Desde às 5h desta segunda-feira, nenhum trabalhador ingressou na Maxiforja, uma das maiores metalúrgicas de Canoas. A insatisfação com a empresa está refletida na total adesão ao dia de paralisação, mobilizado pelos dirigentes sindicais da fábrica e pelo Sindicato no início desta semana. O rebaixamento do PMR, programa de participação nos resultados, é o estopim da revolta, mas não é o único. A desvalorização contínua dos trabalhadores, na contramão da visível, e até noticiada, expansão da empresa nos últimos anos, é uma reclamação recorrente, e hoje decisiva para a cruzada de braços.
A NOVELA DO PMR
O PMR já se tornou uma novela para os trabalhadores/as da empresa, especialmente nos últimos cinco anos, como avaliam os integrantes da comissão de negociações. Isso porque na medida em que a metalúrgica apresenta, ano após ano, crescimento na produção e no faturamento, maior é a ofensiva sobre o programa que visa distribuir os resultados.
Em 2024, mesmo se comprometendo a pagar, no mínimo, 74% do programa, a empresa pagou apenas 64%. Frente à insatisfação dos trabalhadores, que sabem o que produziram durante o ano, a direção da metalúrgica convocou uma reunião para anunciar que não é obrigada a pagar a participação nos resultados.
“Vocês sabem, vocês ouviram, que eles falaram que nós, os operadores, somos os culpados por termos recebido o pior PMR da história da Maxiforja. Falaram que matamos peças e não fomos eficientes. Mas a empresa não dá condições e vocês sabem disso. Não temos área de apoio, falta gente do processo, mas pra eles a culpa é nossa”, afirmou o dirigente sindical Vinicius Ferreira.
Neste ano, mesmo após sete reuniões para negociar o programa, até então não foi atingido um acordo de metas. Com a mesa trancada, a comissão dos trabalhadores alega que a oferta da Maxiforja é inatingível.
“Cada vez a gente trabalha mais e recebe menos. Nós viemos de um histórico de 90%, 85%, 74%, 70% e, no último ano, 64% do PMR, o que é inaceitável. E nós oferecemos indicadores razoáveis, mas a empresa cada vez quer arrochar mais. Chegaram ao absurdo de dizer que querem acabar com a meta especial e isso não vai acontecer.”, lembrou o dirigente Luciano Sartori.
ACORDOS INDIVIDUAIS DE JORNADA 6X1
Em 2019, a empresa deu início a mudanças na jornada de trabalho de alguns setores. Com a pandemia, em 2020, este processo se intensificou e, sem qualquer negociação com o Sindicato, foram impostos acordos individuais com os trabalhadores para a jornada 6×1. No mesmo ano, os trabalhadores decretaram estado de greve em razão das alterações e o Sindicato encaminhou uma denúncia ao Ministério Público do Trabalho.
“Ninguém queria essa mudança e a insatisfação continua grande na fábrica. Agora a gente vê uma mobilização forte pelo fim dessa jornada, que leva os trabalhadores à exaustão com apenas um dia de descanso. Portanto este é o momento de intensificar a luta pela volta da 5×2”, reforçou o diretor sindical Antonio Munari.
NEGOCIAR BENEFÍCIOS? NEM PENSAR!
Uma luta que avança na categoria mas não na Maxiforja é a implementação de um vale-alimentação. Enquanto muitas metalúrgicas negociaram acordos diretamente com o Sindicato, a direção da empresa se nega a abrir qualquer tratativa, seguindo orientações do Sindicato Patronal, que também se nega a colocar o benefício na Convenção Coletiva da categoria.
No ano passado, a empresa passou a conceder uma “sacola econômica”. Mascarada de benefício, a iniciativa é na verdade um medidor de frequência, o conhecido “prêmio carneirinho”, pois só recebe a sacola o trabalhador/a que não possuir faltas. E pior, se trata de um benefício seletivo, concedido apenas aos trabalhadores da jornada 6×1.
“A empresa tem que refletir porque o pessoal tá aqui na frente e não quer entrar. E vocês, trabalhadores, também têm que refletir sobre como o Sindicato pode melhorar na luta com vocês. A gente tá aqui hoje, porque vocês cobraram e pressionaram. Vocês disseram basta, não dá mais para aguentar”, destacou o presidente do Sindicato, Paulo Chitolina.
Durante toda esta segunda-feira, o Sindicato está mobilizando os turnos da empresa em torno das pautas de reivindicação.