Notícia - A história se repete como farsa: uma análise da retórica populista à luz do pensamento marxista

Por Diógenes Sandim

A máxima “Fazer a América Grande Novamente”, utilizada em campanhas políticas recentes, ecoa um nacionalismo nostálgico que evoca um passado idealizado, obscurecendo as complexas contradições do presente. Tal retórica, desprovida de uma análise materialista da história, revela-se como uma farsa, uma caricatura de projetos nacionais anteriores.

Karl Marx, em sua obra “O Dezoito Brumário de Luís Bonaparte”, já alertava que a história se repete, primeiramente como tragédia e, depois, como farsa. A ascensão de Luís Bonaparte, sobrinho de Napoleão, exemplificava essa dinâmica. Enquanto o tio representara a revolução burguesa em sua fase heroica, o sobrinho, destituído de sua genialidade e contexto histórico, encarnava uma pálida imitação, uma farsa trágica.

No contexto contemporâneo, a retórica populista de “Fazer a América Grande Novamente” guarda semelhanças com a ascensão de Bonaparte. Assim como o sobrinho de Napoleão, líderes populistas contemporâneos, desprovidos de um projeto político original e de uma análise profunda da realidade, apropriam-se de símbolos e discursos do passado, descontextualizando-os e esvaziando-os de seu significado original.

A dialética da história, tal como formulada por Marx, pressupõe a superação das contradições inerentes a um determinado modo de produção. A luta de classes, motor da história, impulsiona a transformação social, gerando novas relações de produção e novas formas de consciência. A retórica populista, por sua vez, ignora essa dinâmica, propondo um retorno a um passado mítico, congelado no tempo.

A promessa de “Fazer a América Grande Novamente” revela-se, assim, como uma farsa. Ao invocar um passado idealizado, essa retórica obscurece as contradições do presente, impedindo a superação dos problemas reais enfrentados pela sociedade. A desigualdade social, a crise ambiental e a violência estrutural são apenas alguns dos desafios que não podem ser resolvidos por meio de discursos nostálgicos e superficiais.

A história, no entanto, não se repete indefinidamente. A farsa, por mais que se disfarce de tragédia, cedo ou tarde revela sua natureza caricatural. A contradição entre a retórica populista e a realidade material acaba por expor a fragilidade do projeto nacionalista, abrindo caminho para novas formas de luta e de organização social.

A análise da retórica populista à luz do pensamento marxista nos convida a desconfiar de discursos que prometem um retorno a um passado idealizado. A história, como nos ensina Marx, é um processo dinâmico, marcado por contradições e conflitos. Somente a partir da análise crítica da realidade presente e da luta pela superação das desigualdades é que poderemos construir um futuro mais justo e igualitário.

Diógenes Sandim Martins é é médico, diretor do Sindnapi e secretário-geral do CMI/SP


Fonte:  Rádio Peão Brasil - 18/02/2025


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