categoria onde tantos sofriam acidentes fatais. Aumentou muito o grau de fiscalização dos canteiros de obras. E os acidentes foram sendo diminuídos mais e mais”, diz Lourdes.
Em paralelo, Lourdes trabalhava na famosa C… Que Sabe, na Rua Rui Barbosa 192, São Paulo, bairro do Bixiga, que marcou época na sociedade da Capital.
Aliás, foi ela quem criou as receitas de todas as massas da cantina, tanto salgadas como doces. Portanto, foi a autora da lista culinária da C Que Sabe.
Sempre teve dois empregos na vida. Gostava de trabalhar e, com trabalho, preenchia sua vontade de vida.
Com o passar do tempo, Ramalho adoeceu. Teve um câncer no intestino que exigia cuidados especiais e alimentação adequada. Então, surgiu a Dona Lourdes. Ela assumiu o desafio e, no Sindicato, suas ações se multiplicavam, angariando respeito e consideração de todos.
Quando completou seus 89 anos, em sua casa apareceram, de surpresa, muitos personagens do Sintracon-SP, como Ramalho da Construção (ao lado da esposa Débora); o secretário-Geral da entidade, Antonio de Freitas Pereira, o Toninho; a secretária Francisca Torres, o colaborador Zé Roberto. Júnior, o filho de Ramalho, prestou homenagens à Dona Lourdes que cuidava dele no Sindicato quando era ainda pequeno.
“Amo o Sintracon-SP. Ter pessoas tão queridas em minha casa foi, para mim, uma declaração de amor. Pena que fui pega de surpresa. Queria ter me arrumado melhor. Me maquiado um pouco, também”, expressou.
Sim. Dona Lourdes é patrimônio humano do nosso Sindicato, onde exerceu múltiplas funções por mais de 40 anos. E quando, no final da entrevista, foi perguntada sobre seus próximos passos, ela não titubeou: “Quero voltar a trabalhar!”
Doutor Sumio Egawa
Fez história no Sintracon-SP. Durante anos a fio, foi diretor clínico do Ambulatório Médico da entidade.
Ele coordenava o atendimento clínico de trabalhadores e familiares do Sindicato, localizado no andar térreo da sede da Rua Conde de Sarzedas, número 386, região central da Capital paulista.
“Houve ano em que se computou 85 mil consultas no Ambulatório, com cerca de 350 pessoas atendidas diariamente. Marcas expressivas, demonstrando a preocupação do líder da categoria, Ramalho da Construção, para com a saúde”, relata Sumio Egawa.
Num exercício de memória, o clínico geral, afirma: “A competitividade profissional na época era muito grande. O grau de exigência imposto pelas construtoras, com prazo curto para entrega de seus produtos, também. Assim, o trabalhador, diante da possibilidade de ganhar um dinheiro a mais, se afundava no trabalho e se esquecia ser de carne e osso. Não havia sábado, não havia domingo, só tensão. Daí advinham questões cardiorrespiratórias que, só com a regulamentação das tarefas, como ainda quer o Ramalho, pode ajudar a resolver”, destaca Sumio.
As doenças mais comuns atestadas eram as de pele, devidas ao ambiente de trabalho e ocasionadas por contato com produtos químicos (tintas, massas, cal).
A maior incidência de procura estava relacionada a problemas cardiorrespiratórios. Doenças ligadas à ortopedia (traumas, contusões, fraturas e lombalgias) dominavam o quadro de atendimento.
Gripe, diarreia, alergias respiratórias, moléstias sazonais, enfim, preenchiam a tabela de procuras, assim como questões oftalmológicas, como conjuntivites, ciscos, glaucoma e distúrbios de visão.
Pesquisa de satisfação feita através de cartas depositadas em urnas específicas assegurava que a categoria estava satisfeita com o sistema médico adotado pelo Sindicato.
“O que o trabalhador queria era um maior número de especialidades. Cobríamos as áreas de clínica geral, cardiologia, ortopedia, urologia, oftalmologia, pediatria, dermatologia, otorrinolaringologia, ginecologia, endocrinologia e gastroenterologia. Fazíamos, também, cirurgias diversas. Mas a categoria pedia neurologistas, psiquiatras, pneumologistas. Ficava impossível atender a um leque tão amplo. Todavia, mesmo nesses casos ninguém ficava desamparado, pois o nosso Sindicato tinha relações diretas com a rede do Seconci-SP, para onde casos específicos eram encaminhados com sucesso”, conclui o Dr. Sumio Egawa.
Doutor Eber Vitor Duarte
Nascido em Itaquaquecetuba, município de São Paulo, no dia 21 de julho de 1945, o Doutor Eber Vitor Duarte foi a principal referência do setor Jurídico do Sintracon-SP por anos a fio.
Seu amor pelo Sindicato brotou cedo. Tanto é que ele, nos primórdios de sua entrada como funcionário, em 13 de maio de 1972, passou num concurso para atuar como fiscal do trabalho, com salário muito bom. Eber foi, mas não gostou. Feliz, mesmo, se sentia advogando na categoria dos trabalhadores da Construção Civil de São Paulo.
“Eu gostava de resolver questões trabalhistas, que eram algo difíceis numa época cuja força das construtoras e empreiteiras era demasiadamente forte. Não só a força, mas também o grau de irregularidades cometidas. O patrão mandava e desmandava. Feria os direitos básicos da categoria e se sentia impune. Época difícil para o nosso operariado”, diz.
