Notícia - Cúpula dos Povos: Painel de lideranças denuncia destruição da Amazônia e a farsa da COP30

A atividade organizada na Cúpula dos Povos pela CSP-Conlutas, nesta quinta-feira (13), expressou o perfil da Central com atuação entre os povos indígenas, ribeirinhos, quilombolas, camponeses, povos da floresta, mas também operário. Uma atividade que denunciou de forma contundente o governo Lula que divulga a COP30 como salvação do meio ambiente, mas junta-se a empresários, ruralistas e multinacionais para promover um verdadeiro balcão de negócios com a Amazônia.

"Quem deveria decidir sobre a Amazônia são os povos que vivem nela, mas não podemos nem entrar na COP30", destacou o líder de Anapú (PA), Erasmo Theófilo, um dos lutadores que compuseram a mesa cuja tema foi a "A COP30 como mecanismo do capital para legitimar a destruição da Amazonia e do planeta". 

Na mesa de lutadores e lutadoras, estiveram presentes vítimas da violência de Estado, da violência no enfrentamento com setores criminosos da exploração de territórios, minérios e riquezas naturais, responsáveis por graves crimes contra os direitos humanos. Parte dos convidados (as) está, até mesmo, jurado de morte e conta com proteção do Estado - o que não deixa de ser incoerente, pois são vítimas da política permissiva de governos para com os criminosos.  

Em cada uma das falas se mostram histórias de intensas lutas contra o latifúndio, o agronegócio, a violênca do Estado, mas com um forte ponto em comum: a solidariedade entre os que lutam.   

Além de Erasmo Theófilo, líder do mesmo assentamento onde foi assassinada Dorothy Stang, também participaram como expositores: a liderança da nação Tremembé do Maranhão, Raquel Tremembé; do estado de São Paulo, Ricardo Terra, integrante do MNL (Movimento Nacional de Lutas Campo Cidade); o presidente da Associação dos Moradores de Sítio Grande (Barro Branco-PE) Geterino, sob proteção do estado; a representante do Movimento das Mães de Vítimas de Violência Policial Sueidy Pena, de Belém (PA); o líder da comunidade São José, do municÍpio de Moju (PA), sob proteção do estado, Claudio Castro; a coordenadora do Sindicato dos Trabalhadores  da Construção Civil de Belém (PA) Dany Brito; e o seringueiro do Acre Osmarino Amâncio, histórica liderança dos Povos da Floresta.  

Exposições expressam lutas e coragem

Raquel Tremembé - A liderança Tremembé chamou atenção para a importância da unidade entre trabalhadores do campo, da cidade, os povos originários, quilombolas, os que são violentados e tem seus direitos violados todos os dias. "Por direitos, por respeito e dignidade, estamos aqui", falou em nome da nação Tremembé, do Maranhão. Como "uma semente teimosa, que teima diariamente para continuar sobrevivendo", sintetizou.  

Raquel denunciou como parte do "etnocidio e ecocídio" a realização da COP30 sem a participação dos povos que garantem a vida à Amazônia. "O resultado disso é a efetivação do Marco Temporal como lei, por exemplo, mas há muitos outros ataques às nações indígenas. É um verdadeiro alargamento de porteiras para ações contra os povos indígenas, ribeirinhos, trabalhadores como um todo", apontou, defendendo a reação unificada.

Erasmo Theófilo - Líder do mesmo assentamento onde foi assassinada a missionária Dorothy Stang, em 2005, se mostrou irritado com o que chamou a "farsa da COP" por tomar decisões em espaço no qual os povos afetados não podem participar. Mas foi taxativo ao afirmar que não aceitarão tais decisões que forem contra a vida dos povos amazônicos. "Que não venham querendo aplicar coisas contra nós dizendo que são resoluções da COP30. Não vamos aceitar".  

Emocionado, agradeceu aos que estiveram ao seu lado nos momentos considerados os mais dificeis em sua vida e luta. 

Ricardo Terra - O dirigente do MNL - movimento de assentamentos de pequenos agricultores na região de Bauru (SP), que se filiou recentemente à CSP-Conlutas -, ressaltou que enfrentam o agronegócio  e o latifúndio com pressôes cotidianas. "Daqui a pouco não vamos mais ter o que comer, porque no interior de São Paulo, por exemplo, só é plantado cana e eucalipto. A gente precisa de uma reforma agrária  urgente neste país", clamou. 

Geterino - Chamou atenção para os que pensam que estão isolados, mas que não estão e precisam pensar em seu papel na sociedade. "Eu falo na minha comunidade que prefeito, governos e politicos, eles são pagos por nós, então, não podem decidir sobre as nossas vidas sem que a gente esteja presente", defendeu. 

O líder campones expôs sobre a luta no Barro Branco onde por anos são obrigados a disputar cotidianamente a garantir as terras ancestrais da comunidade revindicadas por herdeiros da empresa Agropecurária Mata Sul. São 400 famílias cadastradas pelo Incra, que passaram por muitas histórias de luta. "Lutas pelas quais estou passando hoje, sendo perseguido por defender nossos direitos, tendo até mesmo doze pistoleiros na minha casa, por não abrir mão dos meus direitos", relatou.

Sueidy Pena - Mãe de Davi, adolescente assassinado pelo estado do Pará, Sueidy fez um forte e comovente relato: "Acabei sendo voz de muitas mães, que querem justiça, mas acabam sendo punidas. Eu conquistei esse espaço, acredito pelo tom da pele, porque sou mais clara, mas nas periferias quem morre são os negros [e meu filho era negro]. Eles são os marginalizados. Nós temos uma sociedade racista, eu sigo a luta não só pelo Davi, mas por vários Davis que seguem morrendo", salientou.

