O Sindipetro Unificado reinaugurou nesta terça-feira (2) sua sede em São Paulo, localizada no Viaduto Nove de Julho, no centro da capital. O espaço, que estava parcialmente fechado desde 2020, volta a atender presencialmente às terças-feiras, além de outros dias mediante agendamento. Segundo a direção do Sindipetro, o fechamento da sede esteve ligado tanto aos efeitos da pandemia quanto às políticas de redução do efetivo em São Paulo durante os governos Michel Temer e Jair Bolsonaro. “É um dia de comemoração para nós, já que quase fechamos essa sede, mas mais uma vez resistimos. Mantivemos a sede com muita luta e resistência, e agora a reinauguramos para colocar à disposição do público”, afirmou o diretor do sindicato, Vereníssimo Barçante no início da cerimônia.
A atividade contou com homenagens aos fundadores do sindicato e a um de seus principais nomes históricos, Antônio Carlos Spis, liderança sindical que foi figura central nas greves dos anos 1980 e participou da criação de entidades como a Federação Única dos Petroleiros (FUP) e do próprio Sindipetro. Durante o evento, os presentes também aprovaram em votação a entrada de três novos integrantes na direção do sindicato: Maju (TBG), Murilo Turi (Replan) e Lucas (Transpetro).
A petroleira Eliane Frozel abriu a cerimônia ressaltando a importância da Petrobrás para o país e para os trabalhadores. “Nesta trajetória, existem pessoas e pessoas. Nos deparamos com companheiros, hoje aqui representados pelo Spis, Demétrio e tantos outros, que começaram o movimento de consciência política no meio de uma ditadura. Tivemos o privilégio de pertencer a um ambiente que proporcionou o sentido de classe, de solidariedade, de empatia — e isso nós não vamos perder nunca, porque esse ambiente nos faz crescer como seres humanos”, disse.
Na sequência, Eliane homenageou Antônio Carlos Spis, lembrando a histórica greve de 1983 e a força da luta coletiva. “Quando eu falo em resistência, a primeira pessoa que me vem à cabeça é o Spis, que nos reergueu. Nossos líderes foram primordiais, mas a participação de todos é essencial”, afirmou.
Em seguida, Spis recebeu uma placa em reconhecimento pelos serviços prestados à categoria. Ao falar, destacou as dificuldades enfrentadas no início da organização sindical:
“Não foi nada fácil. Havia a dificuldade da distância física entre os trabalhadores. Como convencer pessoas de Barueri, Guararema, Suzano e São Caetano sem ir até lá? Combinei com o Demétrio, às vezes com o Zica, de visitar os turnos aos domingos e feriados. O pessoal só recebia o boletim nessas visitas, e depois eu já tinha que ir trabalhar. Mas, após a primeira eleição, conseguimos a liberação de três dirigentes — eu, Jacaré e a Verinha — e começamos a visitar as bases com mais frequência. Foi assim que o sindicato cresceu”.
Spis encerrou sua fala reafirmando o espírito de mobilização da categoria. “Estamos vivos e tomara que isto seja um grande recomeço. A luta continua — e não é só uma frase. A luta é permanente. Parabéns pela retomada deste espaço. Que agora a gente consiga lotá-lo e erguer as mãos para uma nova greve”.
O petroleiro aposentado Jairzinho também prestou homenagem: “Spis, pode deixar a modéstia de lado um pouco. A verdade é que, se não fosse você, não sei se teríamos este sindicato”.
O diretor do Sindipetro Unificado, Carlos Cotia, recordou a invasão ao Edise, sede da Petrobras no Rio de Janeiro, e destacou a trajetória de Antônio Carlos Spis. “Ele foi demitido pela televisão em 1995 e, nesse processo, passei a integrar a comissão de anistia. O Spis negociava caso a caso, buscando garantir o retorno de todos. A empresa já havia deixado claro: ‘volta todo mundo, menos você’. Ainda assim, ele lutou pela anistia de todos os companheiros”, afirmou.
O petroleiro Luciano Zica destacou a emoção de reencontrar companheiros na reinauguração. “É uma alegria enorme estar aqui, revendo jovens e também algumas cabeças brancas. Entrei na Refinaria de Paulínia em 1971 sem saber o que faria ali. Fui formado como ser humano e como militante político pela convivência com a categoria petroleira, com o Spis e tantos outros dentro da refinaria. Fomos forjados na construção do sindicato dos petroleiros”, afirmou.
Zica relembrou ainda a greve de 1983. “Teve uma importância enorme para nós, e o Spis foi a figura capaz de catalisar e unificar a categoria na luta pela reintegração dos demitidos. É importante lembrar que a Petrobrás cometeu muitos erros naquele processo: foram 152 demitidos na Replan e 200 na Bahia. Essa luta foi fundamental, e ao permitir o retorno de Spis a Campinas, a empresa acabou, sem querer, espalhando a semente da construção coletiva pelo estado de São Paulo”.
Juliano Deptula, diretor do Sindipetro Unificado, ressaltou a importância da memória histórica da categoria. “Sou filho e sobrinho de petroleiro e, desde pequeno, acompanhei mobilizações e lutas na porta da Recap. É fundamental destacar o processo histórico construído pelas gerações que nos antecederam: o enfrentamento à ditadura militar, a resistência contra a privatização. Foi essa trajetória que tornou possível a Petrobrás ter o tamanho que tem hoje”, afirmou.
O petroleiro Demétrio Villagra relembrou a atuação da categoria durante a ditadura militar. “Naquele tempo vivíamos sob um regime autoritário, e os petroleiros de Mauá tiveram uma participação muito forte na fundação deste sindicato”, afirmou.
Ele também destacou o papel de Spis na organização sindical. “Viemos trabalhar em São Paulo, e como não havia estrutura sindical, o Spis começou esse trabalho. Na sexta-feira íamos embora, no sábado escrevíamos o boletim e no domingo voltávamos para cá. Foram uns dez anos assim, sem descanso no fim de semana. Por isso e muito mais, o Spis merece essa homenagem.” Após a solenidade, o evento foi encerrado com uma confraternização entre os presentes.