Notícia - I Seminário do Ramo Financeiro Rumo à COP30 é realizado pela categoria em Brasília

Na segunda-feira (20) e na terça-feira (21) a categoria realizou, no Teatro dos Bancários, em Brasília, o I Seminário do Ramo Financeiro Rumo à COP30. O evento foi organizado pela Federação dos Empregados em Estabelecimentos Bancários do Centro-Norte (Fetec-CUT/CN) como parte de um ciclo de seminários preparatórios para o XII Congresso da entidade.

COP30 é a trigésima edição da Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas que, neste ano, será realizada no Brasil, na cidade de Belém, no Pará. "Há uma grande expectativa sobre esse evento, de importância mundial. Porque estamos em um momento de alerta em termos de crise climática, com uma escalada de eventos estremos, nunca vistos antes na nossa geração", explica a secretária de Políticas Sociais da Confederação Nacional dos Trabalhadores e das Trabalhadoras do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), Elaine Cutis, que acompanhou o evento.

No debate “Os Trabalhadores do Ramo Financeiro Rumo à COP30”, o presidente do Sindicato dos Bancários do Acre, Eudo Rafael, destacou a importância da categoria na conferência mundial. "Será fundamental para discutir não só a crise climática, mas financiamento dos bancos públicos, o próprio Plano Safra, as formas de inserção [desses investimentos], principalmente na Amazônia, onde a monocultura tem tomado conta", destacou. "Lembrando que os bancos públicos, em especial o Banco do Brasil e o Banco da Amazônia, têm financiado a monocultura da soja, do café e de outras monoculturas que tem empurrado o gado para dentro da floresta amazônica. Temos que combater essa política de desmate e de alteração climática", completou.

Uma das participantes da mesa foi Ângela Mendes, filha do seringueiro Chico Mentes, assassinado, em 1988, por denunciar grileiros de terras, no Acre. "A gente ouve muito falar de um Chico ambientalista e alguns o chamam até de ecologista, né? [Mas] quando ele fez a sua luta, não sabia nada disso. Ele sabia que era um seringueiro e que precisava lutar pra manter a floresta em pé junto com seus companheiros e companheiras, pra viverem e viverem em harmonia com a floresta e a natureza. Porque, afinal de contas, há uma sinergia: a floresta alimenta o homem e o homem protege e cuida dessa floresta", explicou Ângela. "Mas existe um Chico que foi alfabetizado por um companheiro, Euclides Távora, e que introjetou, no meu pai, esse letramento sobre luta de classe, sobre importância de organização, inclusive política. Então, ele era um ser político", completou.

A editora da Revista Xapuri, Zezé Weiss, contou como começou sua relação com a categoria, há dez anos, quando a Fetec-CUT/CN a chamou para fazer a revista. A relação se fortaleceu durante a pandemia (2020), com a Campanha SOS Xavante. "Já estávamos envolvidos com o apoio nas comunidades Xavantes, que são as mais próximas de nós, mas não tínhamos os meios de transformar essa realidade, e isso foi possível com a Fetec e os sindicatos, naquele momento de desesperança para as comunidades indígenas", contou. "Em menos de uma semana, tínhamos uma campanha montada. Em dez dias tínhamos mais de 100 vídeos gravados por artistas, celebridades e sindicalistas do Brasil inteiro e, em três meses de campanha, conseguimos arrecadar quase cinco milhões de reais", completou.

A diretora da Fetec-CUT/CN e presidenta da CUT Pará, Vera Paoloni, abriu sua fala questionando o papel dos financiadores do modelo de produção predatório e que impacta o meio ambiente. "Ano passado, 2024, já é considerado ano mais quente da história. Vivemos uma crise que é consequência climática. Não só a temperatura, mas os ventos mudaram, as chuvas estão intensas, as secas estão intensas e impactam brutalmente nossas vidas, até na questão de respirar, como ocorreu recentemente, na região do Baixo Tocantins, no Pará. Lá tivemos casos de pessoas com dificuldades enormes de respirar, teve bebê morto, porque não conseguia respirar", contou.

