A renovação organizacional em curso e o crescimento substancial do sindicato United Electrical Workers (UE) é uma das histórias mais marcantes e notáveis do movimento sindical dos Estados Unidos nas últimas décadas. Poucos outros sindicatos sofreram tantas perdas devido à repressão estatal, aos ataques de sindicatos oportunistas e aos efeitos catastróficos da realocação de empregos corporativos — e sobreviveram.
Das 42 entidades sindicais que compunham a lista original de fundadores do Congress of Industrial Organizations (CIO) em 1938, apenas oito ainda existem de forma intacta hoje. A UE é uma delas. O restante deixou de existir, foi destruído por repressão e ataques patronais, ou foi incorporado a sindicatos maiores, desaparecendo para sempre.
Fundado nos setores de eletrônicos, rádio, máquinas-ferramenta e indústrias de manufatura relacionadas, o sindicato UE manteve sua base de filiados, durante as primeiras quatro décadas, quase inteiramente dentro dessas indústrias. A ênfase constante na necessidade de organizar os não sindicalizados levou muitos milhares de trabalhadores não vinculados à manufatura a serem incorporados ao sindicato, mas quase todos eram trabalhadores administrativos ou técnicos que já atuavam lado a lado com os membros da UE para o mesmo empregador.
Grupos pequenos e ocasionais de trabalhadores de fora do setor manufatureiro às vezes procuravam a UE para tentar se sindicalizar. Eles eram incentivados a fazê-lo, mas geralmente eram encaminhados para outro sindicato — o que já representasse aquele tipo de trabalhador em outros lugares.
As “jurisdições” sindicais eram levadas muito a sério naquela época, com a maioria dos sindicatos respeitando rigidamente seus limites quanto aos tipos de trabalhadores que organizavam. Com a base organizativa da UE concentrada em setores industriais específicos, era quase inimaginável que trabalhadores de categorias não relacionadas pudessem encontrar espaço em um sindicato totalmente dominado por operários de fábrica.
A chegada do Antioch College
Em meados da década de 1960, durante os primeiros levantes do movimento estudantil em apoio aos direitos civis e contra a crescente guerra no Vietnã, Larry Rubin, estudante do Antioch College, entrou em contato com a UE, pedindo ao sindicato que organizasse os trabalhadores de serviços e manutenção no campus de Yellow Springs, Ohio.
Rubin e outros estudantes já haviam informado os trabalhadores sobre o histórico da UE nas negociações coletivas, seus processos democráticos e seu caráter de base. O impulso reflexo do sindicato foi encaminhá-los a outro sindicato, mais adequado para aquele tipo de trabalho. No entanto, Rubin, os estudantes e os próprios trabalhadores insistiram repetidamente: a UE era o sindicato ao qual queriam pertencer.
O organizador da UE Mel Womack, um dos primeiros membros afro-americanos da equipe sindical, finalmente decidiu apoiar a entrada dos trabalhadores do Antioch College na UE, levando o apelo de Rubin diretamente aos dirigentes do sindicato em Nova York.
“Eu conhecia a UE pela minha família na Filadélfia, e esse era o sindicato certo para esses trabalhadores. Mas precisávamos convencê-los de que seria uma boa escolha”, comentou Rubin.
O que facilitou um pouco a decisão do sindicato foi o fato de que praticamente toda a sua base de membros em Ohio havia sido destruída ou perdida nos 15 anos anteriores, devido a ataques de outros sindicatos e ao fechamento de fábricas. À medida que a UE organizava novas fábricas e reconquistava algumas unidades perdidas no estado altamente industrializado, a força de trabalho do Antioch College representava uma oportunidade de reconstruir uma base sólida para a organização no setor de manufatura.
Uma greve em 1965 por reconhecimento sindical foi rapidamente vencida pelos trabalhadores e estudantes da faculdade, e sua entrada oficial na UE permitiu a reconstituição do Distrito Sete da UE logo em seguida.
Nos últimos 60 anos, os membros da UE Local 767 desempenharam um papel consistente e positivo na vida do sindicato que quase os havia rejeitado. Mas hoje, os membros da Local 767 somam apenas um pequeno grupo, devido ao fechamento da maioria das operações do Antioch College em 2008 — uma vítima de má gestão épica. A história de Antioch transcende toda uma era desde quando a UE começou a considerar seriamente trabalhadores de fora da manufatura como membros em potencial, e também ensina a lição de que, em uma economia totalmente guiada por lucros e “eficiência”, nem mesmo um local de trabalho como Antioch está imune a demissões ou ao fechamento.
