Notícia - Sinergia Gasista completa 80 anos com gás para muito mais lutas

Ao completar 80 anos, no último dia 24, o Sinergia Gasista celebrou não uma estrutura física, mas uma história que representa o sonho de centenas de trabalhadores e trabalhadoras que deram início a uma jornada de conquistas e resistência contra a desigualdade, a injustiça, a exploração.

Homens e mulheres que fizeram da defesa de uma causa a razão de uma vida e que teve continuidade naqueles que deram continuidade a uma história construída a partir de muita luta.

Diz um ditado africano que árvore sem raiz não se sustenta, então, precisamos lembrar onde tudo começa. Lá nos anos de 1930, quando um Brasil governado por Getúlio Vargas passava por momentos conturbados de mudanças políticas, econômicas e sociais.

Em um país com uma economia ainda baseada na exportação de café, a primeira iniciativa de organização dos trabalhadores e trabalhadoras gasistas ocorreu com a fundação da Associação dos Trabalhadores nas Indústrias Químicas e Farmacêuticas, no final da década de 30.

O primeiro gasista associado, no dia 5 de julho de 1939, foi Domingos Thomaz Fonseca, que tinha 41 anos e nasceu em Armamos, Portugal.

Eram tempos desafiadores. A quebra da Bolsa de Nova Iorque, em 1929, provocou uma crise mundial e passávamos por um processo de transformação da economia, após a derrocada da elite cafeicultora, que mergulhou a nação numa sangrenta guerra civil, em 1932.

Já naquela época, crescia a polarização política, para vocês virem que não se trata de uma coisa recente. Fruto do crescimento do apoio aos ideais fascistas, mas também comunistas e socialistas num planeta que presenciaria, 10 anos depois, a segunda grande guerra.

A classe trabalhadora, por sua vez, crescia em consciência e luta por direitos sempre sonegados pelas classes dominantes, mesmo os básicos.

E nesse cenário, em uma São Paulo orgulhosa de sua modernidade, mas também marcada pela segregação social, os empregados da San Paulo Gaz Company fundaram, no dia 22 de janeiro de 1933, um sindicato com 72 membros.

O Sindicato dos Empregados em Estabelecimento de Gás durou pouco, fruto da represália patronal, mas construiu vitórias importantes.

Naquele período, somente os trabalhadores sindicalizados nas entidades oficiais, reconhecidas pelo Estado, tinham o direito à lei de férias anuais. Mesmo assim, a San Paulo Gaz Company se recusou a conceder esse benefício e a reconhecer o sindicato como representante legítimo dos empregados.

Porém, a intervenção do Ministério do Trabalho fez com que a Cia de Gaz fosse obrigada a ceder. A resposta, porém, foi um forte movimento antissindical e que levou o sindicato a fechar as portas em 1937.

Um ano depois, os trabalhadores das empresas de gás passaram a ser representados pelo Sindicato dos Operários e Empregados na Fabricação de Produtos Químicos e Industriais, que ganhou um novo nome em 1941: Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias Químicas e Farmacêuticas de São Paulo.

As mudanças seguiam para a nossa categoria e a Associação Profissional dos Trabalhadores na Indústria da Produção do Gás, que nasceu com aspecto assistencialista, ganha um caráter de luta trabalhista liderada pelo soldador-mecânico Arsenio Russiano, nos anos 40.

Em 30 de Janeiro de 1944, acontece a primeira assembleia de fundação do sindicato, da qual participaram 55 trabalhadores, e junto com o novo perfil, vem também um novo nome: Sindicato dos Gasistas. Em pleno Estado Novo, que tutelava e perseguia as organizações classistas, os sindicalistas tiveram que se submeter às exigências legais da época.

Uma delas era conseguir um atestado ideológico emitido pela Superintendência da Ordem Política e Social para poderem se qualificar como dirigentes do sindicato recém-criado.

Somente depois de preencherem as exigências e apresentarem toda a documentação necessária a entidade foi então registrada no dia 24 de março de 1945, data que hoje estamos aqui reunidos para celebrar.

Em 1955 foi concedida aos sindicatos dos Gasistas, dos Telefônicos, dos Urbanitários de Santos e dos Eletricitários de São Paulo; a colônia de Férias João Cleofas, localizada na cidade de Caraguatatuba.

Isso porque as empresas distribuidoras precisavam devolver uma tarifa à sociedade e essa foi a forma que encontraram de cumprir a determinação legal.

Em março de 1960, quando o sindicato completava 15 anos de existência, ocorreu uma campanha para arrecadação de fundos destinados à aquisição do edifício-sede próprio, em uma iniciativa exemplar de comunhão entre a entidade e sua base.

A nossa casa, onde estamos aqui reunidos hoje, foi inaugurada em 18 de outubro de 1963, com a participação em massa dos trabalhadores, das trabalhadoras e seus familiares.

As transformações econômicas que atingiram em cheio ao mundo do trabalho exigiam respostas do sindicalismo que iam muito além da organização da classe trabalhadora e em 1989, nos filiamos à nossa Central Única dos Trabalhadores e das Trabalhadoras.

Já não bastava lutar por condições dignas dentro das empresas, era preciso disputar a democracia na sociedade até então, sob domínio da ditadura militar, que iniciou em 1964 e seguiu em uma realidade de tortura, assassinato e atraso econômico e social.

Nada nos foi dado, foi nossa mobilização que resultou na redemocratização. Mas a batalha não parou por aí. A primeira eleição direta para presidente acabou com Fernando Collor de Mello eleito, mas sem que conseguisse completar o mandato.

A segunda, após o impeachment de Collor, também não foi das melhores para a classe trabalhadora, com a escolha de Fernando Henrique Cardoso, do PSDB, e a derrota de Luiz Inácio Lula da Silva.

À frente do poder, FHC impôs um pacote de privatizações e os gasistas decidiram juntar forças com os eletricitários de Campinas e fundaram o Sinergia CUT, em 16 de novembro de 1997.

Com isso, gasistas e eletricitários passaram a atuar como trabalhadores energéticos, considerando o setor de energia como um todo.

Atualmente, o Sinergia CUT agrega outras entidades sindicais do setor de energia do Estado de São Paulo, a do Sinergia Campinas e Sinergia Gasista, fundadores do projeto.

Ao longo desses anos, ajudamos a eleger o primeiro trabalhador para a presidência, a primeira mulher, a derrotar um militar admirador de torturadores e a reeleger o trabalhador que liderou o Novo Sindicalismo e a reorganização da classe trabalhadora.

Mudamos nossa marca de Sindgasista para Sinergia Gasista, em mais um passo rumo à unidade de luta da classe trabalhadora. Mudamos nossa forma de comunicação com a base. Mudamos os dirigentes, mas uma coisa continuou igual: O nosso compromisso com os trabalhadores e as trabalhadoras.

Essa é uma trajetória construída por muitas mãos, olhares, sonhos e lágrimas. Um projeto que não estará concluído enquanto houver pelo que lutar.

 

 


Fonte:  Gilson Gonçalves de Souza - Presidente do Sinergia Gasista - 31/03/2025


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