Em sua primeira entrevista à imprensa, divulgada no domingo (14), o Papa Leão XIV direcionou duras críticas aos pacotes de remuneração corporativa que concedem a executivos salários centenas de vezes superiores aos de seus funcionários. O pontífice citou o recente plano de remuneração de US$ 1 trilhão da Tesla para seu CEO, Elon Musk, como exemplo do que classificou como um desequilíbrio problemático.

“CEOs, que há 60 anos poderiam estar ganhando de quatro a seis vezes mais do que os trabalhadores, estão recebendo 600 vezes mais (agora)”, declarou o Papa na entrevista, realizada no final de julho para uma biografia ainda a ser lançada. Sobre a projeção de Musk se tornar o primeiro trilionário, questionou: “O que isso significa e do que se trata? Se essa é a única coisa que tem valor, então estamos em um grande problema.”

Os trechos da entrevista foram divulgados pelo site de notícias católicas Crux, que destacou o estilo mais reservado do pontífice, que prefere falar a partir de textos preparados, contrastando com o perfil de seu antecessor, o Papa Francisco.

Além do tema econômico, o Papa Leão XIV, natural de Chicago e o primeiro pontífice norte-americano, eleito em maio, também abordou outros assuntos. Ele criticou a Organização das Nações Unidas (ONU) por, em sua avaliação, não ser mais capaz de promover uma diplomacia multilateral eficaz. “Infelizmente, parece ser geralmente reconhecido que a Organização das Nações Unidas, pelo menos neste momento, perdeu sua capacidade de reunir as pessoas em questões multilaterais”, disse.

O pontífice também falou sobre suas décadas de trabalho como missionário no Peru, seu processo de adaptação ao papel de pontífice e expressou suas esperanças de paz para guerra na Ucrânia.

Herdeiro de uma tradição de defesa do trabalho

A postura deo Papa Leão XIV em relação à justiça social e à defesa dos trabalhadores não é ocasional, mas uma escolha doutrinária. Em maio, o pontífice confirmou que seu nome é uma homenagem ao Papa Leão XIII (1878-1903), conhecido como um defensor dos trabalhadores durante a Revolução Industrial.

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Em discurso a cardeais no Vaticano, Leão XIV reafirmou este legado, citando a histórica Encíclica Rerum Novarum de seu predecessor, que abordou a questão social no contexto industrial do século XIX.

“Em nossos dias, a Igreja oferece a todos o tesouro de sua doutrina social em resposta a mais uma revolução industrial e aos desenvolvimentos no campo da inteligência artificial, que representam novos desafios para a defesa da dignidade humana, da justiça e do trabalho”, declarou.

Ele afirmou que a Igreja deve assumir a liderança no enfrentamento de novas ameaças aos trabalhadores, posicionando a inteligência artificial como um desses desafios.