Notícia - Metalúrgicos debatem os desafios geracionais em pré-plenária organizado pela FEM-CUT/SP

A segunda pré-plenária realizada pela Federação Estadual dos Metalúrgicos (FEM-CUT/SP) nesta terça-feira (18) trouxe um importante debate sobre as mudanças na classe trabalhadora metalúrgica e o futuro do movimento sindical com os professores da Universidade de São Paulo (USP), Iram Jácome Rodrigues e Kimi Tomizaki.

Estudioso do sindicalismo e autor de diversos livros sobre o tema, entre eles “A geração que criou a CUT: a história contada por quem a faz”, Iram contou sobre a luta da classe trabalhadora que levou a criação da Central Única dos Trabalhadores (CUT) nos anos 80.

“A luta contra a Ditadura Militar, as lutas no campo e na cidade, as greves, a atuação da Igreja Católica, tudo isso foi base fundamental para criação da CUT”, explicou o sociólogo, completando que a entidade foi fundamental nas Diretas Já e na elaboração da Constituinte de 1988.

Iram também destacou que é preciso levar em consideração as alterações sociais para pensar na organização das lutas.

“A história nos coloca novos desafios e é que está acontecendo atualmente. Observamos uma mudança real do que as pessoas querem e talvez a gente não tenha conseguido captar essa mensagem”, disse.

Outro ponto destacado pelo pesquisador que leva a reflexão das mudanças sociais é o fato de muitos sindicatos cutistas terem bastante filiados que apoiam a luta sindical, mas não tem o mesmo posicionamento político das entidades. “Há uma grande fragmentação da classe trabalhadora. Aquela ideia de classe trabalhadora unificada não existe mais e é preciso levar isso em consideração.”

Mudanças de geração

A professora Kimi abordou os estudos que realiza sobre as diferentes gerações de trabalhadores metalúrgicos. Segundo ela, nota-se que os mais novos tiveram mais acesso que pais e avós em termos de escolaridade.

“O avô trabalhou no campo com pouca ou nenhuma escolaridade. Na cidade, ele tem acesso aos direitos trabalhistas pela primeira vez e se envolve no movimento grevista, no enfrentamento ao regime militar”, contou ela.

A segunda geração, também veio da roça, segundo a professora. “O pai veio da roça para o ABC, a maioria estudou como pôde, fez curso profissionalizante, o que na época já garantia um emprego mais qualificado.”

Há 20 anos, quando trabalhou na pesquisa, Kimi identificou que os filhos e netos de metalúrgicos eram de uma geração que tinha chegado ao ensino superior em uma época que ainda era privilégio cursar uma faculdade.

“Ampliar a escolarização é sempre para buscar uma vida melhor ou para, pelo menos, manter a posição social, porque ter um ensino superior ainda é um definidor forte de posição”, afirmou a pesquisadora.

No entanto, os filhos e netos de metalúrgicos, apesar de terem mais escolaridade do que as gerações passadas, não tiveram as mesmas oportunidades de trabalho.

“Quando se tem um diploma, há a expectativa de retorno desse investimento em educação. Muitos achavam que conseguiriam sair da fábrica e ir para a profissão que tinham cursado na faculdade, que teriam uma vida melhor que a dos pais. Mas tiveram menos oportunidades industriais e não necessariamente alcançaram tudo que os pais conquistaram.”

Essa dinâmica, segundo Kimi, gera um sentimento de frustração nessa geração de metalúrgicos por não ter alcançado determinadas conquistas e abre caminho para a direita indicar culpados pela situação.

“As pessoas se projetam pelas gerações anteriores, com a ideia de ter uma vida e posição melhores porque estudaram. Quando isso não acontece, há uma frustração com as perspectivas de futuro. A direita trabalha nesse ressentimento, apontando que alguém é culpado por aquilo que não se conquistou.”

A professora acrescenta que é visível identificar como a direita trabalha para atribuir culpados e direcionar o ódio das pessoas. “Então, a culpa é das cotas, do movimento LGBT, enfim. Alguém é escolhido como culpado e a direita estimula o ódio que mobiliza quem está frustrado.”

Para Kimi, é preciso entender e buscar caminhos para construir um diálogo com as novas gerações. “O comportamento político das pessoas está ligado a como ela consegue avaliar ou pensar sobre seu futuro e da sua família. Sai de um projeto de sociedade para chegar a um projeto individualizado.” 


Fonte:  FEM-CUT/SP / Foto: Samuel Martimiano - 20/02/2025


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