Decisões difíceis
Na década de 1970, a UE começou a sofrer onda após onda de demissões e fechamentos de fábricas, à medida que os empresários do setor manufatureiro iniciavam seu êxodo dos EUA para zonas de salários baixos ao redor do mundo. O ex-diretor de organização da UE, Ed Bruno, comentou:
“Durante toda a década de 1970 e até os anos 1980, sofremos grandes perdas com o fechamento de fábricas. Grandes unidades foram reduzidas a apenas algumas centenas de membros — ou até menos. Era difícil de acreditar. Quando Reagan foi eleito presidente, os portões se abriram de vez. Tentamos organizar fábricas que fugiram para o Sul, com sucesso limitado. E mesmo essas fábricas não estavam imunes ao fechamento, como descobrimos com a perda das plantas da Westinghouse em Tampa e da General Electric em Charleston, que havíamos sindicalizado. Nenhuma fábrica estava mais segura.”
À medida que os anos 1980 avançavam, o sindicato experimentou várias estratégias para se reorganizar e recuperar os membros perdidos.
“Por volta de 1987 e 1988, fomos forçados a repensar nossa relação como sindicato com o setor manufatureiro”, disse Bruno. “Passamos a tentar organizar trabalhadores dos setores de semicondutores, equipamentos médicos, oficinas de serviços e outras indústrias que ainda estavam amplamente presentes nos EUA. E decidimos olhar com atenção para a indústria de plásticos. Apostamos tudo.”
O esforço de organização no setor de plásticos
A indústria de plásticos representava um alvo formidável para a organização sindical da UE. Era descentralizada e amplamente não sindicalizada. Os lucros eram altos, e os salários, baixos. As primeiras sondagens no setor, que contava com cerca de 600.000 trabalhadores, mostraram um interesse acima da média na sindicalização por parte de muitos trabalhadores, mas a resistência patronal era feroz.
Percebendo a necessidade de agir rapidamente diante das condições que se deterioravam, a UE elaborou o plano de ação chamado “Comitê de Organização dos Trabalhadores do Plástico” (PWOC), no qual várias centenas de fábricas seriam abordadas simultaneamente pelo sindicato. Tudo foi feito na esperança de desencadear uma onda contagiante de espírito organizativo entre os trabalhadores da indústria, nos moldes do lendário organizador sindical norte-americano William Z. Foster, em sua abordagem para organizar as indústrias de frigoríficos e aço, no início do século XX.
Os primeiros resultados do PWOC foram encorajadores, com um grande número de trabalhadores respondendo ao chamado da UE por organização, melhores salários, benefícios e condições de trabalho. Fábricas de produtos e componentes plásticos foram amplamente panfletadas, e trabalhadores foram contatados em centenas de unidades. Grupos do PWOC foram iniciados em uma dúzia de estados, e o sindicato lançou uma mobilização completa com centenas de funcionários sindicais, líderes locais, membros e apoiadores da UE engajados.
Mas quase imediatamente, os patrões reagiram ao esforço de organização com repressão fanática e ilegal.
Trabalhadores foram demitidos, ameaçados e aterrorizados de costa a costa. Reuniões anti-sindicais foram realizadas em locais nos quais a UE tentava se organizar, e a resistência patronal foi tão patológica que empresas do setor plástico que ainda nem haviam sido abordadas pela UE forçaram seus funcionários a participar de reuniões contra o sindicato.
Na histórica cidade-base da UE, Erie, na Pensilvânia — então e ainda hoje lar de milhares de membros e aposentados da UE de vários locais — os patrões do setor de plásticos realizaram reuniões para coordenar um plano de repressão à campanha de organização, usando todos os meios legais e ilegais. Outdoors gigantescos foram instalados por toda a cidade denunciando o esforço de organização da UE, tudo para induzir medo e pânico entre os vários milhares de trabalhadores da região do PWOC em Erie.
Esmagados
Apenas um punhado de fábricas do setor de plásticos foi sindicalizado ao final do esforço que durou quase dois anos. Uma delas, Reid Valve, em Leetsdale, Pensilvânia, só foi organizada devido às inúmeras violações legais cometidas pela empresa durante a campanha de sindicalização.
John Thompson, atual Representante Internacional da UE e então líder na fábrica, liderou a campanha no local, onde o empregador cometeu demissões ilegais e outras ações tão severas que o NLRB (Conselho Nacional de Relações Trabalhistas) ordenou o reconhecimento do sindicato sem a necessidade de uma eleição, como forma de remediar a conduta absurda da empresa. Essa raríssima “ordem de negociação forçada” concedida à UE pelo conselho trabalhista para os trabalhadores da Reid pode muito bem ter sido a única concedida naquele ano a um sindicato tentando se organizar.
