Notícia - Manifesto: Por uma Campanha Nacional Emergencial contra os Feminicídios e a Violência Machista

Dados do 1° trimestre deste ano, da Secretaria de Segurança Pública do estado de S.Paulo, revelam uma alta de 13% nos casos de estupro em todo o estado. Foram 3.862 casos, contra 3.041 registrados no mesmo período do ano passado. Destaca-se que do total, 2.932 foram de estupro de vulnerável. Se o recorte for a chamada Grande São Paulo, formada por 38 municípios, com exceção da capital, o aumento foi de 28%.

Os dados citados são de São Paulo, mas a realidade em todo o país não é diferente. Os dados sobre estupro são também apenas uma das facetas da violência contra mulheres no Brasil. Outros levantamentos revelam que todos os tipos de violência, como feminicídios, violência doméstica, assédio sexual, violência virtual, entre outros, também são recordes.

Para a CSP-Conlutas, os números - que vale destacar são subnotificados- atestam que a realidade é uma só: existe uma epidemia de feminicídios e violência machista contra as mulheres.

Para denunciar e combater essa situação, o Setorial de Mulheres da Central lança uma campanha nacional emergencial, que traz um manifesto e propõe uma série de iniciativas.

Confira:

  • Manifesto da CSP-Conlutas: Por uma Campanha Nacional Emergencial contra os Feminicídios e a Violência Machista

O machismo mata. A omissão dos governos também!

O Brasil enfrenta uma verdadeira epidemia de feminicídios. A cada dia, quatro mulheres são assassinadas simplesmente por serem mulheres. São trabalhadoras, negras, periféricas, indígenas, jovens, mães — mortas dentro de casa, nas ruas, por ex-companheiros, familiares ou desconhecidos. A violência machista é sistemática, cotidiana e brutal. É a expressão extrema de um sistema que naturaliza a dominação, o controle e o assassinato de mulheres.

Diante dessa realidade inaceitável, nós, da Central Sindical e Popular CSP-Conlutas, reafirmamos que a luta contra o feminicídio e a violência de gênero é tarefa urgente da classe trabalhadora. Não há como construir um projeto socialista e emancipador se aceitarmos que companheiras nossas continuem sendo assassinadas, violentadas e silenciadas.

Não é possível naturalizar esse massacre. E tampouco aceitar a omissão do Estado. Os sucessivos governos, em nome da “austeridade”, cortam verbas das políticas de enfrentamento à violência contra a mulher, fecham casas-abrigos, sucateiam os serviços de acolhimento, precarizam os equipamentos públicos. A atual situação orçamentária das políticas para as mulheres é um escândalo: em 2024, o orçamento destinado a esse fim representou menos de 0,01% do total executado pela União. Isso também mata.

Nos territórios e locais de trabalho e estudo, as mulheres seguem enfrentando machismo, assédio, discriminação e abusos. A precarização do trabalho, a terceirização, o desemprego e a exploração se somam à violência doméstica e institucional, agravando a vulnerabilidade e dificultando a denúncia. É nesse contexto que muitas vezes o feminicídio se consuma, como último ato de um ciclo de violência que poderia ter sido rompido se houvesse apoio real.

Por isso, propomos a construção de uma campanha emergencial nacional contra o feminicídio e a violência machista, coordenada pela CSP-Conlutas, com os seguintes eixos:

Denunciar os feminicídios e a omissão do Estado: organizar atos, campanhas, materiais informativos e intervenções nas redes sociais, nos locais de trabalho e nas periferias, com o lema “Machismo mata. A omissão dos governos também!”.

Unificar a luta das mulheres trabalhadoras com as lutas gerais da classe: a violência de gênero não é um problema isolado, mas parte de um sistema de opressão e exploração. Só a organização independente da nossa classe pode oferecer respostas reais.

Exigir políticas públicas efetivas: aumento imediato de orçamento para enfrentamento à violência, ampliação e funcionamento integral de casas-abrigos, centros de referência e serviços especializados em todo o país.

Construir comissões de autodefesa e redes de solidariedade: nos sindicatos, escolas, bairros e movimentos, fortalecer iniciativas de apoio entre mulheres, formação política, denúncia e acolhimento de vítimas.

Lutar contra o machismo nas nossas fileiras: o enfrentamento à violência começa nos nossos espaços de militância. Precisamos construir uma prática antissexista cotidiana, com mecanismos de escuta, denúncia e enfrentamento das violências internas às organizações sindicais e populares.

Levantar essa bandeira em todas as frentes de luta: nas greves, nas ocupações, nas campanhas salariais, nas lutas por moradia, transporte e saúde, a denúncia da violência contra as mulheres deve estar presente como parte da pauta da classe trabalhadora.

Fazemos um chamado a todas as entidades filiadas à CSP-Conlutas — sindicatos, movimentos populares, estudantis e de luta contra as opressões — a assumirem essa campanha como prioridade. Que cada base se organize, debata, denuncie e se levante. Que sejamos milhares de vozes a dizer: não aceitaremos mais nenhuma mulher assassinada.

Por nossas mortas, nenhuma a menos. Pela vida e pelos direitos das mulheres trabalhadoras, vamos à luta!

CSP-Conlutas
Setorial de Mulheres


Fonte:  CSP-Conlutas - 09/06/2025

 

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