Notícia - Crise nos Correios: a culpa é dos governos e querem que trabalhadores e o povo paguem a conta

Os Correios atravessam uma das piores crises de sua história. A direção da empresa anunciou nesta semana que busca R$ 20 bilhões em financiamentos para conter o colapso financeiro e operacional, após registrar um prejuízo de R$ 4,3 bilhões apenas no primeiro semestre de 2025, o maior em oito anos. Mas a explicação para a situação da estatal não está apenas nos números: ela é resultado direto de anos de sucateamento e das políticas de sucessivos governos, incluindo o atual.

Essa semana, a direção da ECT (Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos) anunciou um “plano de recuperação” e as medidas propostas escancaram a tentativa de fazer os trabalhadores pagarem pela má gestão e pelos erros dos governos.

O plano prevê mais cortes de custos, redução de cargos, programa de demissão voluntária (ainda menos trabalhadores diante de uma sobrecarga sem precedentes), suspensão de férias, diminuição de jornada e venda de imóveis. São medidas que aprofundam a precarização e o desmonte, enquanto os verdadeiros problemas estruturais continuam sem solução. Uma situação que penaliza dos empregados ecetistas e também a população, principalmente mais pobre, que necessita dos serviços dos Correios.

Campanha Salarial paralisada e jornada 12x36

A direção da ECT tenta ainda empurrar ainda a mudança da jornada para 12x36, sob o pretexto de “adequação ao mercado”, o que representaria um retrocesso histórico, atacando direitos e ampliando o adoecimento físico e mental da categoria.

Essa ofensiva ocorre em meio à paralisação das negociações da Campanha Salarial, que tem data-base em agosto, mas estão marcadas pela enrolação e total ausência de propostas concretas. A empresa se nega a garantir reajuste salarial.

O Setorial dos Trabalhadores dos Correios da CSP-Conlutas produziu um panfleto (baixe aqui) aos trabalhadores da categoria, em que destaca que o governo Lula mantém bilhões do dinheiro público em incentivos para o agronegócio e grandes empresários, mas não garante recursos para uma empresa pública essencial, responsável por integrar o país e atender regiões onde nenhuma iniciativa privada chega.

O material cita ainda medidas como a chamada “taxa das blusinhas”, que impôs tributação sobre compras internacionais de até 50 dólares e derrubou a receita das encomendas internacionais da estatal, que despencou 62% em 2025. Cita também a Portaria 1.086, que retirou a exclusividade da ECT no desembaraço de mercadorias importadas, o que também impactou a arrecadação da empresa.

Sucateamento a serviço da privatização

 “Desde o governo FHC, passando pelos mandatos de Lula, Dilma, Temer e Bolsonaro, os Correios vêm sofrendo ataques que visavam preparar o terreno para sua privatização. Foi a resistência dos trabalhadores que impediu que isso ocorresse, forçando o governo Lula, no início do mandato, a retirar a empresa do Programa Nacional de Desestatização. No entanto, o que se viu desde então foi a manutenção da mesma lógica de abandono, sem investimentos em infraestrutura, tecnologia ou pessoal, o que empurrou a estatal para a crise atual”, explica o dirigente da Fentect (Federação dos Trabalhadores dos Correios) e integrante da Secretaria Executiva Nacional da CSP-Conlutas Geraldinho Rodrigues.

Geraldinho afirma: a crise dos Correios é resultado de um projeto continuado de desmonte das estatais. “Não são os trabalhadores os responsáveis por essa crise, mas é sobre eles que querem impor o custo dessa conta. Para salvar os Correios, não bastam empréstimos, é preciso um plano real de reconstrução da empresa pública, com investimento estatal, valorização dos funcionários ecetistas e uma gestão, sob controle dos trabalhadores, voltada ao interesse social, e não ao lucro ou à lógica do mercado”, afirma o dirigente.

Empresa já deu muito lucro

Uma das medidas imediatas propostas pelos trabalhadores é a devolução imediata de R$ 6 bilhões retirados dos Correios e a realização de investimentos que garantam condições dignas de trabalho e a retomada da capacidade operacional da estatal.

Em relação à campanha salarial, a reivindicação é a reedição do Acordo Coletivo de Trabalho por um ano, mantendo a data-base em 1º de agosto; reajuste imediato com aumento real de salários, no mesmo percentual de 14% concedido à diretoria da ECT e demais estatais; redução das mensalidades do plano de saúde; pagamento integral de 70% da gratificação de férias e do vale-refeição extra de dezembro; e garantia de condições dignas de trabalho, com contratação de pessoal e investimento público.

“São medidas mínimas para que os Correios retomem sua função social e para que os trabalhadores não continuem pagando, com seus direitos e sua saúde, a conta de uma crise que não criaram”, afirma Geraldinho.

É preciso unidade e calendário de luta

O Setorial dos trabalhadores dos Correios da CSP-Conlutas destaca também: é preciso a unidade de ação entre os 36 sindicatos da categoria e das duas federações. “As direções sindicais atreladas ao governo precisam deixar de paralisia e conivência. Não dá para aceitar que dirigentes fiquem reproduzindo as justificativas da direção da ECT, pedindo paciência e desmobilizando a base”, denuncia Geraldinho.

“É urgente que a Fentect, a Findect e os 36 sindicatos rompam com essa postura de conciliação e organizem uma luta unificada e combativa. A categoria exige a convocação imediata de uma Assembleia Nacional Unificada para o dia 30/10, para construirmos uma forte greve nacional, capaz de enfrentar tanto o governo quanto a direção da empresa”, afirmou.


Fonte:  CSP-CONLUTAS - 20/10/2025

 

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