Notícia - Petroleiro morre em acidente de trabalho na Replan, a maior refinaria do país

Na manhã desta segunda-feira (23), um clima de tristeza, dor e revolta tomou conta da portaria principal da Refinaria de Paulínia (Replan) – a maior da Petrobrás e do país. Trabalhadores e trabalhadoras realizaram um ato em memória de Carlos Rodrigo de Medeiros, 43 anos, vítima de um acidente fatal de trabalho ocorrido na madrugada do último sábado (21).

Carlos trabalhava como meio oficial de caldeireiro na empresa terceirizada QWS e perdeu a vida após ser atingido na cabeça por um boleado de trocador de calor, que se deslocou em movimento de pêndulo durante uma operação de içamento. Mesmo socorrido e encaminhado ao Hospital Vera Cruz, em Campinas (SP), ele não resistiu e faleceu após uma parada cardiorrespiratória.

O ato, organizado pelo Sindipetro Unificado, em conjunto com o Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção de Campinas (Sinticom) e outras entidades sindicais, denunciou a precarização das condições de trabalho nas unidades do Sistema Petrobrás, consequência direta de anos de terceirização, corte de custos e enxugamento de efetivos.

Uma morte anunciada

Sobram os motivos para a revolta expressa na manifestação. A morte de Carlos Rodrigo Medeiros não é um caso isolado, pelo contrário, é parte de uma escalada trágica: desde 2020, foram registradas 18 mortes em acidentes nas unidades da Petrobrás — todas de trabalhadores terceirizados. Com Carlos, o número sobe para 19 mortes – todas de trabalhadores de empresas terceirizadas.

As falas das lideranças sindicais foram duras e carregadas de indignação. Para Cibele Vieira, coordenadora geral do Sindipetro Unificado e diretora da Federação Única dos Petroleiros (FUP), esse acidente escancara o resultado do desmonte da Petrobrás.

“Essa empresa foi transformada numa fábrica de dividendos para acionistas. A riqueza gerada pelos trabalhadores aumentou, mas o que é destinado a nós despencou. A segurança industrial, que deveria ser um valor inegociável, segue sendo tratada como um custo. Não dá mais para aceitar que vidas sejam perdidas assim”, declarou.

Ela também lembrou que, após seis mortes só no ano passado, um Grupo de Trabalho (GT) foi criado, mas até agora o relatório não foi concluído. As medidas para melhorar a segurança, segundo Vieira, estão travadas na burocracia e na resistência da gestão da empresa.

Terceirização é sinônimo de precarização

O diretor do Sindipetro, Steve Austin, lembrou que a realidade atual é consequência de um processo iniciado nas décadas de 80 e 90, quando a Petrobrás começou a desmontar suas equipes próprias, terceirizando funções essenciais como caldeireiros, soldadores e recuperadores de válvula: “É uma luta antiga, mas que piorou muito após a reforma trabalhista. Fragmentaram os trabalhadores, dividiram a representação sindical e precarizaram tudo. Tudo isso para aumentar o lucro às custas da nossa vida.”, criticou Austin.

O dirigente da CUT Estadual, Carlos Fábio, conhecido como Índio, também foi enfático: “O que aconteceu aqui foi anunciado. Já fizemos vários atos alertando que a entrega da nossa Petrobrás e a precarização gerariam mortes. Quando se olha para o trabalhador e vê cifrão no lugar de gente, o resultado é esse. Visaram o lucro acima da vida”. 

Representando a Federação Nacional dos Petroleiros (FNP), Márcio André, de Caraguatatuba, trouxe à tona uma dura reflexão sobre o medo que impera nas refinarias: “Muitos aqui já se machucaram e não denunciaram, por medo de perder o emprego. Até quando vamos aceitar isso? Hoje, não produzimos para sobreviver, mas para enriquecer o 1% da população, deixando nossos braços, nossas pernas e, como o companheiro Carlos, até nossas vidas no trabalho”. 

Ele também denunciou que, a cada 10 acidentes, 8 envolvem terceirizados, e, a cada 5 mortes, 4 são desses prestadores de serviços.

O gráfico abaixo revela uma sequência nefasta: as mortes em acidentes de trabalho no Sistema Petrobrás vêm crescendo ano após ano desde 2021. Naquele ano, foram 3 mortes, número que subiu para 4 em 2022, depois para 5 em 2023 e chegou a 6 em 2024. Com o falecimento de Carlos Rodrigo de Medeiros, esse número chega agora a 19 vidas perdidas desde 2020, todas de trabalhadores terceirizados, que são justamente os mais suscetíveis às consequências da precarização, dos cortes de custos e do desmonte promovido pela terceirização.

O clima no ato era de comoção, mas também de resistência. O recado era claro: a vida dos trabalhadores não pode ser tratada como descartável: “Se a empresa não garante segurança, os trabalhadores precisam conhecer e exercer seu direito de recusa. Nenhuma tarefa vale mais que uma vida”, afirmou Carioca, um dos representantes presentes, fazendo referência à prerrogativa legal que permite ao trabalhador interromper uma atividade que apresente risco grave e iminente à sua vida.

Os sindicatos exigem uma apuração rigorosa sobre as causas do acidente e responsabilização da empresa terceirizada, da gestão da Replan e da direção da Petrobrás. Também cobram que as medidas de segurança deixem de ser um aparato discursivo e passem a ser aplicadas na prática na refinaria.

Durante o ato, lideranças sindicais reforçaram esta importância do direito de recusa, esta prerrogativa, no entanto, esbarra no medo, na coação e na pressão cotidiana exercida sobre os trabalhadores. “Falam em direito de recusa, mas obrigam o trabalhador a entrar de madrugada, sem condições. A segurança precisa deixar de ser discurso e virar prática no chão de fábrica”, destacou o representante sindical.

Em sinal de luto e protesto, trabalhadores e trabalhadoras do Sistema Petrobrás paralisaram suas atividades nesta segunda-feira (23) na Refinaria de Paulínia. A parada, articulada por sindicatos e federações, teve caráter simbólico e político, como forma de exigir respostas e ações concretas diante de mais uma morte no setor. A paralisação, que teve enorme adesão, foi um gesto de solidariedade à família de Carlos Rodrigo e de denúncia contra a política de terceirização que precariza condições de trabalho e coloca vidas em risco.

 


Fonte:  Vítor Peruch - Sindipetro Unificado / Foto: Marcelo Aguilar - 25/06/2025

 

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