Na manhã desta quarta-feira (17), após reunião com o Sinduscon-PA (sindicato patronal) que terminou sem avanços significativos, o STICMB (Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil) avançou em mais uma frente de negociação. À tarde, a mobilização resultou na assinatura de um acordo coletivo envolvendo as empresas Vila Galé, GPE Prime, Normatel e demais terceirizadas que atuam em obras ligadas à COP30.
O acordo, com validade de um ano, garante conquistas importantes na campanha salarial 2025/2026, como 9,5% de reajuste nos salários, cesta básica, PLR de R$ 378 em duas vezes, aviso prévio indenizado, dentre outras.
Os empresários estão sentindo a força da mobilização que envolve milhares de operários e está atingindo empreendimentos considerados estratégicos para a COP30, como a Vila COP, o Parque da Cidade e o complexo hoteleiro.
Para o coordenador geral do STICMB, Ailson Cunha, esse resultado é fruto da força da categoria e da organização sindical. “Essa vitória demonstra que, quando os trabalhadores cruzam os braços e o sindicato está na linha de frente, conseguimos avançar. Se a Vila Galé e as empresas terceirizadas da COP 30 puderam fechar esse acordo, as demais também terão que chegar ao mesmo patamar”, afirmou.
A greve da construção civil segue mobilizada em Belém, Ananindeua e Marituba até que todas as empresas atendam às reivindicações.
Negociação sem avanço aceitável
Na terça-feira (16), o primeiro dia de greve dos trabalhadores e trabalhadoras da construção civil de Belém, Ananindeua e Marituba no Pará foi marcado por grande mobilização da categoria, que mostrou disposição de luta para conquistar suas reivindicações. Após as paralisações dos canteiros de obras no início da manhã, uma grande assembleia decidiu pela continuidade da greve e levou mais de 1.500 trabalhadores às avenidas de Belém até chegar no Parque da Cidade, local onde se concentram as obras da COP30. Segundo o sindicato, mais de 80% das obras estão paradas.
Esta quarta-feira (17) foi mais um dia de luta, com piquetes nos canteiros de obras e passeata pelas ruas da capital paraense até a sede da Superintendência do Ministério do Trabalho e Emprego, onde ocorreu uma reunião com a presença de representantes do setor patronal. A reunião, no entanto, não promoveu avanços significativos. A proposta de reajuste subiu de 5,5% de 6% e cesta básica de R$ 120 para R$ 130.
Segundo a diretora do STICMB Daniele de Brito, os empresários têm enrolado o processo, que só avançou após a mediação do Ministério do Trabalho e Emprego. “Hoje sentaram à mesa e houve uma proposta, mas que considero uma vergonha: aumento de apenas 5,5% para 6% e cesta básica de R$ 120 para R$ 130", afirmou.
A proposta foi rejeitada em assembleia por unanimidade pela categoria.
Superexploração
Em depoimento à CSP-Conlutas, o servente de pedreiro Gilmar Piedade explicou a dificuldade de viver superexplorado e a base de "chicote" no trabalho para, ao final do mês, não conseguir pagar as contas. O salário de um servente está em torno de R$ 1.500. Muitos recebem menos do que isso.
Essa revolta é o que está movendo trabalhadores e trabalhadoras da construção civil de Belém, Ananindeua e Marituba, enquanto observam as cifras de bilhões circulando na preparação da COP30. No setor hoteleiro, por exemplo, há diarias de US$ 600, totalizando mais de R$ 3 mil o que para muitos trabalhdores são dois meses de salário.
Gilmar Piedade reclamou do salário que considera miserável. "É simplesmente um deixa lá tomar cá e é só entregar pro final do mês. Nós temos que lutar por produção e hora extra para poder se ganhar melhorzinho. Mas, infelizmente, esse sonho está muito longe da realidade", lamenta, mas com fé na força da luta.
"Nós contamos e esperamos que nesta greve nós possamos sair com uma vitória. Um salário digno, para que o trabalhador da construção civil tenha a ter condições de sustentar a sua família", salienta.
É com a crença de que a mobilização será vitoriosa que os trabalhadores da construção civil de Belém, Ananindeua e Marituba entram no terceiro dia de greve da categoria.