Notícia - Representantes do Comitê Mundial dos Trabalhadores na Volks da Alemanha visitam Sede dos Metalúrgicos do ABC

Os Metalúrgicos do ABC receberam na tarde de ontem na Sede, em São Bernardo, a visita dos representantes do Comitê Mundial dos Trabalhadores na Volkswagen da Alemanha. O grupo conheceu esta semana as quatro plantas da montadora no país – Anchieta, Taubaté, São Carlos, em São Paulo; e Curitiba, no Paraná – , a realidade dos trabalhadores, dialogaram com representantes sindicais e a direção da empresa.

“Debater o futuro, previsibilidade, garantia de emprego e algumas inovações é uma luta comum a todos nós. É hora de dialogar sobre o futuro da marca, principalmente diante desse cenário de corrida tecnológica, eletrificação veicular e aumento da pressão dos chineses”, destacou o diretor administrativo do SMABC e representante do Comitê Mundial, Wellington Messias Damasceno.

Durante o intercâmbio, que ocorre após o fechamento de um acordo crucial para a preservação de empregos às vésperas do Natal na Alemanha, os representantes do Comitê Mundial dos Trabalhadores compartilham os resultados da negociação que garantiu não apenas a manutenção dos postos de trabalho, mas também trouxe inovações importantes e segurança para os trabalhadores.

“Não podemos lutar de forma isolada. Vocês na Alemanha, nós aqui no Brasil, na América Latina, em algum momento a classe trabalhadora tem que se entender porque senão quem vai sofrer são os trabalhadores”, afirmou o presidente do Sindicato, Moisés Selerges.

Participam da visita Daniela Cavallo, presidente do Comitê Mundial e Europeu dos Trabalhadores da Volkswagen; Dariusz Dabrowski, secretário-geral do Comitê; Kevin Koster, Christina Reitmeier, Martin Ackermann e Laura Heberle-Bosse. Todos conheceram ainda projetos sociais mantidos pelos trabalhadores na Volks nas quatro plantas, como o Centro Cultural Afro Brasileiro Francisco Solano Trindade, por meio do Programa Uma Hora para o Futuro.

Governo federal

O ministro do Trabalho e Emprego e ex-presidente dos Metalúrgicos do ABC, Luiz Marinho, participou da conversa e lembrou que existe um processo muito integrado globalmente das cadeias produtivas das principais empresas. “Ter esse intercâmbio é importante para enfrentar esse conjunto de transformações. O Brasil é a nossa experiência e esse Sindicato é um grande exemplo. Cada localidade tem sua especificidade, tem sua inteligência construída no tempo, tem as tradições que sempre tem que ser levadas em consideração”.

Mobilização de 100 mil trabalhadores foi decisiva para desfecho da negociação

No dia 20 de dezembro, a Volkswagen anunciou acordo com o IG Metall, entidade que representa os trabalhadores na Alemanha, e o Comitê Mundial dos Trabalhadores para cortar mais de 30 mil postos de trabalho em suas unidades no país até 2030 e o não fechamento de plantas. A medida será tomada de forma socialmente responsável, enquanto a empresa tenta alcançar 15 bilhões de euros em ganhos de eficiência (mais de R$ 90 bilhões). O acordo prevê ainda corte na capacidade de produção em mais de 700 mil veículos.

A crise foi iniciada em setembro passado, quando a empresa anunciou que estava considerando fechar fábricas na Alemanha e cortar ‘milhares’ de empregos. Seria a primeira vez, em 87 anos de história, que a montadora encerraria atividades de uma planta dentro do país. Companheiros de nove das dez fábricas alemãs iniciaram uma greve em 2 de dezembro com mais de 100 mil pessoas. Desde então, a Volks tentava negociar um acordo para encerrar os protestos para colocar em prática seus planos de cortes de gastos.