O progresso organizativo em todo o sindicato praticamente parou quando a onda de repressão antisindical se abateu sobre os locais de trabalho em todos os setores. Entre o final da década de 1980 e 1992, o sindicato conseguia vencer eleições e campanhas de sindicalização que totalizavam apenas algumas centenas de trabalhadores por ano. Essa crise foi refletida em todo o movimento sindical, à medida que demissões em massa, fechamentos parciais e encerramentos completos de fábricas se aceleravam. A incapacidade de romper o setor de plásticos, apesar do esforço hercúleo de todo o sindicato, foi um alerta duro.
Havia futuro para a UE? Ou para qualquer sindicato? Havia um caminho possível? O sindicato conseguiria ao menos sobreviver, quanto mais se reerguer?
Um novo rumo era necessário
A questão de diversificar amplamente os setores industriais organizados pela UE continuava sendo uma possibilidade, e no início dos anos 1990, um pequeno fluxo de locais não industriais já havia sido conquistado. Experiências de organização em locais de trabalho fora do setor de manufatura e a afiliação de sindicatos independentes existentes começaram a se concretizar, embora ainda em escala reduzida, já que a maioria dos esforços continuava focada em fábricas.
Motoristas de ônibus em Greenfield, Massachusetts, juntaram-se a trabalhadores da cidade e do distrito escolar já representados pela UE. Funcionários de cinemas e estações de rádio foram organizados em Boston. Trabalhadores da construção civil se sindicalizaram em Sacramento, Califórnia. Uma agência de empregos temporários foi organizada em Sioux Falls, Dakota do Sul. Equipes de estações de rádio foram conquistadas em Los Angeles. Instaladores de cofres bancários e técnicos de alarmes foram organizados na Filadélfia. Uma equipe de jornalistas de um jornal foi sindicalizada em Vermont. E havia outros casos, na maioria pequenas unidades de trabalho.
O recrutamento de membros em locais já sindicalizados (open shops) também trouxe sangue novo necessário, com o sindicato implementando um esforço renovado nesse sentido.
Primeiros sinais de avanço
Com a eleição de Bob Kingsley como novo Diretor de Organização no final de 1992, ficou evidente que a UE precisava urgentemente expandir os experimentos de organização em novos setores.
“Não queríamos desistir de organizar os trabalhadores da indústria, mas tínhamos que fazer algo para trazer novos membros e compensar as perdas,” disse Kingsley. “Nossos membros nas fábricas entenderam a necessidade e se mobilizaram também. Repetidamente, contamos com eles para levar a mensagem da UE a trabalhadores muito distantes do chão de fábrica.”
Ampliando o trabalho anterior de Ed Bruno, Kingsley lançou uma grande campanha de aproximação com sindicatos independentes em todo o país. Os resultados foram significativos: só em 1993, mais trabalhadores foram organizados por meio de votações de filiação ou eleições via NLRB do que em toda a década anterior.
Trabalhadores do setor público, motoristas de caminhão e mecânicos, trabalhadores portuários, de armazéns e de serviços alimentares se juntaram à UE, aumentando dramaticamente o número de membros fora do setor de manufatura. Os trabalhadores das fábricas também continuaram a ser organizados, um avanço bem-vindo após anos de declínio.
Iowa
A campanha para conquistar a filiação do grande sindicato independente Iowa United Professionals (IUP) foi essencial para abrir portas a outras unidades não tradicionais para o sindicato. Essa grande unidade estadual de trabalhadores profissionais havia votado pela filiação à UE em uma eleição de liderança em 1989, mas foi orientada a retornar à base e desenvolver um apoio real das bases para a mudança. Na primavera de 1993, tanto a IUP quanto a UE estavam prontas, e a votação massiva dos membros a favor da filiação à UE foi mais um impulso para os esforços de reconstrução do sindicato.
Kingsley relembra:
“Vencemos a votação de filiação em Iowa no meio da épica enchente de primavera, quando metade do estado estava debaixo d’água. Tivemos membros das fábricas da UE de todo o país cruzando o estado, exaltando os méritos da UE a partir da perspectiva do chão de fábrica, no meio de uma calamidade. Ganhamos votos só pela nossa determinação e vencemos com ampla maioria.”