"Um tiro no peito é uma execução. Foi assim que mataram o Davi. Foi uma execução. Implantaram armas, negaram atendimento médico", lamentou com indignação.  

Sueidy abordou ainda as dificuldades enfrentadas, as narrativas prontas para defender policiais assassinos. "Filmem, postem qualquer violência que vejam, porque amanhã pode ser você. Quando a polícia entra na periferia, na favela, não quer saber se tem crianças, uma mãe, um pai voltando do trabalho. O alvo são negros", disse.

"Lula se elegeu, subiu a rampa, com povo indígena, um cadeirante, uma criança marginalizada, LGBT. Hoje, nós vemos esse governo Lula querendo vender aqulio que nos pertence, de um governo que se vendeu. Isso é lamentável pra gente, pois nosso voto tem um valor de vida. Por isso, nós podemos tirar esse poder", afirmou.

Sueydi acredita que segurança púbica começa muito antes dessa violência. "Começa com escola pública, saúde pública, amparo aos que sofrem violência e direito de julgamento antes de execuções".

Claudio de Castro -  De uma região gravemente afetada pela extração de seixo, minério usado principalmente na construção civil, Claudio falou da luta na região que abarca diversas comunidades. "Estou há dois anos sem visitar meu território, porque estou ameaçado de morte por causa da extração ilegal de seixo no leito do rio". A comunidade sofre com essa extração há 40 anos, o que minou a qualidade da água, impedindo o uso cotidiano para beber, plantio de alimentos e pesca. 

Depois de anos denúncias não registradas pelos diversos orgãos públicos e total inação, a comunidade decidiu agir conta própria. Foi assim que Cláudio organizou um setor da população para impedir a navegação de uma balsa. Impediu até garantir que a polícia chegasse para fazer a apreensão. Depois disso, após avisar aos que extrairam, que afundariam barcos se voltassem, há dois anos liderou o naufrágio de quatro barcos, o que o obrigou a fugir da região, porque ficou jurado de morte.     

Dany Brito - A operária da construção civil de Belém saudou a mesa como um momento de encorajamento de todos pela troca de experiências. Lembrou que sua categoria ganha cerca de R$ 1.600 para construir prédios, os mesmos que os patrões vendem a R$ 18 milhões. "Lula e Hélder estiveram juntos com os empresários nas construções da COP30 explorando os trabalhadores. E não estamos participando da COP para decidir os rumos do nosso povo, mas vamos continuar lutando", frisou

Dany esteve na direção da recente greve dos operários da construção civil, realizada na reta final da preparação da COP30, em que quase 100% das obras foram paralisadas.   

Osmarino Amâncio - O jistórico líder seringueiro do Acre, companheiro de lutas de Chico Mendes, contou um pouco das violências sofridas na década de 1970/1980, e a resistência daqueles trabalhadores das florestas. "Nós fizemos movimentos, os chamados empates, para impedir que madeireiros derrubassem as florestas e, a partir dessa luta, conseguimos criar as reservas extrativistas". Contando essa história, refletiu sobre a importância das lutas e dos enfrentamentos com governos, patrões e ações ilegais que atuam contra os povos das florestas.  

Para Osmarino é necessário criar as ferramentas de autodefesa para os enfrentamentos com o Estado e empresários. "Fico preocupado quando as pessoas ficam pensando sobre o que é ter o paraíso no céu, pra mim o paraíso é aqui, na terra, com saúde, educação, respeito, ser solidário, companheiro. O céu é aqui", defendeu, ressaltando também que as religiões, como a evangélica que vem abarcando muitas comunidades, também são parte da opressão capitalista. 

O seringueiro denunciou a COP30 por meio da qual o governo Lula está jogando a Amazônia para o mercado. "Estão sendo negociadas a nossa água, a nossa terra, a nossa madeira, a nossa floresta, a nossa cultura, os nossos costumes, a nossa educação. Tudo está sendo negociado. Então, o nosso enfrentamento é com o sistema capitalista", afirmou.   

Osmarino denunciou ainda o governo Lula, o papel das centrais sindicais e reforçou a necessidade do enfrentamento cotidiano. "A saída é a organização da classe trabalhadora". 

Além dos expositores, a mesa abriu a palavra para outras duas lideranças presentes na plenária: Elisa Xipaia, de Altamira, de uma das aldeias vítimas de Belo Monte; e Maria Márcia, presidente da Associação de Produtores Rurais de Castelo do Céu, interior do Pará. 

O professor da UFPA Gilberto Marques, responsável pela garantia do espaço, também fez uma breve fala e convocou para importante atividade que acontece nesta sexta-feira (14), no mesmo auditório do ICSA (Instituto de Ciências Sociais), com o painel "Justiça e Reparação de trabalhadores, povos indigenas e outras vítimas da ditadura militar brasileira". 

Ao final, a coordenadora da mesa Rosi Pantoja, junto com Waldemir Soares Junior, ressaltou o papel da CSP-Conlutas na Cúpula dos Povos para denunciar a farsa da COP30 e aglutinar lutadores e lutadoras na luta contra a ganância capitalista que está destruindo o meio ambiente e agravando a crise climática no planeta. "Ao nos aglutinarmos queremos mostrar que nós precisamos unificar as nossas lutas, porque separados nós somos muito mais frágeis. Mais fácil para os governos nos massacrarem, massacrarem as nossas lutas". Assim, a dirigente convocou a participação em outras atividades da Cúpula, especialmente para a ampla marcha global que acontecerá no sábado, de manhã, e que contará com uma coluna unificada da Central com os operários da construção civil e diversos ativistas do campo e da cidade. Os ativistas se concentrarão na sede do Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil, às 7h.      


Fonte:  CSP-CONLUTAS - 14/11/2025

 

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