Do Brasil

Em dezembro, Wellington esteve na Alemanha para participar das mobilizações e discutir a defesa dos empregos. Na ocasião, conversou com o presidente do IG Metall de Wolfsburg,  Flávio Benites, e participou de reuniões com a direção da empresa. O dirigente representa os trabalhadores brasileiros nas discussões do Comitê Mundial.

“O acordo coletivo dá segurança à categoria e todos estão trabalhando por isso”

Em conversa com a Tribuna Metalúrgica, a presidente do Comitê Mundial e Europeu dos Trabalhadores da Volkswagen, Daniela Cavallo, contou como foi decisivo o apoio e mobilização dos mais de 100 mil trabalhadores na luta contra o fechamento de três plantas da montadora, a preservação dos empregos por um longo período, os próximos desafios e sua percepção sobre o mercado brasileiro.

Tribuna Metalúrgica – Como as greves, que mobilizaram mais de 100 mil trabalhadores, foram determinantes para o desfecho das negociações com a Volkswagen na Alemanha?

Daniela Cavallo – Foi decisivo que os trabalhadores foram às ruas conosco e deram respaldo e apoio ao IG Metall. Fizemos assembleias em que tínhamos que fechar os portões porque já não cabiam mais pessoas. Fizemos também greve de alerta na matriz e em várias plantas simultaneamente. Também tivemos amplo apoio político de outras delegações que vieram demonstrar solidariedade e de colegas europeus, bem como do Brasil, com a participação do Wellington, que enfrentou o frio intenso do inverno, mas ergueu nossa bandeira em respeito às nossas reivindicações. O vídeo enviado por vocês em solidariedade à luta transmitiu muita energia a todas às plantas.

TM – Apesar de 2024 ter sido um ano difícil, 2025 pode trazer problemas já que a montadora não tem um novo carro elétrico previsto para o período e os principais produtos foram adiados devido a atrasos no desenvolvimento de software? Como o Comitê pretende atuar neste contexto?

Daniela – Parto do princípio que 2025 não vai ser muito mais fácil do que o último ano. De fato, vamos sentir cada vez mais reflexos porque os novos produtos só vão chegar em 2026. O que nós podemos fazer é colocar em prática o que combinamos no ano passado, o que vai dar bastante trabalho porque temos uma grande reestruturação a ser feita.

Vamos ter que conversar muito com trabalhadores para explicar as mudanças, mas temos certeza de que se nós, agora, garantirmos nas fábricas alemãs a redução dos custos, manteremos os empregos por mais tempo. Outro ponto importante é fazer mais pressão no plano europeu. As metas de compliance de CO², por exemplo, devem ser alteradas, caso contrário teremos de pagar multas, e queremos investimentos, inclusive, na eletromobilidade.

TM – Aqui no Brasil, a situação das plantas da montadora está mais tranquila, graças a acordos firmados nos últimos anos. O último foi em novembro de 2023 com o compromisso de novos investimentos e a produção de carros híbridos. Qual a sua percepção em relação ao mercado brasileiro?

Daniela – Os responsáveis no Brasil estão fazendo um excelente trabalho, foi reconhecido como funciona o mercado e constatado quais produtos são necessários, como os veículos híbridos, e a frota que precisa ser modernizada para ser competitiva. Temos uma forte concorrência com competidores chineses, que estão tentando cada vez mais produzir localmente e isso vai dificultar ainda mais a situação.

O acordo coletivo dá segurança à categoria e todos estão trabalhando por isso. Com esse intercâmbio, tenho mais informação e se, em algum momento, esses temas forem discutidos no Conselho Fiscal da montadora, tenho todas as informações necessárias. O Brasil é um país onde a Volks já fez grandes negócios e, graças à responsabilidade de vocês, que em novembro de 2023 conquistaram um novo acordo, negociaram e assinaram, garantiram ainda o futuro da fábrica e dos seus trabalhadores. Tenho certeza que os novos produtos que vocês vão receber no âmbito desse acordo coletivo vão despertar a paixão dos clientes.




Fonte:  Sindicato dos Metalúrgicos do ABC / Foto: Adonis Guerra - 03/02/2025


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