A grande vitória em Iowa permitiu que a UE lançasse novas campanhas de organização de trabalhadores do setor público em distritos escolares e repartições dos condados, com novos sucessos. Em 1995, assistentes de ensino e pesquisa de pós-graduação da Universidade de Iowa entraram em contato com a UE, e a organizadora veterana Carol Lambiase foi encarregada de avaliar se uma campanha era viável para os 2.600 trabalhadores.
Após uma campanha enorme e sustentada, os trabalhadores da Universidade de Iowa votaram de forma esmagadora para se unir à UE em abril de 1996. Essa foi a maior vitória organizativa da UE em várias décadas, e deu ao sindicato nova energia para expandir ainda mais sua atuação organizacional. Todos na UE estavam comemorando a grande vitória em Iowa, mas uma pergunta comum era: “Me diga de novo que tipo de trabalho eles fazem?”
Novos rumos
O sucesso organizativo em Iowa, incluindo a primeira unidade de trabalhadores de pós-graduação da UE, preparou o terreno para o crescimento contínuo do sindicato no setor público, bem como em outros setores novos. Ao longo da década de 1990 e nos anos seguintes, a UE consolidou ainda mais sua presença no setor da saúde, em cooperativas alimentares, entre motoristas de vans de tripulação ferroviária e entre trabalhadores contratados pelo governo federal, tudo isso mantendo um foco realista na organização de novos membros no setor de manufatura original.
Gene Elk e Mark Meinster sucederam Kingsley como diretores de organização na última década, e cada um liderou os membros e a equipe na direção de um crescimento ainda maior em diversos setores. Ambos ajudaram a preparar o terreno para o crescimento explosivo dos últimos três anos, permitindo que o sindicato emergisse do período da pandemia fortalecido, com mais de 35.000 novos membros apenas do setor de ensino superior.
Uma renovação notável
O papel desempenhado pela UE Local 896, a Campanha para Organizar Estudantes de Pós-Graduação (COGS) — os assistentes de ensino e pesquisa da Universidade de Iowa e primeira vitória da UE nesse setor — foi pioneiro. A Local 896 construiu um sólido histórico de funcionamento democrático e baseado na base, com lutas agressivas em defesa dos interesses dos membros e oposição firme à enxurrada de ataques políticos direcionados aos funcionários públicos em Iowa por quase 30 anos.
Esse histórico é ainda mais notável dado que, pela natureza da profissão, os trabalhadores não permanecem durante toda a carreira. Cada nova geração precisa reaprender a história do sindicato e, desde o momento em que são contratados, assumir a linha de frente da local.
Teria sido inconcebível para qualquer um de nós que passou tempo na UE — no meu caso, uma carreira de 25 anos — imaginar que a Local 896 ajudaria a reacender a UE em uma escala tão extraordinária. Mas por que não?
Quando nós, que estávamos lutando com o desafio difícil — e por vezes insolúveis — de como reverter o declínio da UE e reconstruir sua base de membros, sempre acreditamos que existia uma grande parcela de trabalhadores que queria um sindicalismo real, combativo, militante e dirigido pelos próprios membros.
Aprendemos que os trabalhadores são moldados, em parte, pelo tipo de trabalho que realizam para um patrão em algum lugar. Mas, mais do que isso, os trabalhadores são moldados por um desejo não apenas por qualquer sindicato, mas por um tipo melhor de sindicato.
Os trabalhadores de linha de montagem, maquinistas, ferramenteiros e operários de fábrica da UE foram em grande parte substituídos por profissionais do ensino superior, serviço público, saúde, ferrovia, varejo e trabalhadores técnicos. Mas o sindicalismo de base continua avançando para outra geração, entregando resultados concretos e provando que o sindicalismo dirigido pelos próprios membros funciona.
A UE sustenta orgulhosamente essa bandeira, e a resposta dos trabalhadores — como as dezenas de milhares que ingressaram nas fileiras do sindicato nos últimos anos — é a prova disso. Uma saudação sindical especial é devida aos fundadores da UE, aos veteranos que mantiveram a UE ativa nos tempos mais difíceis, à atual base de membros, aos dirigentes, ativistas locais e à equipe, que continuaram a se mobilizar sob a bandeira da UE, e agora às muitas novas caras que chegam para renovar suas fileiras.
Se a UE não existisse, teria que ser inventada. Rumo à próxima etapa de crescimento — e para onde quer que ela nos leve.”
Chris Townsend foi representante da União dos Trabalhadores da Indústria Elétrica (UE) em Washington e diretor internacional de organização do sindicato Amalgamated Transit Union (ATU).
Texto traduzido do Peoples World por Luciana Cristina Ruy