A CUT, em parceria com a Associação de Mulheres da Economia Solidária e Feminista (AMESOL), promove de 17 e 19 de março, o evento “Mulheres e Economia Solidária: Caminhos para uma Sociedade Mais Justa e Igualitária”, marcado pela defesa dos direitos, da democracia, pela busca de justiça social e ambiental e para comemorar o Mês Internacional da Mulher.
Na tarde de segunda-feira (17), houve, no auditório da CUT, um debate destacando o papel das mulheres na economia solidária. A atividade contou com a participação de trabalhadoras do setor; da socióloga Helena Singer, filha do economista Paul Singer –pioneiro nos estudos de economia solidária; de Bia Shewenck, socióloga, educadora popular e pesquisadora no Instituto Paul Singer. Participaram também da Amanda Corcino, Secretária da Mulher Trabalhadora da CUT Brasil, e Márcia Viana, Secretária da Mulher Trabalhadora da CUT–SP.
A roda de conversa foi transmitida pelo canal do YouTube da Central Única dos Trabalhadores. Veja aqui.
Nesta terça-feira (18) e na quarta (19) haverá no saguão de entrada da CUT, uma feira de exposição dos produtos, artesanatos e alimentos produzidos pelas participantes.
Boas Vindas
Na sua fala de apresentação das debatedoras, Marcia Viana destacou que essa atividade e esse debate sobre economia solidária são importantes, especialmente no contexto em que a CUT atua. Pois a entidade sempre trabalha, principalmente, com a organização de mulheres que trabalham sobre o regime da Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT). Para ela, há outra parcela da classe trabalhadora que, muitas vezes, não está organizada em sindicatos e que, por isso, acaba ficando à margem dessas discussões. “Por isso, é fundamental que a Central Única dos Trabalhadores busque incluir e representar essas mulheres que também são trabalhadores, pois isso é essencial para a construção de uma luta mais ampla e representativa”, afirmou.
Alternativa ao modelo capitalista
Amanda Corcino destacou que a economia solidária surge como um modelo econômico que prioriza a cooperação, a solidariedade e o bem-estar coletivo, em contraste com a lógica capitalista centrada no lucro individual. “Em um momento de expansão do empreendedorismo no Brasil, essa proposta ganha relevância ao oferecer uma visão que valoriza o fortalecimento comunitário e a ajuda mútua, distanciando-se do individualismo frequentemente associado ao empreendedorismo tradicional”, disse.
“A economia solidária tem uma conexão intrínseca com o feminino e o feminismo. “Nós, mulheres, temos uma tendência natural a trabalhar de forma colaborativa, apoiando umas às outras. Essa perspectiva está muito alinhada com os princípios da economia solidária”, prosseguiu a dirigente.
Desafios
Admirson Medeiros Ferro Jr., o Greg, secretário nacional de Economia Solidária da CUT, disse que a ideia é modernizar a comercialização de produtos da economia solidária, apostando em ferramentas digitais como e-commerce e aplicativos para ampliar o mercado.
“Não podemos depender só das feirinhas. Precisamos entrar na era do iFood e agilizar as vendas com brigadas digitais”, afirmou.
Para ele, o movimento sindical, tradicionalmente focado em direitos trabalhistas, agora enfrenta o desafio de incluir trabalhadores informais e empreendimentos solidários. “Sensibilizar os sindicatos para essa nova realidade é crucial, precisamos mudar a cara da estrutura sindical”.
Economia solidária e trabalho doméstico
A educadora Bia Shewenck ressaltou a necessidade de repensar as estruturas de exploração do trabalho, incluindo o trabalho doméstico, frequentemente invisibilizado, mas essencial para a sociedade. Ela defendeu que a valorização desse trabalho, realizado majoritariamente por mulheres, é crucial para uma sociedade mais justa. Além disso, abordou a economia solidária como uma prática que oferece várias ferramentas, como assembleias, fundos solidários e qualificação profissional, fortalecendo a democracia e a participação coletiva.
“Integrar essas práticas e reconhecer o trabalho de cuidados são passos fundamentais para uma organização do trabalho mais equitativa, inclusiva e democrática, integrando práticas da economia solidária e reconhecendo o valor do trabalho de cuidados, como parte essencial de um projeto coletivo para uma sociedade mais justa” acrescentou.
A importância de Paul Singer nessa luta
Para todas e todos os participantes o consenso da proposta da economia solidária foi que esse modelo sugerido, não somente questiona o modelo econômico vigente, mas também reforça a importância da colaboração e da inclusão, especialmente em um contexto de crescente debate sobre empreendedorismo e formas alternativas de organização produtiva.
Helena Singer destacou a importância do seu pai nessa luta. “Ele se encontrou com a economia solidária, ele já tinha 60 anos, uma larga história e trajetória como economista, vinculado aos estudos, aos temas do desenvolvimento da economia, sempre de uma perspectiva socialista, de esquerda”.
As preocupações
Em um relato sobre os desafios enfrentados por empreendimentos de economia solidária, Edna Simão, integrante de um grupo de Osasco, na grande São Paulo, falou sobre a dificuldade de inserir produtos no mercado, comparando-os com a facilidade das grandes empresas. “A nossa produção é limitada, e isso impacta nossa capacidade de competir”, afirmou.
Ela ainda reforçou a importância da economia solidária feminista, que busca criar uma nova realidade de trabalho, longe da exploração e da humilhação. “Precisamos pensar em formas de trabalho que engrandeçam, mas que também garantam a subsistência. Sem isso, como manter o empreendimento?”, questionou.
“Se a gente não conseguir gerar renda, a gente não consegue manter os empreendimentos. Se a gente não mantém os empreendimentos, a luta da economia solidária fica enfraquecida”, finalizou.
Ao final do debate, as dirigentes e os dirigentes pediram sugestões para viabilizar novas ações. “Estamos aqui para construir juntos”, disse Amanda Corcino. “No próximo debate, tragam mais ideias.