Notícia - Presidente da Nova Central discussa em Cúpula Sindical Pré COP30

Nesta quinta-feira (27/03), a Cúpula Sindical Pré COP30, com o tema “Trabalho Decente na Crise Climática”, contou com a participação do presidente da Nova Central Sindical de Trabalhadores (NCST), Moacyr Auersvald. O evento, promovido pela ICM Internacional de Trabalhadores da Construção e da Madeira e demais organizações sindicais nacionais e internacionais, reuniu representantes de diversos setores e organizações de trabalhadores.

Segundo Moacyr, esta cúpula é uma oportunidade única para fortalecer alianças e ampliar o impacto coletivo. “O tempo de agir é agora. E nós, do movimento sindical, estamos prontos para fazer a nossa parte”, disse. 

Durante o COP30, que acontece em novembro no Brasil, serão discutidos temas como a justiça climática, a transição justa para uma economia sustentável, a proteção dos trabalhadores que estão diretamente afetados pelas mudanças climáticas, e as políticas públicas necessárias para garantir que as soluções ambientais também promovam a equidade social e econômica.

Além disso, será uma oportunidade para fortalecer a mobilização sindical em torno da sustentabilidade e do desenvolvimento de políticas públicas que integrem as preocupações com o meio ambiente e os direitos trabalhistas. A Cúpula Sindical também visa construir um compromisso coletivo para que as demandas dos trabalhadores sejam ouvidas e consideradas nas negociações internacionais, como na COP30.

 

Confira a íntegra do discurso do presidente da Nova Central

Presidente da Nova Central Sindical dos Trabalhadores (NCST)

Companheiros e companheiras,

Parabenizo a ICM pela realização deste evento, que reforça o papel fundamental dos trabalhadores na luta por uma transição justa e sustentável.

Quero registrar neste momento que nesta luta já perdemos até 2022, que é o último registro 177 mortes sendo 39 em florestas tropicais as quais registramos os assassinatos de:
Dorothy Stang
Dom Phillips
Bruno Pereira
Paulo Guajajara
Djacira
Chico Mendes 22/12/1988 44 Anos
Em 10 anos 43 indígenas foram assassinados
 
Ano passado, tive a honra de visitar a sede da ICM em Genebra, na Suíça, por ocasião da nossa participação na 112ª (centésima décima segunda) Conferência Internacional do Trabalho, onde fomos recebidos pelo Secretário Geral da ICM, companheiro Ambet Yuson. Foi uma experiência enriquecedora, onde pude testemunhar de perto o compromisso da ICM com os direitos dos trabalhadores e a justiça social.

Este encontro não poderia acontecer em um momento mais oportuno. Estamos diante de uma crise climática sem precedentes, e o Brasil, como país-sede da COP30, tem a responsabilidade de liderar esse debate com seriedade, compromisso e senso de urgência. Em 2023, a perda total de floresta primária tropical foi de 3,7 milhões de hectares, o equivalente à perda de quase 10 campos de futebol por minuto. Toda essa perda florestal produziu 2,4 gigatoneladas (Gt) de emissões de dióxido de carbono no mesmo ano, o equivalente a quase metade das emissões anuais de combustíveis fósseis dos Estados Unidos. Os incêndios estão desempenhando um papel cada vez mais importante na perda dessas florestas tropicais, que antes eram quase imunes ao fogo. Muitos desses incêndios são provocados criminosamente para abrir espaço para a pecuária e a agricultura.

O movimento sindical tem um papel crucial nessa agenda. Não há transição justa sem trabalhadores e trabalhadoras. Não há futuro sustentável sem trabalho decente. E não há desenvolvimento sem justiça social. Por isso, estamos aqui para garantir que a voz dos trabalhadores seja ouvida e respeitada nas negociações climáticas globais.

A Nova Central Sindical de Trabalhadores representa milhões de trabalhadores da construção civil, do setor moveleiro e de diversas outras indústrias essenciais para o desenvolvimento do país. Dos 1.115 sindicatos filiados, temos 119 entidades filiadas na região amazônica, 395 são de trabalhadores nas indústrias da Construção Civil e do Mobiliário, representando 35% do total de filiados no país. Estes setores são diretamente impactados pelas mudanças climáticas - seja pelo calor extremo que ameaça a saúde e segurança dos trabalhadores nos canteiros de obras, seja pela necessidade de novas políticas que impulsionem empregos sustentáveis e a qualificação profissional para a economia verde.

A transição energética e o combate ao desmatamento não podem ser apenas pautas ambientais. Precisam ser compromissos que garantam oportunidades reais de trabalho e proteção social para aqueles que constroem e movem este país. A promoção do trabalho decente na Amazônia e em outras florestas tropicais deve ser uma prioridade, não apenas para frear a degradação ambiental, mas para criar um modelo econômico que beneficie quem mais precisa.

Sabemos que, historicamente, a exploração da floresta amazônica andou de mãos dadas com a exploração de seus trabalhadores. É alarmante que a silvicultura continue sendo uma das ocupações mais perigosas, com altos índices de acidentes, doenças e mortes, além de uma incidência inaceitável de trabalho análogo à escravidão e infantil. Os esquemas de certificação ainda são insuficientes para garantir boas práticas: em 2023, apenas 15% das florestas certificadas pelo FSC estavam em regiões tropicais, enquanto a maior parte das certificações se concentra em florestas boreais e temperadas.

A realidade das cadeias de produção florestais está manchada pela ilegalidade e pelo uso predatório da floresta. Não é coincidência que as mesmas indústrias que buscam maximizar lucros a curto prazo também violam salvaguardas ambientais e direitos fundamentais dos trabalhadores. Precisamos romper com esse ciclo vicioso. O futuro da Amazônia depende de um modelo sustentável que inclua e proteja aqueles que vivem e trabalham na região. Alternativas são possíveis e necessárias, garantindo um desenvolvimento que seja, ao mesmo tempo, socialmente justo, economicamente viável e estável em termos climáticos.

Por isso, defendemos a criação de empregos verdes em restauração florestal, construção sustentável e energias renováveis. Precisamos de investimentos em qualificação profissional para que os trabalhadores possam ocupar esses novos postos de trabalho e contribuir ativamente para um futuro mais sustentável. Promover o trabalho decente e o uso sustentável dos recursos naturais é vital para o futuro das comunidades que dependem desses ecossistemas e do mundo como um todo. O trabalho decente é uma pedra angular do desenvolvimento sustentável, da redução da pobreza, da equidade social e da governança democrática.

Precisamos também discutir soluções concretas para a adaptação climática e a geração de empregos verdes, seguros e sindicalizados. A restauração de florestas nativas, a transição energética e a construção sustentável devem ser setores-chave nessa mudança. O estresse térmico e os eventos climáticos extremos já impactam profundamente a vida dos trabalhadores, e é fundamental que incluamos suas demandas e direitos nas negociações com os empregadores e com o governo.

Senhoras e senhores, esta cúpula é uma oportunidade única para fortalecer alianças e ampliar nosso impacto coletivo. O tempo de agir é agora. E nós, do movimento sindical, estamos prontos para fazer a nossa parte.

Muito obrigado!


Fonte:  NCST - 28/03/2025


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