Notícia - Petroleiras na linha de frente da luta contra os retrocessos no teletrabalho

A categoria petroleira tem acompanhado apreensiva a luta da FUP e de seus sindicatos para que a Petrobrás abra um canal de negociação sobre o teletrabalho, de forma a garantir regras coletivas com avanços e não retrocessos para os trabalhadores e trabalhadoras. Segundo dados da empresa, 65% de seus efetivos estão distribuídos por escritórios e unidades administrativas, onde as mulheres têm participação significativa nos postos de trabalho.

Estudos e pesquisas diversas reforçam o quanto o teletrabalho tem possibilitado que as mulheres se mantenham ativas e produtivas no mercado de trabalho, sobretudo em sociedades como a nossa, onde ainda lutamos pela divisão igualitária das tarefas domésticas e dos cuidados com a família. O teletrabalho, portanto, ganha cada vez mais destaque na agenda das mulheres, em decorrência das múltiplas jornadas que elas enfrentam no dia adia.

Não por acaso, as petroleiras são as mais impactadas pelas medidas unilaterais anunciadas pela Petrobrás, ao aumentar a escala do trabalho presencial sem ouvir a categoria. São elas também que estão na linha de frente das mobilizações e atos realizados pelos sindicatos para pressionar a gestão Magda Chambriard a abrir o diálogo com a categoria. Ela deveria saber na pele como esse tema é sensível, principalmente para as mulheres trabalhadoras.

Marise Arnaldo (foto ao lado), que trabalha em um dos escritórios da Petrobrás, afirma que o trabalho remoto tornou possível o cuidado com o filho e a sogra, ambos cadeirantes, que moram com ela. “O teletrabalho é extremamente importante na minha vida. Através dele, eu consigo coordenar as atividades do trabalho, que não são poucas, com as de casa. Eu deixo de perder de 3 a 4 horas de deslocamento para o trabalho e consigo realizar outras coisas que não consigo fazer se estiver no presencial, como o cuidado com a minha sogra e o meu filho, que são cadeirantes e vivem comigo em casa”.

Muito emocionada, uma petroleira do Torre Pituba, mãe de um bebê de 1 ano e quatro meses, chora ao relatar que poderá deixar de amamentar o seu filho se tiver que trabalhar presencialmente três vezes na semana. Ela lembra que, devido às conquistas do Acordo Coletivo, teve a jornada de trabalho reduzida para seis horas até o primeiro ano de vida dele e pode utilizar uma sala de amamentação no local de trabalho. Mas afirma que isso não será suficiente, se houver retrocessos no teletrabalho. “Eu não consigo mais proteger a minha amamentação, se eu tiver que vir três vezes ao trabalho. E falo isso com o meu coração doendo”.

A comunicação da FUP conversou também com outras mulheres petroleiras e ouviu relatos dramáticos sobre os impactos que sofrerão, caso a escala do teletrabalho seja alterada de forma unilateral pela Petrobrás. Veja a seguir:

“Apesar do meu bebê ainda mamar, eu sou obrigada a vir à empresa fazer o trabalho presencial que eu poderia fazer exclusivamente da minha casa. E agora estou sendo sujeita à possibilidade de vir mais um dia. Eu continuo amamentando o meu filho, chego em casa com o meu peito doendo, apesar de utilizar a sala de amamentação. Assim como eu, tem outras mulheres aqui nessa mesma situação. A impressão que dá é que a gente vai desmamar os nossos filhos precocemente, embora a Sociedade de Pediatria recomende a amamentação até os dois anos. Aqui mesmo na Petrobrás, tem cartazes dizendo o quanto é importante amamentar a criança até os dois anos. Mas eu não consigo mais proteger a minha amamentação, se eu tiver que vir três vezes ao trabalho. E falo isso com o meu coração doendo, pois me sensibiliza muito ter que desmamar o meu filho contra a minha vontade”. R. petroleira do Torre Pituba

“Tive um filho em 2023, que nasceu com sofrimento fetal grave, ficou internado até quase completar 4 meses, quando faleceu. Na época, a Petrobrás cortou a minha licença maternidade de 6 meses, que eu teria direito após a morte do meu bebê, com a desculpa desumana de que eu não estava cuidando do meu filho. A minha gravidez e a consequente internação do meu bebê deixaram cicatrizes profundas. Isso significa que eu preciso fazer diversos acompanhamentos multidisciplinares para me reestruturar fisicamente, emocionalmente, psicologicamente e espiritualmente. É uma luta enorme passar pelo processo de perder um filho e ainda ter todos os problemas físicos que eu desenvolvi na gravidez e no pós-parto. Eu só consigo fazer todos os tratamentos porque estou em teletrabalho integral. Toda vez que eu penso que a empresa pode me colocar de volta no presencial e que a escala pode aumentar, o meu coração aperta e eu fico muito angustiada. E eu não entendo a necessidade disso, pois os meus superiores sabem que a minha produtividade é maior de casa. Todos concordam que as reuniões online ou híbridas funcionam melhor, começam no horário e mais gente consegue participar. Além disso, os prédios administrativos do Rio não possuem estrutura para receber todos os empregados”. Laura da Cunha (foto ao lado), 43 anos, estatística, lotada no Edisen

“Ir mais um dia presencial afetará principalmente o cuidado com a saúde. No sistema híbrido atual, consigo frequentar regularmente a academia e dar continuidade a tratamentos, como fisioterapia. Consigo também dar mais atenção à minha mãe idosa. Terei mais deslocamentos desgastantes. Tudo isso afetará fortemente o ganho de qualidade de vida obtido após a adoção do atual regime de trabalho. Tenho receio de que mais medidas sejam adotadas em detrimento do teletrabalho. Essa é só a primeira. Acredito que temos que colocar o teletrabalho no ACT com um regramento concreto e que só possa ser modificado passando por uma comissão que inclua o sindicato. Em vez de retrocessos, precisamos evoluir para ter mais flexibilidade no teletrabalho e também um público maior contemplado com o teletrabalho integral”. Selma Sacramento, 63 anos, geofísica, transferida da Bahia para o Edisen

“Quando eu tenho que vir ao trabalho presencial, tenho um equilíbrio muito menor entre a minha vida pessoal e profissional. Eu quero sim trabalhar, eu quero sim dar o melhor para a companhia, mas eu também quero ver as minhas filhas crescerem, eu também quero apoia-las sempre que possível, eu também quero estar presente na convivência delas. Eu quero ter tempo também para ter minhas ações de autocuidado e de desenvolvimento pessoal e profissional. Quando eu venho presencialmente ao trabalho, não sobra tempo para nada porque não são só oito horas de trabalho, tem todo o trânsito das grandes cidades, todo o tráfego, toda a dificuldade de ter que vir para cá.  Isso prejudica muito a minha saúde, não só física, quanto mental”. Inerê Castro (foto acima), psicóloga, lotada no Torre Pituba


Fonte:  FUP - 07/03/2025


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