Na última segunda-feira (10), o Sindicato dos Químicos do ABC recebeu o ex-ministro José Dirceu para uma análise de conjuntura. O encontro reuniu diversas lideranças sindicais e do movimento popular, incluindo o presidente nacional da CUT, Sérgio Nobre.
Dirceu iniciou sua fala com uma abordagem histórica sobre o capitalismo, destacando que “capitalismo é crise”, e que ele “se autorregula”, citando o exemplo do Acordo de Bretton Woods, que foi um conjunto de regras estabelecido em julho de 1944, com o objetivo de reorganizar a economia global após a Segunda Guerra Mundial.
Ele destacou a importância de olhar para o mundo antes de analisar o Brasil, enfatizando que o grande desafio do país é conquistar sua autonomia financeira e tecnológica.
Brasil e os desafios econômicos
O ex-ministro apontou que o Brasil possui grande capacidade para se tornar uma potência global, com vasto território, população expressiva, PIB robusto e recursos naturais estratégicos e energia LIMPA. No entanto, alertou para a falta de autonomia tecnológica e a concentração de renda como entraves ao desenvolvimento.
“A grande concentração de riqueza no Brasil só se resolve com mudanças estruturais no sistema tributário e na política de juros”, afirmou, “mas antes disso é preciso uma revolução social”, prosseguiu.
Ele criticou a falta de uma reforma tributária justa e comparou a realidade brasileira com a europeia, que superou desigualdades no século XIX através de reformas agrária e tributária.
Classe trabalhadora e redes sociais
José Dirceu relembrou a trajetória de lutas da classe trabalhadora, que enfrentou ditaduras e conquistou vitórias como a CLT e a Constituição de 1988, hoje sob forte ataque. Observou que é uma classe vitoriosa, que conseguiu, por exemplo, vencer cinco vezes a eleição presidencial.
No entanto, alertou que essa mesma classe vem sendo hoje cooptada por discursos conservadores, impulsionados por igrejas e redes sociais.
Os desafios do governo Lula
Dirceu ressaltou a dificuldade de governabilidade do presidente Lula, que enfrenta um Congresso conservador e 40% do eleitorado votando em Bolsonaro. O maior desafio, segundo ele, é estimular o crescimento econômico diante de juros altos e da dependência do governo em relação às emendas parlamentares.
“O governo está prisioneiro dos juros altos e das emendas. São R$ 500 bilhões destinados à dívida pública que beneficiam apenas 1% da população”, criticou.
Juventude e futuro
Encerrando sua fala, Dirceu destacou a importância de apoiar a juventude, reconhecendo sua diversidade e capacidade de mobilização. Para ele, os jovens enfrentam desafios intensos, mas seguem produzindo cultura e resistindo às dificuldades.
“A história da humanidade sempre caminhou contra a tirania e a pobreza. Precisamos apoiar a juventude e observar mais sua luta pela sobrevivência”, concluiu.
José Evandro agradece o plenário cheio
O presidente do Sindicato, José Evandro Alves da Silva, agradeceu a participação da diretoria, militância e lideranças sindicais da região na atividade.
“Fico feliz de ver a casa cheia! Em nome da diretoria, agradeço a todos e todas que vieram participar desta discussão e ao Zé Dirceu, que atendeu prontamente ao nosso chamado. Acho que o momento exige muita avaliação, muito aprendizado, para dar continuidade nas nossas ações”, disse.
Quem é Zé Dirceu
José Dirceu nasceu dia 16 de março de 1946, em Passa Quatro (MG), e é uma figura central na história política recente do Brasil.
Formado em Direito pela PUC-SP, ingressou cedo no movimento estudantil, filiando-se ao PCB.
• 1968: Preso em Ibiúna durante o 30º Congresso da UNE, tornando-se símbolo da resistência à ditadura.
• 1969: Exilado no México em troca do embaixador norte-americano Charles Burke Elbrick. Viveu e estudou em Cuba.
• 1975: Retornou ao Brasil, vivendo clandestinamente até 1979, quando foi anistiado.
• 1980: Fundou o PT, sendo um de seus principais líderes.
• 1987-2005: Eleito deputado estadual e federal por múltiplos mandatos.
• 2002: Coordenou a campanha vitoriosa de Lula à presidência e, em 2003, assumiu como ministro-chefe da Casa Civil.
• 2005: Renunciou ao cargo após o escândalo do mensalão, alvo de uma campanha política e midiática.
• 2010-2020: Perseguido judicialmente por Sergio Moro e Lava Jato, foi preso e, em 2024, absolvido pelo STF, que reconheceu a parcialidade do processo.
• 2023: Revelou-se que era alvo de um plano de assassinato por extremistas bolsonaristas, sob o codinome “Juca”.
Apesar das adversidades, José Dirceu segue como um símbolo de resistência, e pode dizer, com orgulho, “ainda estou aqui”.