"Como movimento sindical, de trabalhadores, queremos ter, efetivamente, primeiro o direito de morar, ter saúde, educação, mobilidade", disse. “Mas também temos que exigir trabalho decente. O nosso governo, na questão ambiental, está trabalhando vários pontos importantes, como a mitigação, mas ainda não entrou no debate do trabalho decente. Lá na Amazônia e aqui no Cerrado, e em todo Pantanal, tem ser humano vivendo, trabalhando e produzindo. Esse ser humano tem que aparecer [nas propostas de política ambiental], com as suas diversidades e dificuldades”, concluiu.

Rodrigo Britto, presidente da Fetec-CUT/CN, comentou ao final da mesa que esse é o primeiro seminário de um ciclo de seminários preparatórios para o congresso da federação, em 2025. “Para isso estamos nos debruçando sobre dados de estudos sobre créditos dos bancos para setores econômicos que desmatam e não fazem bem para o nosso país, para os trabalhadores e para o mundo. Com isso, vamos fazer um debate profundo e tirar propostas de plano de ação para o enfrentamento dessa política [de crédito] que não queremos para os bancos", ressaltou.

No período da tarde, o debate “O financiamento verde dos bancos públicos e a COP30” contou com a participação da secretária de Meio Ambiente da CUT Nacional e dirigente da Contraf-CUT, Rosalina Amorim. Ela reforçou a necessidade da intensa participação da categoria na Conferência Climática, para que haja pressão social suficiente na criação de medidas de combate e mitigação das ações que geram a crise climática. "Precisamos garantir o trabalho decente, garantir de direitos, manutenção de qualidade de vida, no processo de transição que buscamos, de transição justa para os trabalhadores, no processo de mudança da economia atual para uma economia com uso da energia limpa", pontuou. 

China lidera na questão ambiental

O geógrafo e autor do livro “As Finanças do Dragão – O sistema financeiro chinês”, Marcello Azevedo, também participou como palestrante do evento. "Os chineses desenvolvem uma coisa que se chama finanças verdes, é assim que eles tratam a questão ambiental. Trata-se de uma sucessão de programas e projetos financiados pelos bancos públicos, que na China são enormes - quatro entre os cinco maiores bancos do mundo em ativos são chineses. E essas finanças verdes pressupõe financiar toda a cadeia de transição energética da China. É o maior programa de matriz energética em curso no mundo", destacou, completando que esse projeto começou como parte das estratégias Plano Quinquenal de 2015 daquele país, de desenvolvimento social e econômico dentro de cinco anos. Desde então, o tema foi mantido a cada nova versão do Plano Quinquenal chinês.

"O governo, através de suas instituições públicas, financia desde as grandes obras para hidrelétricas, usinas eólicas, solares, etc, até transporte de massa com energia limpa, como o trem bala, dentro dessa perspectiva de finanças verdes", explicou.

Ele concluiu ressaltando que o sistema financeiro chinês é singular, diferente de qualquer outro conhecido na história, que não tem nada a ver com o modelo soviético ou modelo ocidental. "Esse modelo, o Chinês, foi construído em 45 anos. O modelo inglês ou estadunidense [que ditaram o modelo financeiro ocidental de hoje] demorou 200 anos", disse o geólogo e pesquisador. "E esse modelo financeiro chinês, dirigido pelo Estado, foi muito mais eficiente para enfrentar as crises do que o modelo ocidental e se mostra mais eficiente para enfrentar as crises globais. Mas isso só é possível porque passa por um processo constante de reformas. Ou seja, é um sistema financeiro que nunca para, sempre algo é alterado dentro do sistema", concluiu.

Economia solidária

O presidente da Fundação Banco do Brasil, Kleytton Morais, destacou que o modelo de sociedade que o movimento sindical bancário quer construir inclui a "economia solidária", termo que define forma de produção, consumo e distribuição de riqueza que tem a valorização do ser humano como central. No modelo econômico vigente, em praticamente todo o mundo, o que ocorre é o contrário: o capital é que está no centro dos objetivos econômico.

Ele ressaltou ainda que a Fundação do BB atua para promover a economia solidária, por meio de editais de financiamento. "A economia solidária é importante no ponto de vista de gerar trabalho de qualidade, num processo que dialoga também com autogestão, empoderamento, participação e democracia nos territórios. A economia solidária tem que ser nosso orientador, diante das tentativas de destruição de direitos trabalhistas e do desafio da empregabilidade do país, em que pese estarmos sob a liderança do presidente Lula, que alcançou a menor taxa de desemprego da história", concluiu.


Fonte:  Contraf-CUT - 23/01/2025


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