Um estudo feito sobre a média salarial dos(as) trabalhadores(as) com ensino superior no Brasil, empregados(as) no setor privado, revelou dados nada positivos para a educação. De acordo com a pesquisa, os(as) educadores(as) aparecem no topo e em seis das 10 primeiras posições do ranking dos(as) profissionais diplomados(as) que recebem os menores salários no país. Os números também mostram que quanto maior o percentual de mulheres na atividade, menor é a remuneração.
Liderando a lista estão os(as) professores(as) de ensino infantil, com salário médio de R$ 2.285. O valor é inferior a dois salários mínimos (R$ 2.640) e 48% menor do que o piso nacional do magistério para uma jornada de 40 horas semanais (R$ 4.420,55). Em segundo lugar estão “outros profissionais de ensino”, o que pode incluir funcionários(as) de escola com diploma superior. A remuneração média da categoria é de R$ 2.554. Na sequência, aparece “outros professores de artes”, com média salarial de R$ 2.669.
Bibliotecários(as), documentaristas e afins ocupam a sexta posição (R$ 3.135) e educadores(as) para necessidades especiais a sétima (R$ 3.379). Professores(as) de ensino fundamental (R$ 3.554) amargam a décima colocação.
O levantamento é resultado de uma pesquisa do Ibre/FGV, realizada com base nas 126 profissões listadas na Pnad Contínua do IBGE. As informações foram divulgadas no último domingo (15) pelo portal UOL.
O estudo também fez uma comparação entre o segundo trimestre de 2012 e o segundo trimestre de 2023. Enquanto a inflação acumulada no período foi de 91%, segundo o Banco Central, a média salarial dos(as) professores(as) de artes caiu 45%. A queda também foi grande para os segmentos de bibliotecários(as) (-32%) e “outros profissionais de ensino” (-23%).
Com aumento real após mais de uma década, docentes da educação infantil tiveram variação de apenas 3% e educadores(as) do ensino fundamental 7%. Já a remuneração média dos(as) profissionais para necessidades especiais variou 14%, descontada a inflação.
Desigualdade de gênero
Para a pesquisadora que conduziu o levantamento, Janaína Feijó, uma das hipóteses para os baixos salários dos(as) educadores(as) seria a existência de uma oferta de mão de obra acima da demanda do mercado e profissionais em início de carreira.
“Geralmente, professores que ganham em média esses valores são pessoas em início de carreira, sem especialização e que tendem a trabalhar em escolas pequenas, com menor poder de aumentar o salário”, disse ela ao UOL.
Mas, na avaliação da secretária da Mulher Trabalhadora e dos Direitos LGBTI+ da APP-Sindicato, Tais Adams, a causa principal está associada a um problema estrutural e mais grave que afeta a sociedade brasileira, o machismo.
“A docência é, historicamente, vista como uma profissão ligada ao cuidado, tarefa cuja divisão de gênero cabe desproporcionalmente às mulheres. O trabalho, nessa ótica, é desvalorizado. O maior exemplo é o trabalho doméstico não remunerado exercido por mulheres ao cuidar do lar e da família”, exemplifica.
“Então não é por acaso que as professoras trabalham muito e recebem pouco. Lutar pela valorização da classe é lutar, também, por igualdade de gênero e justiça na divisão do trabalho”, complementa Taís.
Dados oficiais do Inep e da Capes evidenciam os argumentos da dirigente e mostram que quanto mais básico o nível de ensino, maior a proporção de mulheres que lecionam e, consequentemente, menor o salário.
Na educação infantil, as mulheres são praticamente a totalidade de quem educa no Brasil: 97,2%. No ensino fundamental, elas são 77,5% dos(as) docentes. No médio, o percentual de educadoras cai para 57,5%. Por outro lado, na educação superior, os homens são maioria, representando 52,98% do total de professores(as) dessa etapa.