No últumo domingo (16), após o encerramento da Cùpula dos Povos, na COP30, a Confederação Sindical Internacional (CSI) e suas entidades filiadas, entre elas a CUT, realizaram o Dia de Estratégia (Strategy Day), momento dedicado à coordenação política e ao alinhamento de iniciativas sobre transição justa. A delegação definiu como prioridade “enfrentar o crescente impacto da crise climática sobre os trabalhadores e suas famílias”. O encontro ocorreu no Espaço CUT na Univiversidade Federal do Pará (UFPA).
O secretário-geral da CSI, Luke Triangle, enviou mensagem em vídeo destacando que a organização está representada por uma “delegação forte e motivada” e criticou o descumprimento das promessas de criação de “bons empregos verdes” e a “falta de financiamento para uma transição justa”.
Preparação conjunta
O secretário de Relações Internacionais da CUT, Antonio Lisboa, avaliou o balanço das ações sindicais na COP30 e destacou o fortalecimento das alianças construídas no último período. Ele lembrou a realização da Pré-COP sindical em Brasília, que ajudou a preparar a intervenção das centrais no encontro de Belém.
“A mensagem da Confederação Sindical Internacional foi dada pelo nosso secretário-geral”, disse. Lisboa afirmou que a preparação conjunta permitiu que a delegação chegasse mais articulada. “Esse trabalho que foi feito nesse último período fez com que nós chegássemos até aqui.”
O dirigente ressaltou ainda o aumento da presença sindical nas conferências climáticas. “Estamos hoje mais presentes em número do que nas COPs anteriores, e a tendência é que a gente aumente.” Ele reforçou que a transição justa não pode ser afastada dos debates climáticos. “A transição justa é uma expressão criada por nós, trabalhadores, e não podemos deixá-la de lado.”
Lisboa enfatizou também a importância da mobilização popular registrada na Cúpula dos Povos. “As pessoas só defendem o que sabem o que é. A mobilização que a COP de Belém trouxe vai nos ajudar nos próximos passos.” Por fim, agradeceu a participação das centrais e das delegações presentes, afirmando que o espaço foi construído “com muito carinho e muito trabalho” para receber todas e todos.
Ainda segundo ele, a articulação construída antes e durante a COP30 — incluindo a Pré-COP sindical realizada em Brasília — consolidou alianças e prepara o movimento para os próximos embates.
Mecanismo de Ação de Belém (BAM): eixo central da proposta sindical
A principal demanda apresentada pelas centrais e pela CSI é a criação do Mecanismo de Ação de Belém (BAM), considerado fundamental para acelerar e integrar políticas de transição justa em todos os países e setores. Para o movimento, a COP30 é uma “oportunidade importante para ampliar a dimensão social da ação climática”.
O BAM é concebido como um mecanismo institucional dedicado, capaz de garantir que “nenhum país seja deixado para trás”. Mais de mil organizações da sociedade civil, entre elas sindicatos de todo o mundo, apoiam o chamado para que o mecanismo seja acordado “até o final da próxima semana”.
100 sindicalistas x 1.500 lobistas do fóssil
A delegação sindical denunciou a desigualdade de forças na Zona Azul da COP30, onde circulam 1.500 lobistas de combustíveis fósseis. O movimento defende que o processo seja “transparente” e que haja “representação igualitária” nos espaços de negociação.
O financiamento climático segue como ponto crítico. Os sindicatos afirmam que o Fundo Verde para o Clima destina menos de 3% de seus recursos para projetos de transição justa, quando, segundo a CSI, “100% deveria ser transição justa”. As entidades cobram que os Bancos Multilaterais de Desenvolvimento incorporem o tema de forma robusta.
Geopolítica, Brasil e disputas abertas
A presença ampliada do Sul Global, com destaque para Brasil, China, Nigéria, Indonésia e República Democrática do Congo, foi citada como sinal de reposicionamento político. A presidência brasileira foi elogiada pela abertura de negociações sem conflitos iniciais de agenda, e o fato de o presidente Lula vir do movimento trabalhista é interpretado como “oportunidade para elevar a transição justa”.
Entre as tensões presentes estão:
- Medidas comerciais unilaterais que afetam o Sul Global, como o CBAM europeu;
- Direitos trabalhistas, incluídos no programa de trabalho da transição justa apenas na COP27;
- Plano de Ação de Gênero, que enfrenta resistência e se tornou alvo de disputas culturais.
As entidades defendem que a OIT seja integrada ao BAM para garantir salvaguardas trabalhistas e fortalecer a negociação coletiva como eixo da transição.
Da vitória em Paris à implementação real
A referência a “empregos decentes e trabalho de qualidade” no Acordo de Paris foi destacada como uma conquista histórica do movimento sindical. Agora, o desafio é avançar da retórica à implementação e consolidar o BAM como ferramenta institucional que tire a transição justa do “buraco do inferno da UNFCCC” e a coloque no centro das políticas climáticas.