Notícia - "A extrema direita mundial decidiu que a desinformação é a sua principal estratégia política"

O Brasil e outras partes do mundo enfrentam dificuldades para combater as fake news e lidar com os estragos que elas provocam.  A extrema direita se utiliza da disseminação do discurso de ódio, com amplo apelo nas redes sociais e recorre, cada vez, mais à inteligência artificial para convencer parte da população de suas ideias. A pergunta que todos do campo progressista fazem é: como combater essa prática? Para tratar do assunto, conversamos com sociólogo e professor da UFABC (Universidade Federal do ABC), Sérgio Amadeu, que atua em defesa da democratização da comunicação.

 

Tribuna Metalúrgica – É possível combater as fake news? Existe uma estratégia?

Sérgio Amadeu – A desinformação é algo extremamente complexo porque existem desinformações de variados tipos. Existe a descontextualização, a negação de fatos e a mentira pura e simplesmente. Não existe um único meio de combater isso que é popularmente chamado de fake news, é necessário combinar a regulação pública democrática com ações de checagem de fatos. Deve ser tratado do ponto de vista educativo, seja nas atividades sindicais, seja nas atividades da educação formal.

 

TM – O que significam exatamente para o Brasil as medidas adotadas por Elon Musk e Zuckerberg que na prática afrouxam as políticas de moderação de conteúdo nas redes?

Sérgio Amadeu – Em primeiro lugar, precisamos deixar claro que a moderação de conteúdo que era realizada pelo Twitter não é realizada pelo X do Elon Musk. E, no caso do Zuckerberg, ele tinha muitas falhas na moderação do conteúdo, mas ele acabava colaborando com as autoridades que identificavam conteúdos notoriamente criminosos e falsos. Agora ele está dizendo que não vai fazer isso, mas os seus dirigentes no Brasil, do grupo Meta, disseram que as medidas de encerramento da checagem de fatos vão valer para os Estados Unidos. Hoje regular a plataforma, controlar a disseminação de desinformação significa enfrentar a extrema direita, porque a extrema direita está em conluio com as plataformas.

 

TM – De qualquer forma, tanto a Meta como o X precisam respeitar as leis brasileiras sobre moderação de conteúdo nas redes, é isso? O que diz a nossa legislação?

Sérgio Amadeu – Nós não conseguimos aprovar a lei que regulamenta as plataformas, que foi conhecido como o projeto das fake news, que era um projeto que visava, mais do que controlar fake news, regulamentar algumas práticas das plataformas. O projeto foi paralisado na Câmara dos Deputados, que está agindo em consonância com as big techs. E cada vez mais vai ser difícil aprovar, essa lei. Existe no Brasil uma série de outras leis que o judiciário pode utilizar para controlar a desinformação e ele tem feito isso. Mas o importante é que a sociedade cada vez mais e a imprensa em particular possam deixar claro quais são as dinâmicas e os processos de desinformação em curso.


TM – Ano que vem é ano de eleições presidenciais. Como nos proteger da desinformação?

Sérgio Amadeu – Insisto que, em primeiro lugar, precisávamos regular as plataformas. A regra, sabemos que não ganha o jogo, ela define como jogar. Para ganhar o jogo, precisamos de política pública, é preciso ter outras plataformas. Precisamos de infraestruturas soberanas, de editais para enfrentar as plataformas, para criar num país que tem uma cultura vibrante, diversificada, super criativa. Por que não soltar editais chamando jovens para jogar sua criatividade, para criar alternativas nas plataformas? Por que não usar recursos públicos para garantir a democracia comunicacional? Conferências, debates, grupos de trabalho, nada disso vai avançar se não tiver ações concretas que mobilizem a nossa inteligência coletiva e os jovens do nosso país.



Fonte:  Sindicato dos Metalúrgicos do ABC / Foto: Adonis Guerra - 06/02/2025


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