Até amanhã, 22 de março, a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE) estará reunida, em Brasília, com as entidades filiadas à Confederação para discutir a organização do movimento educacional diante da conjuntura nacional.
O evento começou com uma homenagem ao presidente da CNTE, Heleno, que recebeu o título de Doutor Honoris Causa da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), dia 17 de março.
Coube à Ivete Caetano, presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Pernambuco (Sintepe), entidade de origem de Heleno, ser uma das vozes, e destacar o mérito deste reconhecimento pela atuação em defesa da educação e desenvolvimento de políticas públicas no âmbito nacional e internacional: na Internacional da Educação, CPLP-SE, Fórum nacional de Educação e Conselho Nacional de Educação e na CNTE.
Ivete enfatizou que tal honraria é outorgada a indivíduos que se destacam no saber e mobilização, sublinhando que o conhecimento vai além das salas de aula, sendo construído em ações coletivas e no movimento sindical. “Deixamos para a CNTE, o nosso melhor quadro”, brincou.
Pela CNTE, o secretário de relações internacionais, Roberto Leão, relembrou a atuação de Heleno como secretário de assuntos educacionais na gestão de Leão como presidente. “O Heleno é um grande mobilizador e articulador de políticas públicas para a educação. Esse reconhecimento mostra que a prática é essencial para a formação do conhecimento, assim como as greves que têm um papel importante na construção da democracia. O título de doutor honoris causa é um orgulho para todos nós ".
Heleno, por sua vez, expressou sua gratidão pela homenagem e compartilhou um pouco de sua trajetória no movimento sindical. Ele ressaltou que o título recebido é de grande relevância para a educação básica e agradeceu a todos que fazem parte desse esforço coletivo. "Fizemos muito, mas ainda temos muito a fazer. Vamos continuar firmes nessa marcha", concluiu Heleno, reforçando o compromisso da CNTE na defesa e promoção da educação no país.
Historiador reflete sobre os EUA, América Latina e a importância da educação no contexto político e social
O primeiro dia do CNE contou, ainda, com a participação do professor e historiador Jacques Novion, que fez uma análise sobre a conjuntura social e política do mundo, com foco no papel dos Estados Unidos, na história da América Latina e na importância de levar esses debates para as salas de aula.
Com uma abordagem crítica, o professor da Universidade de Brasília (UNB) destacou como a colonialidade e as relações de poder continuam influenciando as questões políticas e econômicas atuais.
"O sistema capitalista que conhecemos hoje foi construído sobre a exploração das Américas, da África e da Ásia. A riqueza que financiou a industrialização europeia veio, em grande parte, daqui", afirmou. Ele ressaltou que os Estados Unidos, desde sua independência no século XVIII, projetaram-se como um "farol" de transformação, influenciando a América Latina.
"Os Estados Unidos foram a primeira ex-colônia a conquistar a independência, e isso teve um caráter revolucionário. No entanto, essa independência foi reconhecida por outras potências, ao contrário do Haiti, que, apesar de ser a primeira república negra do mundo, não teve o mesmo reconhecimento devido ao racismo estrutural da época", explicou.
O professor traçou um panorama histórico das relações entre os Estados Unidos e os países latino-americanos, destacando como a política externa estadunidense oscilou entre propostas de integração e intervenções militares. Ele citou exemplos como a “diplomacia do dólar", que combinava investimentos econômicos para garantir o alinhamento dos países da região aos interesses estadunidenses.
Jaques também analisou as transformações políticas recentes na AL, dividindo-as em três ondas: o neoliberalismo democrático dos anos 1990, os governos progressistas dos anos 2000 e a atual onda de autoritarismo. "Tivemos uma nova era de golpes e governos autoritários, que buscam reverter as conquistas sociais", afirmou.
Ao enfatizar a importância da educação com o momento atual, Jacques falou da necessidade de levar esses debates para as salas de aula. Para ele, é preciso desconstruir a ideia de que os Estados Unidos são um farol de democracia e progresso. Ele defendeu que a educação deve ser um espaço para discutir as relações de poder e as lutas por emancipação.
Para ele, é fundamental que os jovens entendam como o sistema capitalista foi construído e como isso ainda “nos afeta”. Dessa forma, avalia ser possível construir um futuro justo e soberano.
Conselho Nacional de Entidades - O Conselho Nacional de Entidades (CNE) da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE) se reúne nesta quinta (20) e sexta (21) para debater estratégias para discutir a organização do movimento educacional diante da conjuntura nacional. O encontro acontece em Brasília (DF) e começou com uma ampla análise de conjuntura sobre políticas sociais e econômicas no mundo.
Na parte da tarde, o presidente da CNTE, Heleno Araújo, abordou em sua apresentação "Os Rumos da Política Educacional no Brasil", a preocupação com o desvio de recursos públicos destinados à educação, que estão sendo direcionados para o setor privado, em vez de fortalecer as escolas públicas.
Ele destacou que há um crescimento significativo de parcerias entre governos e escolas privadas, com repasses de dinheiro público para instituições particulares. “Isso contraria a luta pela defesa da educação pública e gratuita”, disse.
Heleno mencionou dados preocupantes, como as escolas privadas com parcerias ou convênios com os municípios, que passaram de 6.049 para 7.300, evidenciando uma tendência de alta. Segundo ele, 22 estados possuem parcerias e convênios com escolas privadas.
Ele também criticou a falta de transparência sobre esses repasses, destacando que não há dados precisos sobre o volume de recursos públicos destinados ao setor privado.
Outro ponto abordado foi a precarização do trabalho dos profissionais da educação, com o aumento de contratos temporários e terceirizados, em detrimento de concursos públicos e da valorização dos professores.