A luta, diária, exigia sacrifícios. A jornada, no Sindicato, levava o Doutor Eber a atuar das 7 às 21 horas. Segundo ele, os acordos eram irrisórios. Não chegavam a contemplar sequer 10% dos direitos do trabalhador.
“As coisas começaram a mudar com a entrada, em 98, do presidente Ramalho da Construção, que injetou sangue novo na administração da Casa do Trabalhador. Ramalho tinha trabalhado em centenas de obras antes de se tornar sindicalista. Conhecia os problemas dos canteiros de cor e salteado. A primeira coisa que ele atacou foi com a questão da segurança no trabalho, pois viu muita gente morrer ou sofrer sequelas por ocorrências de natureza fáceis de resolver. Os números de acidentes foram caindo muito”, salienta o advogado.
Segundo Eber Vitor Duarte, Ramalho aumentou bastante o número de pessoas no Jurídico e, também, no ambulatório médico da categoria. Obteve diversas conquistas históricas, como café da manhã fortalecido e lanche da tarde. As Convenções Coletivas melhoraram muito. Os benefícios, também.
“Fico muito honrado em ter minha trajetória lembrada pelo Sindicato. Um prêmio à minha dedicação. Principal lembrança? Os jogos de futebol na Zona Norte quando atuava como lateral direito pelo time da entidade. Nossa equipe contava com três advogados. Se o jogo fosse para o tapetão era vitória certa”, brinca e conclui.
Wanderley Milton Alexandrino
Nascido no bairro paulistano do Belenzinho, entrou para o Sintracon-SP no ano de 1968, em plena ditadura militar, como gosta de salientar.
“Nos anos de chumbo, os sindicatos estavam na mira. Eram tratados a rédea curta. Muitos sindicalistas foram presos, cassados e até mortos por defenderem o trabalhador e defenderem outras ideologias”, conta Wanderley.
Ele só saiu do Sintracon-SP em 2020, ou seja, 52 anos após sua admissão. O lugar em que mais contribuiu com a categoria, foi no Ambulatório Médico que Wanderley ajudou a fundar e a montar com o Doutor Oswaldo Bocalini.
O setor virou um colosso, com 35 médicos, 15 dentistas, três técnicos de raio X e quatro de enfermagem. Recebia diariamente centenas de pessoas, das 7 horas às 21 horas.
Após esse período, passou a ser assessor imediato do atual presidente, Ramalho da Construção.
“Acompanhei o Ramalho especialmente no período em que ele precisou combater, com todas as suas forças, um câncer na região abdominal. O líder de nossa categoria não parava de trabalhar por nada. Mesmo no leito, despachava orientações e toda gama de documentos estratégicos”, atesta Wanderley.
Tem especial saudades de pessoas de sua época, como Abel Ferreira, Emílio Sanches e Edson Guimarães da Silva. E conclui: “o Sintracon-SP corre no meu sangue até hoje. Diria que foi a minha primeira casa.”
Doutor José Carlos Arouca
O advogado trabalhista e escritor, Doutor José Carlos Arouca pode ser considerado uma lenda na arte de melhor equilibrar a balança entre o capital e o trabalho. E não só no Sintracon-SP, mas praticamente em todo o movimento sindical.
Segundo o Doutor Arouca, a área trabalhista sempre foi sua paixão. “Quando me formei, ninguém queria fazer Direito trabalhista. Mas eu sempre gostei”, conta.
O advogado ingressou no sindicalismo em 1961, no Sindicato dos Padeiros de SP. Daí em diante passou a atuar em muitas entidades.
Uma de suas prioridades sempre foi a sustentação oral no Tribunal. Ele rememora:
“Nem almoçávamos. Só comíamos lanche. Íamos para a Justiça do Trabalho e fazíamos até cinco audiências. Quando terminava o expediente, ainda íamos examinar petições”.
Doutor Arouca sofreu perseguição da ditadura. Sindicatos e Federações também foram vítimas. “O regime fechou Sindicatos, fui preso e processado.”
Segundo o advogado, “conseguimos, por meio de vitória judicial, a criação de Comissão, com estabilidade, que muito fortaleceu as entidades de defesa dos trabalhadores, fiscalizando mais especificamente as condições no ambiente dos serviços. Essas comissões existem até hoje”, ele afirma.
Nascido em Ribeirão Preto, Interior paulista, Arouca se formou em direito pela Universidade de São Paulo em 1959. Em 1964 foi aprovado no concurso para juiz do trabalho, mas, perseguido pelo regime de exceção, teve sua nomeação recusada por motivos políticos.
Em 1999, Arouca foi nomeado juiz do TRT São Paulo pelo presidente Fernando Henrique Cardoso, na vaga do quinto constitucional reservada à Ordem dos Advogados do Brasil.
Participou de sua última sessão no Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região (São Paulo), em 25 de agosto de 2005. Completou 70 anos e teve de se aposentar. Mas, no Sintracon-SP, continua ativo, sendo fonte de consultas de matérias jurídicas compatíveis à melhoria da qualidade de vida do trabalhador.
Arouca é autor dos livros “Em Defesa da Unidade Sindical” (1985), Os Trabalhadores e a Nova Constituição” (1998), “O Sindicato em Um Mundo Globalizado” (2003), “Curso Básico de Direito Sindical”. Mais recentemente lançou “Organização Sindical no Brasil, Passado – Presente – Futuro”.